Da sexualidade ao suicídio, dá para falar sobre tudo com adolescentes
Escritora defende a importância do diálogo sobre assuntos delicados, mas de maneira estratégica
Falar sobre menstruação, suicídio, sexualidade ou qualquer outro tema considerado tabu não deveria ser um problema quando o assunto é adolescência. Isso é o que defendem a escritora Keka Reis, autora de livros que mergulham no universo jovem sem medo de lidar com assuntos delicados. Para ela, a questão não está no conversar, mas sim em como fazer isso.
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“Eu sou a favor de falar sobre tudo. Agora, como fazer isso tem a ver com o conhecimento que você tem do seu adolescente, do nível de maturidade dele e do quanto você consegue se expressar. Isso é particular de cada família e de cada adolescente”, explica.
A própria escritora conta que passou por uma experiência pessoal que moldou sua visão sobre o assunto. Ela descobriu já adulta que o pai havia se suicidado, informação que a família decidiu esconder por anos na tentativa de poupá-la. No entanto, segundo ela, a falta de uma conversa franca e imediata sobre o que aconteceu abriu uma ferida e um peso psicológico que veio anos depois.
“Quando aconteceu essa história do meu pai, eu fiquei me perguntando como eu diria para minha filha que tinha 7 anos. Usei um filme que ela já gostava, para traduzir algo que para mim também estava difícil”, conta. “Então eu acho que existe um como, mas ele passa por escutar de verdade o adolescente, e isso é o que está faltando”, avalia,
O episódio serviu de inspiração para o livro Medley, lançado em 2021, no qual Keka transforma a dor em literatura.
Escutar em vez de moralizar – Em tempos onde cada vez mais assuntos são vetados dos adolescentes, a escritora avalia que o grande erro de muitos adultos é ceder ao “pânico moral”. Ela cita como exemplo a reação de muitos pais diante de séries que tratam de temas pesados, como automutilação ou depressão.
“É muito fácil entrar nessa espécie de pânico moral. Mas vocês estão escutando os adolescentes de verdade? Ou só repetindo que na idade deles já trabalhavam e faziam isso ou aquilo. É preciso uma escuta atenta, não uma resposta automática”, pontua.
Para Keka, a arte é uma ponte para que adolescentes encontrem um espaço de identificação. Seja na literatura, teatro, música ou nas mais variadas expressões artísticas.
“Uma criança que mora em uma casa conservadora e descobre que é gay, por exemplo, pode assistir a uma série como Glee e ver que não é o único. Isso é libertador. A arte é uma ponte”, explica.
Além de defender o diálogo aberto com os jovens, Keka também critica a ideia de que literatura deve ser colocada em um pedestal.
“Durante muito tempo eu mesma achei que escrever um livro era algo inatingível. Isso me prejudicou. A literatura não pode ser elitizada. Todo mundo pode escrever. Esse papo de alta literatura é uma bobagem que só afasta leitores e sufoca novas vozes”, destaca.
Para ela, impor regras rígidas ou desvalorizar gêneros mais populares mina a autoestima de jovens escritores, especialmente mulheres. “Você está matando uma voz fresca que podia ser muito diferente.”
Roteirista e escritora, Keka iniciou a carreira na MTV ainda nos 90. Ela é autora de livros como O dia em que a minha vida mudou, finalista do Prêmio Jabuti, e Sozinha, vencedor do AELIJ 2023. Em 2024, o livro O dia em que minha vida mudou estreou como sério no Gloob e Globoplay.
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