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Comportamento

Maria venceu até a fúria do marido para realizar sonho de ser costureira

Ela escondia roupas debaixo da cama e trabalhava de madrugada para aprender a profissão que exerce há 32 anos

Por Natália Olliver | 03/09/2025 06:46
Maria venceu até a fúria do marido para realizar sonho de ser costureira
Maria Júlia venceu até a fúria do marido para realizar o sonho do ateliê de costura (Foto: Marcos Maluf)

Quem deixa uma peça de roupa nas mãos de Maria Júlia Borges dos Santos, de 66 anos, talvez não imagine o caminho costurado até ali. Foram pontos dados contra a vontade do marido, que não aceitava que ela trabalhasse. Hoje seu ateliê tem 32 anos e nasceu desse desafio. Entre linhas, tecidos e silêncios, já se vão quase cinco décadas de dedicação. Quase 50 anos em que a máquina virou parceira inseparável.

RESUMO

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Maria Júlia Borges dos Santos, de 66 anos, é uma costureira que superou desafios ao longo de quase 50 anos dedicados à costura. Iniciou sua trajetória em segredo, devido à desaprovação do marido, e aprendeu a costurar com uma vizinha. Após diversas dificuldades financeiras e a morte do marido, Maria abriu seu próprio ateliê, onde conquistou uma clientela fiel. Apesar das adversidades, incluindo falências e a falta de recursos, Maria perseverou e aprimorou suas habilidades. Com um forte desejo de sucesso, ela investiu em sua formação e, após abrir seu ateliê, rapidamente atraiu clientes. Sua história é marcada por resiliência e paixão pela costura, que se tornou sua verdadeira vocação.

Ela conta que nunca soube costurar, mas resolveu aprender e se encantou pela atividade. Primeiro, a tecelagem foi sua companhia por três anos. O ofício ela aprendeu com uma vizinha. Maria lembra que, para conseguir fazer as peças que chegavam, precisava esconder as roupas debaixo da cama para o marido não ver. O trabalho era feito apenas nos fins de semana, quando ele não estava.

Com o passar do tempo, o trabalho deixou marcas em seu corpo. Um dos ombros começou a ficar mais alto por causa da tecelagem. Para quem não sabe a tecelagem é uma técnica de entrelaçar fios para formar tecidos.

“A minha vizinha viu que meu trabalho era bem feitinho e me convidou. Eu não sabia nem pegar em um pontinho. Ela me ensinou a fazer gancho de calça, eu não sabia nada. Larguei a tecelagem para costurar. Olhava ela fazendo, comecei a fazer molde e comprei uma máquina. Falava para as minhas filhas não contarem para ele que eu estava trabalhando nos finais de semana.” Os trabalhos maiores eram feitos de madrugada, enquanto o marido dormia.

Maria venceu até a fúria do marido para realizar sonho de ser costureira
Maria venceu até a fúria do marido para realizar sonho de ser costureira
Costureira há quase meio século, Maria abriu próprio ateliê há 32 anos (Foto: Marcos Maluf)

Depois de aprender, Maria já se sentia pronta para desafios maiores e entrou de vez na costura sozinha, em casa. O lucro chegava a ser três vezes maior. No início, fazia de graça, apenas para ganhar experiência.  O desejo de fazer a costura vingar fez ela nunca desistir. E motivos para isso não faltaram.

“Não sabia fazer mais nada, era dona de casa. Fui trabalhar para mim e investi o que ganhei no mês em máquina. Eu trabalhava de madrugada, ficava até 3 horas. Foi assim que comecei, trabalhando de dia e de noite, mas quebrei e tive que voltar para minha vizinha.”

A queda financeira foi a primeira de três que enfrentou ao longo dos anos. Depois de treinar muito e aprender até corte e costura, ela se aventurou a vender roupas, mas a costura sempre foi o lugar seguro para voltar.

“Comecei a treinar nas máquinas da vizinha e cuidava da lojinha dela. Fui contratada como auxiliar. Eu não gostei muito de só desmanchar roupa, achava que tinha potencial para mais. Aí fui aprender a colocar zíper, nunca desisti. Me encontrei na costura. Fui fazer curso de bolso embutido, moletom e lingerie. Eu sou perfeccionista, sempre queria melhorar. Me falaram que eu seria uma ótima costureira.”

Maria venceu até a fúria do marido para realizar sonho de ser costureira
Maria venceu até a fúria do marido para realizar sonho de ser costureira
Ex-dona de casa aprendeu a costurar escondido do marido (Foto: Marcos Maluf)

A parceria com a vizinha durou 12 anos. Nesse meio tempo, o marido faleceu, ela se casou novamente e juntos montaram uma loja de roupas. Foi a segunda vez que Maria faliu.

“Fui procurar serviço de costura de novo. Achei uma senhora na antiga Furnas. Eu morava no Centenário e nem dinheiro para o passe tinha. Ela me testou muito. Mandava fazer coisas que nunca tinha feito. Mandava eu voltar no outro dia, fez isso várias vezes até se convencer de que eu precisava do trabalho.”

Nesse lugar, Maria enfrentou dificuldades como a falta de máquinas para trabalhar, mas foi ali que aprendeu a fazer consertos, ramo que segue até hoje. O contrato durou 11 meses.

Cansada de trabalhar para os outros, resolveu dar as últimas fichas para investir em um lugar próprio.

“Abri aqui com uma amiga. Hoje trabalho sozinha. Eu fico emocionada porque foi muita luta. Começamos aqui, não tinha nada. Fomos arrumando, fizemos cortina de provador. Não tinha cliente. Minha amiga estava desanimada, achava que não teria nenhum. Eu falei que tinha aberto a loja para não fechar, que iria dar certo.”

Duas semanas após abrir o ateliê, chegou um homem que deixou inúmeras peças de roupa para as amigas. Desde então, nunca mais faltaram clientes.

“Me sinto muito bem. A história com a costura foi muito sofrimento. Eu não abandonei porque não sabia fazer outra coisa. Aprendi do nada e gostei muito. Se eu faço uma coisa, para mim é 8 ou 80, tudo ou nada.”

Maria venceu até a fúria do marido para realizar sonho de ser costureira
Maria teve que vencer desaprovação do marido para conseguir fazer o que sonhava (Foto: Marcos Maluf)

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