ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
NOVEMBRO, DOMINGO  24    CAMPO GRANDE 23º

Faz Bem!

Depois de 26 horas de trabalho de parto e sem anestesia, nasce o "milagre" Davi

Paula Maciulevicius | 23/01/2015 06:45
Anna e médica Paula Lidiane ainda nos momentos iniciais do trabalho de parto. (Foto: Arquivo Pessoal)
Anna e médica Paula Lidiane ainda nos momentos iniciais do trabalho de parto. (Foto: Arquivo Pessoal)

Anna Isadora Pissini Tristão tem 24 anos e há pouco mais de um mês carrega nos braços o "milagre" Davi. Formada em Direito, ao lado do marido Allan, a mãe viveu 26 horas de trabalho de parto, 4h30 de trabalho ativo e deu à luz sem anestesia, da maneira como sempre sonhou e planejou. Ao Lado B, aos amigos e familiares, Anna relatou sobre o dia mais feliz e emocionante de sua vida: 20 de dezembro de 2014.

Depois de chegar até a 40ª semana sem nenhum sinal de trabalho de parto, a futura mamãe foi para a maternidade Cândido Mariano. 

"No dia 19, às 17:30, fomos para a maternidade para começar a indução do TP. Muito ansiosos, felizes e com muitas expectativas. Chegamos e a minha médica já estava lá. Quem a conhece, sabe que não existe médica igual no mundo. Desde a primeira consulta, tivemos certeza que queríamos que ela assistisse nosso parto. Ela explica tuuudo, tira todas as dúvidas, se precisar fica horas na consulta. Dra. Paula até levou lanchinho pra mim e pro Allan (que médico faz isso???). Fizemos uma cardiotocografia e ela inseriu um comprimido de misoprostol. Assim começou a indução", descreve.

A irmã que ficou na sala de parto. (Foto: Arquivo Pessoal)
A irmã que ficou na sala de parto. (Foto: Arquivo Pessoal)

A noite toda seguiu sem nenhum sinal de trabalho de parto. À 1h da manhã, Anna estava com 1cm de dilatação. As horas iam passando e as contrações aumentando, mas ainda sem dor. "Fiquei até animada, achando que meu TP seria tranquilo (coitada de mim). Às 6h, dra. Paula voltou e me examinou novamente. Estava com 2cm de dilatação mas com o colo ainda grosso. Decidimos iniciar indução com ocitocina, mas bem leve", conta. 

Ao longo da manhã apareceram algumas contrações com cólica, foi quando Anna passou a caminhar nos corredores da maternidade Cândido Mariano, para começar a estimular o parto. "Depois do almoço as contrações já vinham bem doloridas (mas sem ritmo) e eu chamei minha doula, a Tati, que apareceu com todo seu arsenal: bola, banqueta, oleos, etc. Mas foi só ela chegar que as contrações sumiram", brinca.

A cada avaliação da médica, Anna Isadora conta que ficava mais desanimada, porque o trabalho de parto parecia não evoluir. Às 4h da tarde do dia seguinte à internação, ela só estava com 2-3cm de dilatação e colo afinando. Foi quando elas decidiram romper a bolsa.

"Estava deitada na cama e fomos inundados com litros da água quentinha que cercava o Davi. Foi bem emocionante! Mas nem pude aproveitar o momento. Imediatamente começaram as contrações BEM fortes e ritmadas. Fui pro chuveiro quente com a bola e com o Allan, que se alternava com a minha mãe pressionando minha lombar (que doía MUITO)".

As massagens da doula aliviavam um pouco a dor, que misturada à ansiedade, fizeram com que a mãe não visse o tempo passar. "Senti MUITA dor. Fiquei bastante no chuveiro, a água quente aliviava, mas cheguei a vomitar algumas vezes por causa da intensidade da dor, e acabamos saindo do chuveiro".

Deitada na cama, a mãe relata que já se sentia na famosa "Partolândia". " Eu não falava nada com nada. Só queria ficar abraçada no Allan, só via ele na minha frente. Parecia que só existia ele no mundo. Apertava a mão dele, mordia seus ombros, chorava no colo dele. Chorei tanto que não tinha mais lágrimas", recorda. 

Ouvindo os batimentos do bebê. (Foto: Arquivo Pessoal)
Ouvindo os batimentos do bebê. (Foto: Arquivo Pessoal)

"Pedi anestesia. Implorei por anestesia. A cada contração. Fiz drama. E pedi de novo. E de novo. Mas não tive. Era o combinado. A gravidez toda falei pra minha família que se eu pedisse anestesia durante o TP, não era pra me dar. E foram todos firmes! Minha mãe não conseguiu assistir muito, saía toda hora do quarto. Mas o Allan e a Chlo (a irmã) foram firmes e ficaram ao meu lado segurando a barra. Meus anestesistas foram o Allan e a Tati. Os melhores do mundo!

Já estava exausta, deprimida e cansada. A Tati e a Paula tentavam me convencer a andar ou levantar da cama, mas eu não conseguia. Só queria ficar aninhada! Foi quando a Paula fez o último exame de toque: 9-10cm e colo apagado. Subitamente me enchi de esperança, rs. Prepararam tudo pra descermos pra Sala de Parto e fomos. O Allan foi me empurrando na cadeira de rodas. Foi aí que experimentei a maravilhosa sensação de não estar deitada durante as contrações. Parecia que estava voando!!!

