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Comportamento

Cartilha inédita orienta sobre gestação de homens trans em MS

Documento surgiu a partir de inquietações pessoais e da percepção de lacunas no cuidado à saúde dessas pessoas

Por Clayton Neves | 01/07/2025 06:45
Cartilha inédita orienta sobre gestação de homens trans em MS
Luan Henriquebé um dos idealizadores da proposta que é símbolo de luta contra a transfobia.

Enquanto algumas políticas públicas avançam gradualmente à base de muito esforço coletivo, acessos indispensáveis à vida de pessoas transexuais seguem estagnados. Ir a um ginecologista ou fazer um pré-natal, por exemplo, podem até ser situações corriqueiras para pessoas cisgênero, no entanto, quando se trata de um homens trans, a realidade é árdua e repleta de constrangimentos.

Entre tantas situações que inviabilizam a existência de homens trans em Mato Grosso do Sul, uma cartilha foi lançada para resgatar a representatividade e o protagonismo dessas pessoas. A proposta é levantar, de maneira didática, temas importantes que auxiliem no combate à transfobia e na luta por acesso digno à saúde.

Intitulada “Cuidando com Respeito — Gestação de Homens Trans e Transmasculines”, a cartilha foi desenvolvida pelo Ibrat-MS (Instituto Brasileiro de Transmasculinidades no MS) com o apoio de parceiros. O documento, inédito no Estado, surgiu a partir de inquietações pessoais e da percepção de inúmeras lacunas no cuidado à saúde dessa população.

Luan Henrique da Silva Souza, assessor técnico da Subsecretaria de Políticas Públicas LGBTQIAP+ e ex-secretário do Ibrat-MS, liderou a criação do material. Homem trans, ele conta que se envolveu no tema por vivência pessoal. “Enquanto homem trans com interesse em passar pelo processo de gestação, percebi que existe uma carência enorme de informações sobre isso”, relata.

Cartilha inédita orienta sobre gestação de homens trans em MS
Com linguagem acessível, documentos lista temas importantes ao atendimento de saúde

A ideia germinou em 2023, durante um simpósio na Defensoria Pública de MS, onde o Ibrat trouxe ao Estado o pesquisador Dan Caio Lemos, autor de um artigo que compara a realidade da gestação de homens trans no Brasil e no Canadá. “Ali eu vi que o Brasil carece de dados, e que a gente precisa falar disso aqui no Estado e criar um material de base’”, explica Luan.

A cartilha foi construída em articulação com outros profissionais trans da saúde, com atuação na área de enfermagem e assistência social. “Eles deram um respaldo técnico fundamental, principalmente para garantir que fosse um material didático e correto”, afirma.

O conteúdo da cartilha é dividido em seções que explicam sobre transexualidade e transmasculinidade, como se dá a possibilidade de gestação, e cuidados essenciais durante todo o processo, desde a decisão, passando pela gestação, parto e pós-parto.

 “Temos uma explicação bem clara de que homens trans podem engravidar e que essa decisão deve ser acompanhada de perto por profissionais de saúde, sobretudo por conta das questões hormonais”, detalha.

Cartilha inédita orienta sobre gestação de homens trans em MS
Lançamento da cartilha reuniu representantes da luta por políticas públicas da comunidade LGBT+

A publicação também aborda orientações para profissionais da saúde, incentivando uma escuta ativa, o uso de linguagem inclusiva, respeito ao nome social e atenção a protocolos específicos.

“Hoje nossa realidade ainda esbarra em um sistema de saúde binário, que não foi pensado para corpos trans. Se um homem trans não tem documentação retificada, por exemplo, ele vai ser identificado no sistema como uma mulher cis. E quando é retificado, não consegue fazer um pré-natal ou fazer alguns exames porque o sistema não permite”, pontua.

Ao analisar o cenário em Mato Grosso do Sul, Luan é realista: “Ainda temos um caminho muito longo de combate à invisibilidade. Precisamos entender que existem recortes dentro dos recortes e que trans precisam de atenção específica. A cartilha é um convite para se pensar em um cuidado mais inclusivo e respeitoso”, finaliza.

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