Maria Clara transformou em poesia as pinturas do marido com demência
Desenhos em aquarela feitos por Luiz Eduardo em 2015 viraram poesias em livro
Mesmo diante da demência que hoje apaga memórias, a arte mantém viva a história de amor entre Maria Clara de Resende Valle, de 70 anos, e Luiz Eduardo de Resende Valle, com quem é casada há 45. Neste sábado, Maria Clara lança o livro Palavras Aquareladas, uma obra poética inspirada nas aquarelas que o marido pintou entre 2015 e 2016, antes da doença avançar.
“Foi a forma que encontrei de homenageá-lo. Cada aquarela me falava alguma coisa e eu escrevia”, resume ela.
O livro reúne poemas e reflexões divididos em três partes. O ser humano, a natureza e objetos cotidianos. “Ele pintou flores, ipês, garrafas, casas. A partir disso, escrevi de maneira simples e singela. Saiu naturalmente de mim”, diz Maria Clara.
Antes, a escritora já tinha publicado livros infantis e trabalhou como colunista no jornal Diário da Serra nos anos 1970. “Nunca fiz curso de escrita, sou economista e dei aula por 40 anos. Mas sempre escrevi, desde menina”, detalha.
A ideia do livro nasceu do carinho pelo acervo de aquarelas que Luiz Eduardo produziu durante um curso de pintura. “Na época, ele ainda conseguia se concentrar. Hoje, ele já não tem consciência das coisas por causa da demência provocada pela diabetes. Mas a arte ficou”, relata.
Casados desde 1980, os dois enfrentam juntos os desafios do envelhecimento. “Eu sou de uma geração em que casamento era para sempre. E para durar, tem que cultivar e cuidar. Um relacionamento é como uma planta, se não regar, morre. A gente precisa do outro. O ser humano só se torna humano nas relações sociais. E a família é a primeira sociedade que a gente vive”, pontua.
Além de cuidar do marido em casa, ela agora se dedica também a transformar memórias em poesia. “A arte liberta, a arte une. E esse livro é isso. É cuidado, amor, é memória transformada em palavras”, afirma.
O lançamento do livro ‘Palavras Aquareladas’ será neste sábado. A obra traz todas as aquarelas coloridas feitas por Luiz Eduardo e os textos que, segundo Maria Clara, brotaram com suavidade, quase como se tivessem vindo junto com a tinta.
“É mais um deleite meu. Um modo de eternizar esse amor e essa parceria que construímos”, finaliza.
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