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Meio Ambiente

Ambientalista critica "BBB" que põe fazendeiro no "paredão" das queimadas

Marta Ferreira | 08/04/2021 18:27
Fazenda abandonada no Pantanal, em região que no ano passado teve focos grandiosos de incêndios na vegetação. (Foto: Divulgação)
Fazenda abandonada no Pantanal, em região que no ano passado teve focos grandiosos de incêndios na vegetação. (Foto: Divulgação)

Usando metáfora contemporânea, o presidente do IHP (Instituto Homem Pantaneiro), Angelo Rabelo, fez contraponto nesta quinta-feira (8) a estudo divulgado pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), nesta semana, segundo o qual a maior parte do fogo que dizimou parte da vegetação pantaneira em 2020 foi obra da ação humana, ocorrida em propriedades rurais.

“Não se pode fazer uma espécie de BBB, em que os proprietários rurais são colocados no paredão”, afirmou ao Campo Grande News, em alusão ao programa televisivo, atualmente no ar em sua 21ª edição, com um grupo de pessoas confinadas e o público escolhendo quem fica por meio do voto.

Rabelo traduz o “BBB” como o uso apenas do sistema estático de georreferenciamento para procurar culpados pelos incêndios. Para ele, é preciso estudo de campo e, notadamente, inclusão dos proprietários de terras na região em qualquer ação de preservação a se fazer.

Em sua fala, ele defende a tese do “boi bombeiro”, polêmica criada pela voz nacional da ministra Tereza Cristina (Pecuária e Abastecimento), ao apontar a presença do gado como benéfica para a região do Pantanal. “A ministra usou uma força de expressão, mas a história é muito clara: a presença do gado, a pecuária extensiva tem a ver com a sustentabilidade”.

 “O gado cumpre um papel importante no controle de biomassa”, diz. Isso porque, conforme essa leitura,  animal come o pasto e isso evita material seco, onde uma faísca pode se transformar em incêndio.

"A motivação é clara pra mim no sentido de que esse binômio homem natureza se traduz em conservação",  entende o ambientalista.

Nas palavras dele, o esquema de preservação da região precisa incluir os proprietários de terras. Rabelo cita que só há a preservação encontrada até hoje na região justamente por causa da história de ocupação pelo “homem pantaneiro”, que dá o nome à entidade presidida pelo coronel da reserva.

Outra defesa feita por ele, que também passa pela inclusão, e não exclusão, do pessoal das fazendas nas ações de conservação, é resgatar o que foi feito para acabar com a caça de jacarés no Pantanal. Parte ativa desse processo, até com um ferimento a tiro no ombro em meio às ações, o militar de carreira lembra que só “deu certo” com a participação dos proprietários rurais.

Segundo ele, é assim que é tocado também programa para preservar a onça-pintada e ainda a araza-azul.

Sobre o estudo do MPMS apontar a maior parte dos incêndios em fazendas, por meio da ação humana, o presidente do IHP argumenta que na planície pantaneira, “tudo é fazenda”.

“Apenas 5% são áreas de proteção ambiental”, pontua.

Ele anotou, na entrevista, que o trabalho do MPMS é importante, e por isso mesmo deve abarcar outras variantes para a causa dos incêndios e no planejamento para não acontecer novamente da mesma forma de 2020.

Aponta outras causas como provocadoras do desastre ambiental. Uma delas, afirma, é que muitos dos focos aconteceram justamente em fazendas abandonadas, inclusive por não terem se viabilizado economicamente.

Tuiuiú em área assoreada do Rio Taquari, desastre ambiental que piorou situação das queimadas em 2020. (Foto: Marcos Maluf)
Tuiuiú em área assoreada do Rio Taquari, desastre ambiental que piorou situação das queimadas em 2020. (Foto: Marcos Maluf)

Outra parte, acrescenta, se deveu ao evento climático incomum. Para Rabelo, existe ainda um outro motivo do quadro registrado no ano passado. É o problema ambiental histórico no Rio Taquari, assoreado ao longo das últimas décadas, sem quem ação efetiva corrija a situação.

Por fim, Rabelo reforça a necessidade de ter o produtor como parceiro, e não estigmatizado como responsável pelo problema sozinho. “O esforço de buscar identificar modelo de gestão, só terá sentido, se você tiver de fato como aliado, o proprietário rural, e não submetido ao regramento pautado pelo medo”, afirma.

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