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Comportamento

Marcolina já fez parto até em trator e abriu posto de saúde na marra

Agente de saúde por mais de 36 anos, ela virou enfermeira, parteira e referência na aldeia até hoje

Por Natália Olliver e Aletheya Alves | 17/12/2025 07:56
Marcolina já fez parto até em trator e abriu posto de saúde na marra
Marcolina Vicente Kabrocha foi parteira, enfermeira e agente de saúde em aldeia (Foto: Aletheya Alves)

Marcolina Vicente Kabrocha, de 65 anos, já fez parto até dentro de um trator e abriu um posto de saúde na marra na comunidade indígena Brejão, em Nioaque. Quando a aldeia sofria com a falta de assistência e os médicos visitavam o local de 6 em 6 meses, foi ela quem salvou muita gente por lá e ajudou crianças a nascerem. Diante de um cenário precário, Marcolina foi mais do que agente de saúde (curso em que se formou); foi enfermeira e conselheira.

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Marcolina Vicente Kabrocha, 65 anos, dedicou 36 anos de sua vida como agente de saúde na comunidade indígena Brejão, em Nioaque. Em uma época de recursos escassos, quando médicos visitavam a aldeia apenas semestralmente, ela atuou como parteira e enfermeira, realizando partos até mesmo em tratores. Iniciando sua jornada aos 19 anos, em 1979, Marcolina enfrentou diversos desafios, incluindo a falta de transporte e comunicação. Sua determinação a levou a tomar iniciativas importantes, como a abertura do posto de saúde local. Hoje aposentada, ela relembra com orgulho sua contribuição para a comunidade, onde é reconhecida por todos.

Para ela, o passado foi uma conquista e os frutos são colhidos até hoje; além de ter ajudado tanta gente, ela é conhecida por todos na aldeia até hoje.

Marcolina já fez parto até em trator e abriu posto de saúde na marra
Marcolina já fez parto até em trator e abriu posto de saúde na marra
Posto de saúde da Aldeia Brejão e mulheres que Marcolina viu nascer (Foto: Aletheya Alves)

“Aqui só tinha um armário e medicação: duas seringas de vidro. Panela de pressão para esterilização. A gente tinha que fazer o trabalho a pé, não tinha condução nenhuma. Hoje estou aposentada, nossa saúde tem uma equipe dentro da comunidade, tem carro, posto de saúde. Inclusive, quando eu estava trabalhando, foi feito o posto e falaram que alguém iria inaugurar. Como ninguém veio, eu falei que iria entrar, peguei e limpei. Eu não tinha hora pra sair”.

Ela conta com orgulho as histórias do tempo de trabalho intenso na aldeia e relembra casos que marcaram a vida toda. Um deles é de um menino de 12 anos, picado por uma cobra, que ela lamenta não ter conseguido salvar. O outro, o óbito de uma indígena ainda no parto.

“Me marcou muito quando perdia uma vida e até hoje me machuca. A gente levou ele de trator para a cidade, no colo. Meu esposo era tratorista, ele pegava o trator e a gente levava os pacientes para Nioaque. A gente acompanhou pessoas com eclâmpsia. Elas grudavam no trator e a gente arrumava um colchão na plataforma dele. As gestantes iam segurando para não cair. Quando não dava tempo, a gente fazia o parto nele mesmo. Já fiz parto até dentro de caminhão”.

Marcolina já fez parto até em trator e abriu posto de saúde na marra
Hoje indígena é uma das pessoas mais respeitadas da aldeia Brejão (Foto: Aletheya Alves)

Segundo ela, quando identificava que a criança teria um parto difícil, corria para o hospital. O trator era lento, por isso, a tensão era grande.

“Quando a gente via que vinha criança com o pé primeiro, a gente tinha que se virar e ir para o hospital, porque sabíamos que era difícil. Eu agradeço a Deus porque a gente não tinha nada. Passamos por momentos muito difíceis e hoje a situação é outra”.

Marcolina conta que o trabalho não era feito só no posto, que fazia visitas constantes a todos para acompanhar como ia a saúde deles.

“Não me arrependo de nada porque quando eu comecei não tinha muita gente envolvida na comunidade. Eu tenho orgulho porque todos me conhecem, sou feliz, tenho 36 anos nessa profissão só aqui na aldeia. Fiz o parto de muitas pessoas e isso é orgulho”.

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