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Meio Ambiente

Com chuva abaixo da média, queimada no Pantanal aumentou 898% este ano

Especialistas alertam para a possibilidade de incêndios catastróficos, similar à 2020, que devastou o bioma

Por Jhefferson Gamarra | 03/06/2024 15:22
Corpo de Bombeiros combatendo incêncio na região do Abobral (Foto: Divulgação/CBMMS)
Corpo de Bombeiros combatendo incêncio na região do Abobral (Foto: Divulgação/CBMMS)

Nos primeiros cinco meses de 2024, o Pantanal já acumula 880 focos de queimadas, um aumento alarmante de 898% em comparação ao mesmo período de 2023, quando foram registrados apenas 90 focos. O número é 253% maior que a média dos três anos anteriores (2021 a 2023), que foi de 255 focos. Segundo dados do Programa Queimadas do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o acumulado deste ano é o segundo maior nos últimos 15 anos, ficando atrás apenas de 2020, quando foram contabilizados 2.128 focos.

Com alta incidência de queimadas, especialistas alertam para a possibilidade de uma nova temporada de incêndios no Pantanal, similar à de 2020, que devastou 30% das áreas naturais do bioma. “Em 2020, tivemos aquele fogo catastrófico e as análises atuais mostram que os números de 2024 estão muito parecidos com os que tínhamos naquele ano. Felizmente, todos os setores e a sociedade pantaneira estão alertas porque têm consciência de que se nada for feito, há possibilidade da repetição de grandes incêndios. É preciso atuar rapidamente reforçando as brigadas e contando com o apoio das comunidades locais para evitar uma catástrofe”, afirmou Cyntia Santos, analista de conservação do WWF-Brasil.

A seca severa, provocada pelo forte El Niño de 2023, tem sido um dos principais fatores para o aumento das queimadas. Desde o fim do ano passado, as chuvas têm ficado abaixo das médias históricas, e a pouca quantidade de água acumulada no território, atrelada ao acúmulo de matéria orgânica seca, características dos solos pantaneiros, pioram a situação.

O Serviço Geológico Brasileiro reportou que o Rio Paraguai, principal da região, apresenta os menores níveis históricos. Em Porto Murtinho, por exemplo, a altura do rio se manteve abaixo de 250 cm desde o início do ano, enquanto a altura normal costuma ser entre 250 e 550 cm no período.

“Os rios estão com baixos níveis em diversas partes do bioma e há previsão de que o Rio Paraguai se mantenha esse ano dentro dos níveis mais baixos da história”, declarou Cynthia Santos. Com base nesses dados alarmantes, o governo do Mato Grosso do Sul decretou situação de emergência ambiental no dia 9 de abril, por 180 dias. No início de maio, a ANA (Agência Nacional de Águas) avaliou que os estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso já estavam em situação de seca, declarando situação de escassez hídrica iminente na região devido à falta de chuvas e temperaturas acima da média histórica na Bacia do Alto Paraguai.

A temporada de incêndios no Pantanal tradicionalmente se concentra entre agosto e outubro, com um pico em setembro, e a atual situação aumenta a preocupação com os meses mais críticos que estão por vir. Só em maio de 2024, foram registrados 246 focos de queimadas no bioma, em comparação com 33 em maio de 2023.

Mato Grosso do Sul possui uma legislação que estabelece instruções para as práticas de MIF (Manejo Integrado do Fogo), que é essencial para evitar grandes incêndios no Pantanal. “Essa lei traz a criação de um fundo que também visa projetos de Pagamento por Serviço Ambiental, que permitem que proprietários façam o manejo das pastagens e a prevenção de incêndios, promovendo melhorias no manejo de pastagens, garantindo a sustentabilidade da convivência harmônica entre seres humanos, criação bovina e manutenção da biodiversidade”, explicou Cyntia.

Amazônia e Cerrado também enfrentam aumentos significativos nas queimadas. Na Amazônia, foram registrados 10.647 focos entre janeiro e maio de 2024, um aumento de 107% em comparação aos cinco primeiros meses de 2023 (5.103 focos) e um número 131% superior à média dos três anos anteriores (4.580 focos). Roraima e Mato Grosso concentram as queimadas na Amazônia em 2024, com 43% (4.623 focos) e 36% (3.829 focos) do total, respectivamente. O Pará responde por 12% (1.269 focos). Em maio, foram registrados 1.670 focos na Amazônia, sendo quase 78% em Mato Grosso (1.309).

No Cerrado, foram registrados 8.012 focos nos primeiros cinco meses do ano, um aumento de 37% em comparação ao mesmo período em 2023 (5.850 focos) e 35% superior à média dos três anos anteriores (5.956 focos). Daniel Silva, especialista em conservação do WWF-Brasil, destacou a interdependência dos biomas brasileiros e a necessidade de políticas consistentes para sua conservação.

“Os biomas brasileiros estão conectados, por exemplo, pela água. E isso significa que são também interdependentes quando se trata das consequências da crise climática. Assim, a conversão e o desmatamento do Cerrado geram desequilíbrios para a Amazônia e o Pantanal, afeta a disponibilidade hídrica em outros ecossistemas, contribui para secas, aumento das queimadas, ondas de calor e até tempestades, como as que afetaram o Rio Grande do Sul”, disse.

O WWF-Brasil tem trabalhado no combate ao fogo nos biomas brasileiros, focando no apoio a parceiros locais para a formação, o treinamento e fornecimento de equipamentos a brigadas comunitárias. A atuação do WWF-Brasil também envolve apoio para sensibilização, educação ambiental e outras questões relacionadas à prevenção. “Por isso, não adianta conservar só um bioma, precisamos ter políticas consistentes para diferentes áreas do país. E, no Brasil, barrar o desmatamento é o ponto mais importante para evitar efeitos ainda mais severos da crise climática”, concluiu Daniel Silva.

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