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Meio Ambiente

Com custo de R$ 50 mil, peixes têm “mimos” à espera do Aquário

Aline dos Santos | 08/07/2016 15:46
Depois de mortandade, peixes ganharam melhores condições de infraestrutura. (Foto: Alcides Neto)
Depois de mortandade, peixes ganharam melhores condições de infraestrutura. (Foto: Alcides Neto)
" Aqui não tem problema, pode esperar o tempo  que for, que estarão em perfeitas condições", afirma Heriberto.(Foto: Alcides Neto)
" Aqui não tem problema, pode esperar o tempo que for, que estarão em perfeitas condições", afirma Heriberto.(Foto: Alcides Neto)
Vander destaca que Aquário vai mostrar diversidade do Pantanal. (Foto: Alcides Neto)
Vander destaca que Aquário vai mostrar diversidade do Pantanal. (Foto: Alcides Neto)

A “quarentena” dos peixes que vão povoar o Aquário do Pantanal deixou para trás o histórico de mortandade em massa e de infraestrutura precária.

O novo cenário inclui reprodução “surpresa” de espécies, água filtrada, aquecida e desvelo.

Contudo, o bem-estar dos 7.200 peixes, divididos em 160 espécies, tem seu custo: R$ 50 mil por mês. A última previsão é de que o aquário seja entregue em junho de 2017.

A saga dos peixes começou ainda no último trimestre de 2014, quando os animais começaram a chegar para um período de adaptação e cuidados.

Conforme o nome, a proposta era de que eles ficassem na estrutura por até 40 dias, contudo, já se preparam para completar dois anos nos galpões na PMA (Policia Militar Ambiental), em Campo Grande.

Enquanto a sexta-feira (dia 8), registrava 14º C pela manhã, o clima nos aquários e tanques era de verão.

Nos 75 aquários de vidro, onde ficam os menores peixes, a temperatura é controlada por termostato.

Típico da Amazônia, dois acarás-disco, separados para reprodução, nadam em águas com temperatura de 30ºC.

O aquário tem enriquecimento ambiental, uma cenografia escolhida conforme o “gosto” dos animais.

No tanque do amor, um cano serve para que a fêmea faça a desova. “Essa é uma espécie que cuida dos filhotes. Os acarás são mais evoluídos nesse sentido, eles têm o cuidado parental”, afirma o biólogo Heriberto Gimenes Júnior, responsável pela área técnica.

Em outro aquário, peixes vivem em águas escuras. “A água tem tanino, elemento que as folhas liberam, para ficar amarronzada. São peixes que se confundem com o ambiente”, explica o biólogo.

Já o pintado leucístico tem hábito noturno. Então, o tanque com três mil litros de água só é destampado à noite. Nessa espécie, o peixe, uma das belezas do Pantanal, muda de cor: de branco a escuro.

Galpões do projeto quarentena ficam no Parque das Nações. (Foto: Alcides Neto)
Galpões do projeto quarentena ficam no Parque das Nações. (Foto: Alcides Neto)
Pintado tem hábito noturno e muda de cor: vai do branco ao escuro. (Foto: Alcides Neto)
Pintado tem hábito noturno e muda de cor: vai do branco ao escuro. (Foto: Alcides Neto)
Arraia vem até borda do tanque e toca mão de biólogo. (Foto: Alcides Neto)
Arraia vem até borda do tanque e toca mão de biólogo. (Foto: Alcides Neto)

Para que o cascudo se sinta em casa, um tanque reproduz o pulso de um rio amazônico. A estrutura, uma espécie de pequeno escorregador, simula corredeira quando se abaixa o nível da água.

Já peixes de piracema, como dourado e pacu, não têm a mesma sorte. Pois não há como reproduzir a forte corredeira.

O maior tanque tem 17 mil litros de água e abriga 45 peixes, como pintados e dourado. Ao todo, a estrutura tem um tanque de 17 mil litros, oito caixas de seis mil litros, 43 tanques de três mil litros e 75 aquários de vidro. O maior morador é o pintado e o menor, o candiru.

A água vem de poço artesiano e passa por três aquecedores para mantes temperatura média de 28ºC nos tanques maiores. O som constante é de cachoeira, fruto do sistema de filtragem, o liquido entra e sai de forma contínua.

Surpresa – Em meio à clara falta de planejamento, já que foram coletados antes de o Aquário do Pantanal ficar pronto, a “quarentena” tem surpresas.

Como o primeiro registro no Brasil de reprodução do lambari do campo. Por lá, ao todo, 26 espécies se reproduziram. Um deles é a espécie Mato Grosso, um lambari vermelho.

Também nasceram no endereço provisório quatro arraias. A mamãe já chegou grávida à quarentena. Ela divide tanque com outra arraia, que deixa o fundo do tanque e vem para borda ao chamado da mão do biólogo. Já quem adoece vai para o aquário hospital, que tinha dois pacientes nesta sexta-feira.

“A quarentena segue protocolo internacional. Que define a quantidade de peixe por tanque, tipo de ração, divisão das espécies. Aqui não tem problema, pode esperar o tempo que for, que estarão em perfeitas condições”, afirma Heriberto.

Entre junho de 2014 e junho de 2015, o projeto dos peixes era gerido pela empresa Anambi (Análise Ambiental Ltda). O valor do contrato com o governo era de R$ 5,3 milhões.

Após mortandade, o Imasul (Instituto de Meio Ambiente) assumiu o serviço e instalou a infraestrutura, como filtros e termostato. A empresa foi notificada a devolver R$ 2 milhões.

Em setembro do ano passado, levantamento do MPE (Ministério Público do Estado) apontou que 6.111 animais entre os 19.713 coletados morreram, o que representa 31% do total. No último ano, a perda foi de 300 animais. Quando o Imasul assumiu eram 7.500 peixes.

Quarentena começou em 2014 e  tem 7.200 peixes. (Foto: Alcides Neto)
Quarentena começou em 2014 e tem 7.200 peixes. (Foto: Alcides Neto)

“Se a gente pensar, em um ano teve morte de 300 indivíduos, não é nem um peixe por dia. Isso é muito gratificante porque aqui a nossa taxa é muito reduzida”, explica o biólogo.

Conforme a Semade (Secretaria Estadual de Meio Ambiente), o custo para a manutenção dos peixes na quarentena, somando as despesas com funcionários, alimentação e a conservação da estrutura, varia entre R$ 40 mil e R$ 50 mil por mês.

A equipe tem 17 pessoas, com formação em biologia, médico veterinário, químico e zootecnista.

Os peixes do projeto e o Aquário do Pantanal ficam no Parque das Nações. Mas só devem se encontrar quando a obra, que ultrapassa R$ 230 milhões ficar pronto. Por enquanto, o aquário tem apenas lambaris, responsáveis pelo controle de larva na água.

“O interessante do aquário é que ele vai mostrar um universo de peixes que as pessoas vão uma vez à outra na beira do rio nunca vão ver. São peixes que estão na natureza, no Pantanal”, afirma o gerente de Recursos Pesqueiros e Fauna do Imasul, Vander Melquíades Fabrício.

A obra, iniciada em 2011 no governo André Puccinelli (PMDB), que já custou mais de R$ 230 milhões e tem sucessivas dilatações de prazo para entrega, foi projetada para 260 espécies.

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