Contêiner improvisado virou estúdio para grupo ter aula de balé no bairro
Projeto social transformou espaço em refúgio no Maria Aparecida Pedrossian

Até contêiner virou estúdio para grupo ter aula de balé no bairro Maria Aparecida Pedrossian. O espaço improvisado é mais que um lugar onde as quase 40 crianças e adolescentes aprenderam os primeiros passos da dança, mas o ambiente que usaram para se libertarem da timidez, se soltarem e se descobrirem. Para conseguir ir às aulas, os pais saem de várias regiões periféricas da cidade, uma delas é o Jardim Noroeste.
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Em Campo Grande, um projeto social transformou um contêiner em estúdio de balé no bairro Maria Aparecida Pedrossian. A iniciativa atende cerca de 40 crianças e adolescentes da periferia, que encontraram na dança uma forma de expressão e superação da timidez. O projeto Arte e Movimento, iniciado em 2022 pela professora Myla Barbosa, hoje funciona no salão da Associação de Moradores. Com mensalidades acessíveis e bolsas gratuitas, o programa acolhe alunos de diferentes regiões da cidade, incluindo imigrantes, como a venezuelana Luisana Nazarath, que encontrou na dança um meio de integração social.
Tudo começou em 2022 com o projeto social Arte e Movimento. Depois de um bom tempo, as aulas saíram do contêiner e foram para o salão da AMAPE (Associação de Moradores do Parque Residencial Maria Aparecida Pedrossian). A conquista foi comemorada pelas alunas, que detestavam a sala antiga, mas não faltavam às aulas.
Luisana Nazarath, de 13 anos, veio de longe e se sentiu realmente parte de algo quando começou a dançar. A venezuelana chegou ao Brasil com os pais em 2019 e, desde então, lutava para se encaixar e aprender a língua. A dança foi uma das ferramentas que achou para mostrar a si mesma que poderia estar onde quisesse.

“Sempre gostei de dança e comecei ano passado. Eu entrei porque já tinha tentado outro estilo, mas não tinha como ninguém me levar até lá. Aí optei pelo balé e amo fazer o que faço. Peguei um pouco das aulas no contêiner. A dança me ajuda a pensar no futuro porque teve uma parte na minha vida que eu estava meio distante e o projeto me ajudou a socializar. Eu era muito tímida, não falava com ninguém e não sabia me expressar, foi muito legal e importante para mim.”
Por falar em espanhol, Luisana sentia vergonha até nisso e vestir as sapatilhas ajudaram. Ao todo, a família é composta por cinco pessoas.
“Meu sotaque é diferente. Foi difícil nos primeiros dias, não sabia como falar e era meio frustrante. Demorou um tempo para conseguir. Era legal lá, mas teve uma época que ficou muito difícil para minha família conseguir emprego. Aqui ficou bem melhor. Consegui ter coisas e fazer coisas que lá não tinha.”
Rafaella Gois, de 11 anos, começou o balé em 2023. A prima, que também participa do grupo, espalhou que ali era um lugar acessível para fazer. Apesar de ter taxa social de R$ 60 ou R$ 70, muitos alunos têm bolsas gratuitas.
“Moro no Noroeste, por lá não tem isso. Acho que é isso que eu quero, dançar. Sinto como se fosse algo reconfortante. Acho importante ter isso porque, querendo ou não, o balé é uma coisa que desperta interesse grande e a gente consegue expressar o que a gente sente.”
Ainda tímida, ela conta que a maior dificuldade é a parte da expressão e dos saltos e que isso era ainda mais difícil no contêiner. “Era um pouco esquisito, dava a sensação que a gente ia cair.”
Quem comanda as aulas é a professora Myla Barbosa, de 59 anos. O projeto nasceu justamente da falta. Na área como professora, bailarina e coreografa há mais de 40 anos, Myla só enxergou o bairro quando se aposentou. Desde então, faz de tudo para que outras pessoas enxerguem também. Junto com as meninas, já fez inúmeras apresentações na Associação e convidou os pais para assistir.
Ela explica que muitas alunas sequer tinham ido a apresentações de dança antes de começarem as aulas e que faz parcerias com estúdios para que elas conheçam outros lugares. O transporte é na raça mesmo, como cada um pode.
“A gente fazia aula no contêiner. Tivemos muita força de vontade para que a coisa acontecesse. Aqui tem muita atividade e é difícil arrumar horário. Depois viemos para o salão. Metade das minhas alunas é do Jardim Noroeste. Elas vêm a pé, de ônibus, de bicicleta. Foi muito desgastante nos primeiros anos. A gente precisa de muita ajuda para continuar.”
Formada no método Royal e pesquisadora da expressão corporal há anos, Myla é moradora do bairro Maria Aparecida Pedrossian há 15 anos.
“Aquietei aqui, mas quem mexeu com isso a vida toda não tem como se aquietar. A arte é muito importante para a gente enquanto ser humano. O exemplo está em mim, eu sempre fiz minha arte para o Centro, em teatros. Só fui olhar para a periferia quando fiquei quieta aqui e vi que aqui não tinha nada para as pessoas.”
As mães Lucimar de Oliveira Melo e Maria Regina Dias contam que a timidez das filhas melhorou muito nos últimos anos e que elas sonham em seguir como bailarinas.
“Minha filha está no balé há três anos. Agora está em aula mais avançada, começando aulas de ponta. Moramos no bairro Vivendas do Parque. O balé a gente sabe que não é uma arte acessível para todos. Eu fico orgulhosa de poder proporcionar isso para ela. Eu não tive oportunidade e ela tem. Ela fala de seguir como bailarina, ela fala que é bailarina já”, conta Lucimar.
Confira a galeria de imagens:
Maria é mãe da Maisa da Silva, de 12 anos. Quem apresentou a dança foi a professora. Ela conta que viu a disciplina mudar e o comportamento melhorar ainda mais.
“Ela gosta muito do balé, da arte. Tem o incentivo da professora, das amiguinhas e em casa para continuar. Isso tira a criança do mundo lá fora, mostra para ela que há um outro tipo de entretenimento e cultura, que falta muito, principalmente na periferia, que é onde a gente mora.”
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