Religiões 'demonizadas' revelam projeto de exclusão, avalia Luiz Simas
Escritor, pesquisador e historiador carioca fez palestra para auditório lotado na Bienal Pantanal
Para o escritor e historiador Luiz Antônio Simas, pensar religião no Brasil é também pensar cultura. “Cultura é o conjunto de elementos que determinados grupos usam para reconstruir o seu sentido de vida. As maneiras como você brinca, como você ama, como você reza, como você lamenta os seus mortos e celebra os seus vivos, isso tudo pertence ao campo da cultura”, explica o pesquisador carioca que fez palestra em Campo Grande durante a Bienal Pantanal, neste sábado (4).
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Nesse contexto, as religiões se tornam um campo fértil para refletir sobre os encontros e choques que marcam a formação do país. Mas, como ele lembra, nem todas são vistas da mesma forma. “Falando explicitamente, os sistemas de crença 'demonizados' são aqueles que não são brancos. Isso envolve religião, envolve filosofias, cosmogonias, epistemologias, ontologias. É um processo de desqualificação cujo fundamento, para mim, é o racismo”, comenta o escritor.
O autor de Coisas Nossas lembra que até a forma de nomear as práticas já revela desigualdade. “Quando você fala de religiões afro-brasileiras, já tem um detalhe curioso, porque ninguém fala de religiões euro-brasileiras. Alguém chama o cristianismo de religião euro-brasileira? Não chama, né?”, provoca.
A história de sua própria família ajuda a ilustrar o cenário. A avó de Simas, branca, se iniciou no candomblé ainda adolescente em Recife, no conhecido terreiro de Pai Adão. Décadas depois, abriu uma casa religiosa na Baixada Fluminense, em Nova Iguaçu, onde o escritor foi criado.
“É um terreiro que existe até hoje, desde 1963. Mas esse processo mudou muito. Hoje essas casas são muito acossadas por algumas designações cristãs que apostam na demonização mesmo. Então eu diria que é difícil ser otimista”, revela.
Apesar disso, ele cita uma frase de Antonio Gramsci para explicar sua postura diante da intolerância. “Você é um pessimista na análise, mas tem que ser um otimista na ação. A gente não faz as coisas porque acha que vai triunfar. Em geral, não vai. Mas você faz porque é necessário”, afirma.
Para Simas, compreender o preconceito religioso exige voltar à própria formação do Brasil, marcada por genocídio indígena, escravidão e a tentativa de silenciamento de saberes não brancos.
“O Brasil historicamente é um Estado-nação que opera na dimensão do preconceito, da intolerância, do racismo religioso. Isso não é novidade. A exclusão foi um projeto de Estado. Mas aqueles que foram excluídos criaram suas maneiras de interagir com a terra e com a vida. Essa é a marca mais evidente e mais forte”, finaliza.
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