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Comportamento

Caderno de fiado está em R$ 8 mil e dono de bar tem fé que vai receber

Coração mole, dono de boteco no Noroeste mantém caderninho de fiado apesar das placas de 'fiado só amanhã'

Por Clayton Neves | 04/09/2025 06:41
Caderno de fiado está em R$ 8 mil e dono de bar tem fé que vai receber
Anotações de fiado ficam no balcão, sob os cuidados do comerciante. (Foto: Aletheya Alves)

No bar de Antônio de Paula Matiazzo, de 70 anos, o caderninho de fiado acaba falando mais alto do que as placas na parede. Apesar dos avisos “Fiado só no vizinho” e “Fiado é coisa de louco e aqui não é hospício”, o dono é coração mole e continua ‘pendurando’ a conta de parte da clientela. O resultado? Quase R$ 8 mil de fiado, alguns de mais de uma década.

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Antônio de Paula Matiazzo, dono de um bar tradicional no Bairro Noroeste, em Campo Grande, acumula quase R$ 8 mil em fiados, alguns com mais de uma década. Apesar das placas "Fiado só no vizinho" e "Fiado é coisa de louco e aqui não é hospício", o comerciante, de 70 anos, admite ser "coração mole" e continua fiando para alguns clientes, que muitas vezes não pagam. O bar, localizado na Rua Indianápolis, completa três décadas e preserva um "jeitão raiz", com decoração peculiar, incluindo quadros, troféus, imagens de santos e até um quadro do Flamengo, apesar de Matiazzo ser palmeirense. O estabelecimento abre diariamente às 5h30 e oferece desde doses de pinga Jamel a R$ 5 até bebidas curtidas na raiz, como guavira, fedegoso, carqueja e amburana. Matiazzo, que viu o bairro crescer ao redor de seu bar, mantém a tradição do caderninho de fiado e a esperança de receber os valores devidos. O bar se destaca pela autenticidade em meio à modernização dos estabelecimentos da cidade, oferecendo sinuca, pinga e a atmosfera acolhedora de um boteco tradicional.

“Às vezes o cara fala que está sem dinheiro, que acabou o gás e precisa comprar. Aí eu deixo, mas depois a maioria não paga. No começo pagam, depois largam. Agora tô cortando tudo”, comenta.

As contas penduradas ficam anotadas em folhas deixadas no balcão. Tem compras de R$50, R$100 e outras que passam de R$ 500. “Tem cara que deve R$ 500 reais faz quatro meses e não paga. Já cansei de cobrar. Já falei pra ele que aqui ele não vai beber mais  fiado. Sai pra lá’”, desabafa.

Caderno de fiado está em R$ 8 mil e dono de bar tem fé que vai receber
Sonho realizado de Antonio era ter bar com tudo dentro. (Foto: Aletheya Alves)

Mas, entre os devedores, também tem muita gente correta e de palavra. “Tem um rapaz que de 15 em 15 dias ele passa aqui e me paga. Nunca deixou de honrar com o compromisso dele”, afirma.

Localizado na Rua Indianápolis, no Bairro Noroeste, o bar completa três décadas como ponto de encontro da vizinhança. “Quando abriu aqui, nem asfalto tinha na rua. Vi a região toda crescer aqui em volta”, detalha.

Antônio abre o boteco de domingo a domingo sempre às 5h30 da manhã. “Abro bem cedo porque de manhã o movimento é grande. Muita gente quer tomar uma antes de pegar no batente. Só não tenho hora para fechar. Às vezes é 19h, às vezes 20h, tem dias que 22h”, destaca.

Caderno de fiado está em R$ 8 mil e dono de bar tem fé que vai receber
Pingas são carro-chefe do estabelecimento. (Foto: Aletheya Alves)

O espaço que mantém ‘jeitão raiz’, é o sonho realizado do dono, que sempre quis ter um “boteco cheio de coisas”. As paredes reúnem quadros, troféus da época em que jogava futebol, imagens de santos, berrantes, TV de tubo, brinquedos e até um quadro do Flamengo. “Achei bonito e preguei aí, mesmo sendo palmeirense”, conta.

A preferência da clientela é pela pinga. A dose de Jamel, a mais pedida, custa R$ 5. Mas quem frequenta sabe o charme das garrafas curtidas na raiz, preparadas pelo próprio dono. “Tem de guavira, fedegoso, carqueja, amburana. A de guavira é a que o povo mais gosta”, revela.

Apesar de vender pinga de todo tipo, o comerciante parou de beber há muitos anos por causa de problemas de saúde. Ele ainda ironiza. "Eu não bebo porque não quero morrer, se o povo quer morrer, deixa. Eu aviso, dou conselho, mas quer beber, bebe", vrinca.

Para completar, no bar do Antônio, todo dia é Natal. Há dez anos, ele mandou pintar nas paredes uma imagem do Papai Noel e mensagens de “Feliz Natal” e “Próspero Ano Novo” permanentes.

Assim o bar resiste com sinuca, pinga e o caderninho de fiado que ele ainda espera receber. “Um dia esse povo acerta”, finaliza.

Caderno de fiado está em R$ 8 mil e dono de bar tem fé que vai receber
Antônio vende pibga de todo o tipo, mas não bebe há anos. (Foto: Aletheya Alves)

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