ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
NOVEMBRO, SÁBADO  23    CAMPO GRANDE 32º

Comportamento

No Centro, caloteiro não falta e jeito é colocar esperto até para lavar banheiro

Desde esquecer o dinheiro em casa, a senha do cartão até dizer que vai pegar a carteira no carro, são desculpas que os comerciantes estão cansados de ouvir.

Kimberly Teodoro | 30/10/2018 08:12
Esquecer a carteira em casa ou ter problemas com o cartão na hora de pagar a conta é bem comum no comércio em Campo Grande (Foto: Kimberly Teodoro)
Esquecer a carteira em casa ou ter problemas com o cartão na hora de pagar a conta é bem comum no comércio em Campo Grande (Foto: Kimberly Teodoro)

Já esqueceu o dinheiro em casa ou na hora pagar o cartão de crédito simplesmente não passou? Não foi só você, e se ainda não passou por isso, provavelmente ainda vai passar. A situação é tão comum que inclusive tem gente que se aproveita disso para não pagar a conta. Os comerciantes da cidade, principalmente os mais antigos, já estão "escaldados" no assunto e provam que apesar dos pesares o melhor jeito de encarar a "cara de pau" de alguns clientes ainda é com bom humor.

Esquina da Rua 7 de Setembro com a Rua 13 de Maio, foi o local escolhido por Rosana Siqueira para abrir o bar em que trabalha com o marido, ali o movimento é intenso das 10h às 22h já há 7 anos, tempo em que a comerciante já viu e ouviu muita coisa, mais que suficiente para aprender a lidar com os caloteiros. "Já vi gente dizendo até que estava passando mal e precisava ir até a farmácia que fica atravessando a rua e já voltava, até gente que ia procurar um caixa eletrônico e nunca mais voltou", conta.

Rosana e o marido estão há 7 anos no mesmo ponto, tempo o suficiente para aprender truque dos espertinhos (Foto: Kimberly Teodoro)
Rosana e o marido estão há 7 anos no mesmo ponto, tempo o suficiente para aprender truque dos espertinhos (Foto: Kimberly Teodoro)

Algumas vezes, o cliente exige atitudes extremas. "Já teve caso em que precisamos chamar a polícia e mesmo assim o prejuízo foi de R$ 80,00. Tínhamos recém aberto o bar e uma dupla de amigos sentou aqui quase à tarde toda para beber, um deles foi embora e o outro continuou aqui até a hora de fechar. Depois de uma certa hora ele pediu a conta e depois de ver o valor, ele pediu outra cerveja para fechar e continuou fazendo isso algumas vezes, sempre que levávamos a conta, ele pedia a 'última cerveja', até que eu e meu marido começarmos a fechar as portas e ele finalmente dizer que o dinheiro estava em casa, que tinha esquecido a carteira, que a casa era na esquina e ele já voltava, mas ele já estava tão bêbado que meu marido precisou acompanhar ele até em casa, só que eles não passaram da esquina e no fim das contas não tinha dinheiro nenhum", comenta Rosana ao se lembrar da mais absurda das situações.

Mesmo com os truques dos espertinhos, Rosana conta que existem exceções e bons clientes que não só voltaram para acertar a divida como hoje são fieis aos estabelecimento, alguns dos mais antigos têm inclusive o privilégio de manter uma comanda aberta para pagar assim que o salário cai na conta, o cliente número 1 chegou a gastar R$ 500,00 em único mês.

Para diminuir o número de calotes, Rosana colocou 'regras na casa' com jeitinho e revela que o segredo é não deixar as garrafas acumularem na mesa, agora ou as pessoas já passam direto pelo caixa antes de pegar a cerveja ou acertam tudo a cada 3 ou 4 bebidas consumidas.  

Na esquina da Antônio Maria Coelho com a 14 de Julho, a administradora da Pão Brasil já sabe identificar os caloteiros "de longe" (Foto: Kimberly Teodoro)
Na esquina da Antônio Maria Coelho com a 14 de Julho, a administradora da Pão Brasil já sabe identificar os caloteiros "de longe" (Foto: Kimberly Teodoro)
Na padaria também há um arquivo com os gastos dos clientes mais antigos (Foto: Kimberly Teodoro)
Na padaria também há um arquivo com os gastos dos clientes mais antigos (Foto: Kimberly Teodoro)

O prédio cor-de-rosa na esquina da Rua Antônio Maria Coelho com a Rua 14 de Julho há 30 anos e está sob a administração da pernambucana Etileuza e do marido Antônio há 22 anos, durante esse tempo ela conta que já aprendeu a identificar as pessoas que estão realmente falando a verdade e aquelas que nunca mais vão voltar. 

Entre as desculpas a mais comum é ter deixado a carteira no hotel que fica ali perto. Tem até os alguns mais ousados que dizem frequentar a padaria todos os dias e 'só dessa vez' terem esquecido o cartão. Com tanto tempo cuidando do caixa, ela conhece bem o rosto e nome dos clientes mais antigos, mas diz não poder fazer nada contra os mentirosos.

"Quando acontece da minha máquina de cartão na funcionar ou ela esquecer o dinheiro eu anoto o nome da pessoa, tem quem peça documento de garantia ou algum objeto, mas isso é da consciência de cada um. Nunca pedi documento de ninguém, porque é uma coisa você nunca sabe quando vai precisar e pode deixar a pessoa em maus lençóis", diz. 

O caso mais absurdo foi quando um cliente pediu 3 sacolas de cerveja, disse que ia pegar a carteira no carro e ainda pediu ajuda para carregar as sacolas.  "Com a desculpa de pegar a carteira no porta-luvas, ele simplesmente entrou no carro e foi embora acelerando pela rua", diz.

Tânia é dona de uma lanchonete na esquina da Avenida Mato Grosso com a Calógeras onde a principal arma contra o calote é o bom humor (Foto: Kimberly Teodoro)
Tânia é dona de uma lanchonete na esquina da Avenida Mato Grosso com a Calógeras onde a principal arma contra o calote é o bom humor (Foto: Kimberly Teodoro)

Tânia Figueiredo abriu a lanchonete na da Rua 14 de Julho com a Avenida Mato Grosso há 4 anos, a comerciante leva no bom humor as desculpas para pagar a conta, afinal nem sempre é conversa furada, a gentileza nessas horas normalmente tem como consequência um cliente que volta mais vezes e acaba ficando. 

Com o entra e sai de gente todos os dias, as histórias são as mais diversas, e o cartão não passar por problemas na máquina ou no bolso do cliente é uma situação comum, por isso ela mantém anotado em uma caderno a "fatura" tanto de quem passa por ali todos os dias, quanto de quem teve um imprevisto, ela conta que até hoje a maioria das pessoas voltou para fechar a conta.

Para ajudar a solucionar a questão, Tânia diversifica a forma de pagamento "Aqui pode pendurar a conta e voltar depois ou pode ficar e ajudar a lavar a louça ou o banheiro, a escolha é do cliente. Não vou negar comida, até porque não é uma coisa que a pessoa possa devolver".

Curta o Lado B no FacebookInstagram.

Nos siga no Google Notícias