Chegamos na sala de parto e eu já estava com vontade de fazer força. Pedi pra ficar sentada de alguma forma, e a Tati e a Paula arrumaram a banqueta em cima da cama e colocaram a barra pra eu usar de suporte", descreve.

 Davi nasceu com saúde, com 3,678 quilos, 52cm e covinhas iguais às do papai. (Foto: Arquivo Pessoal)
Davi nasceu com saúde, com 3,678 quilos, 52cm e covinhas iguais às do papai. (Foto: Arquivo Pessoal)

A médica Paula Lidiane conseguiu que a mãe e a irmã de Anna entrassem na sala de parto, o sonho da família. "Fiquei cercada de amor enquanto recebia meu maior presente. Durante o período expulsivo, eu estava revigorada. Sentia muita força dentro de mim. Fazia orações silenciosas pedindo pra Deus segurar a minha mão, pra eu não me sentir sozinha. E assim foi. Senti todo o cuidado de Deus enquanto fazia a maior força que já fiz na vida.

E o Allan? O que dizer dele? Ficou do meu lado todo instante. Não saiu nem por um segundo. Nem durante os meus dramas. Ficou me abraçando e falando no meu ouvido: “Você consegue amor, não desanima!” “Nosso neném está chegando amor, não desiste!” “Você é forte, Anna! Vai conseguir!”. Eu tenho certeza que não teria conseguido sem ele. Meu parceiro! Tenho certeza absoluta que sentiu cada contração comigo!

O período expulsivo durou 30 minutos. Sentia muita sede, ganhava água da Tati querida. Não consigo descrever a intensidade da força que eu fiz! Muita força!

Quando o Davi começou a coroar, senti a cabecinha dele com a mão. Senti mais ânimo ainda, estava funcionando! Eu achei que o Allan não ia querer/aguentar olhar tudo, mas ele viu cada detalhe. E depois vi pelas fotos e vídeos que ele tava sorria muito. Achando tudo lindo! Fofo!"

Depois de meia hora de muita força e queimação, às 20:14 foi a última força. Nasceu. O pai pegou o bebê, colocou na barriga da mãe e pronto. Era o que bastava para que a dor perdesse a vez para a felicidade.

"Que emoção! Todo branquinho de vernix e sujinho de sangue. Meu filho. Valeu cada dor, cada contração, cada força. Nessa hora eu fui inundada pelos hormônios do amor, fiquei boba. Nem percebi que ele não chorou", relata Anna.

Ao nascer, Davi teve uma Taquipnéia Transitória de recém nascido e teve de ficar em observação. Não pode subir para o quarto com a mãe. "Acho que aqui ainda estava meio “ocitocinada”, porque não chorei e não me desesperei. Mantive a calma. Saí da maca e já consegui tomar banho em pé. Sentia só um pouco de tontura. Vesti uma roupa e fui andando ver meu bebê. As maravilhas do Parto Normal. Se tivesse feito cesárea, só conseguiria ver o Davi no outro dia, porque não poderia levantar. Só por isso o parto normal já valeu a pena!", compara. 

Na manhã seguinte do nascimento, Davi já subiu para o quarto e a família pode conhecê-lo de verdade, pegá-lo no colo e sentir o cheirinho dele, que segundo a mãe, é o mais gostoso desse mundo.

Na consulta da mamãe, Davi e a médica. (Foto: Arquivo Pessoal)
Na consulta da mamãe, Davi e a médica. (Foto: Arquivo Pessoal)

"Eu planejei muitas coisas pra esse parto. Não sei porque, mas SEMPRE quis ter parto normal. Encontrei uma médica humanizada maravilhosa, que respeitou minhas vontades e me incentivou. Encontrei uma doula querida e que foi fundamental no meu TP. Falei tanto sobre parto que o Allan aprendeu tudo.

Convenci e fiz minha família toda entrar na onda. Planejei um parto sem intervenções, sem indução. Planejei que o Davi mamaria nos primeiros minutos de vida e que só cortaríamos o cordão quando a placenta parasse de pulsar. Planejei que ele não seria aspirado. Planejei ir pra casa no dia seguinte.

Não foi bem assim… Tivemos que induzir meu parto, o que fez com que as contrações fossem ainda mais doloridas. O Davi teve que ser atendido, não ficou no meu colo nem 60 segundos. Aspiraram ele duas vezes pra fazer ele respirar. Fomos pra casa dois dias depois e com a condição de continuar com a medicação dele. Mas foi tudo tão maravilhoso! Tudo encaminhado por Deus! Acho que esse é o maior plano: deixar Deus agir de acordo com o plano DELE.

Davi nasceu com saúde, com 3,678 quilos, 52cm e covinhas iguais às do papai. Parí na posição que eu quis, fiz força na hora que eu quis e não fizeram episiotomia em mim. Tive meu sonhado parto normal respeitado, aguentei as dores e hoje me sinto muito mais forte. Respeitaram as minhas vontades e o meu corpo.

No dia 22, na segunda-feira, depois de mais alguns exames e avaliações, Davi finalmente teve alta. Fomos pra casa pisando nas nuvens e começou, de verdade, a maior aventura das nossas vidas. Somos pais. Nasceu nosso milagre Davi!".

Nos siga no Google Notícias