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Meio Ambiente

Comunidade denuncia Vale por assorear rios, envenenar água e espalhar pó tóxico

Moradores falam de metais pesados no abastecimento e poeira de estradas que agravam a saúde

Por Ângela Kempfer | 30/07/2025 13:17
Comunidade denuncia Vale por assorear rios, envenenar água e espalhar pó tóxico
Régua mede a quantidade de dejetos da mineração que assoreou córregos da região (Foto: Reprodução)

Morador do Assentamento Taquaral, na zona rural de Corumbá, entrou com ação judicial contra a mineradora Vale, o Município de Corumbá e o IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), denunciando um cenário que ele define como de abandono ambiental e sanitário. A petição, repleta de laudos, registros fotográficos e relatos, afirma que a comunidade foi exposta por anos à contaminação da água, do ar e do solo, devido à exploração de minério de ferro e manganês no Maciço do Urucum.

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Morador do Assentamento Taquaral, em Corumbá, move ação judicial contra a Vale, a Prefeitura Municipal e o IBAMA por contaminação ambiental. A denúncia aponta níveis alarmantes de metais pesados na água fornecida à comunidade, com concentrações até 61 vezes acima do permitido para alumínio. O processo, que possui 1.597 páginas de documentação, foi anexado a outras denúncias similares na 3ª Vara Cível de Corumbá. Entre as irregularidades apontadas está o uso de rejeitos de mineração no revestimento de estradas e a contaminação de córregos e lençóis freáticos, afetando diretamente a saúde dos moradores e a produção agrícola local.

Por decisão da Justiça, o caso foi anexado a uma ação principal já em andamento na 3ª Vara Cível de Corumbá, que reúne outras denúncias semelhantes de moradores da mesma região. A unificação dos processos ocorre porque há os mesmos réus, os mesmos pedidos e os mesmos indícios de contaminação ambiental causados pela mineração no Urucum.

Na denúncia de 1.597 páginas, dezenas de fotos foram anexadas mostrando os estragos na região, entre elas, a de uma régua que mede 20 centímetros de dejetos que assorearam o córrego.

O ponto central da denúncia é a contaminação da água fornecida à comunidade. Análises laboratoriais anexadas à denúncia indicam que a água está carregada de metais pesados em níveis altíssimos, com destaque para alumínio (61 vezes acima do limite permitido), ferro (11 vezes acima do máximo legal), manganês (4 vezes além do permitido) e cádmio (10 vezes acima do padrão seguro).

A água em questão é captada no Córrego São Gabriel e distribuída aos moradores do assentamento por meio de caixas d'água instaladas pela própria Vale. No entanto, o morador afirma que o fornecimento não apenas é insuficiente, como também representa risco à saúde humana, já que os metais presentes estão associados a problemas neurológicos, respiratórios, reprodutivos e cardiovasculares. Em alguns casos, os danos são irreversíveis.

Diante da escassez de água, o autor da ação diz que tentou alternativas. Em 2021, construiu um poço artesiano na propriedade, mas ele também apresentou sinais de contaminação. A água saiu com odor forte, gosto metálico e presença de resíduos, indicando que o lençol freático da região já estaria comprometido pela atividade mineradora.

Ele descreve uma série de sintomas físicos que, segundo ele, começaram após o agravamento da atividade mineradora na região. Ele relata sofrer de coceiras, distúrbios respiratórios, dores intestinais, cansaço e fraqueza, e afirma que esses problemas têm tornado sua vida “ainda mais difícil e penosa”.

Comunidade denuncia Vale por assorear rios, envenenar água e espalhar pó tóxico
Coleta de material para análise da contaminação da água consumida pela comunidade (Foto: Reprodução)

O processo cita estudos que alertam para os efeitos da exposição prolongada ao manganês, presente na água e poeira da região. Entre os riscos estão danos ao sistema nervoso central, ao sistema respiratório, ao coração e ao sistema reprodutivo. Mesmo em baixas concentrações, o contato contínuo com esse metal pode provocar disfunções neurológicas graves.

Poeira tóxica nas estradas 

Outro ponto grave relatado na denúncia é a dispersão de poeira contaminada nas estradas da região. Segundo o autor, a Vale tem utilizado rejeitos da mineração para "revestir" vias públicas e estradas vicinais. A prática, que seria uma forma irregular de descarte de resíduos industriais, conta com a anuência da prefeitura de Corumbá, segundo ele.

Esse revestimento com resíduos tóxicos agrava a exposição da população. Quando o tempo está seco, a poeira se espalha facilmente e é inalável. Quando chove, os resíduos escorrem pelas terras e podem infiltrar-se no solo e nos lençóis freáticos. A comunidade do assentamento, que vive da agricultura e da criação de animais, se vê diretamente impactada por esse processo.

Ao conviver com a poeira levantada por caminhões da mineradora, segundo a denúncia, o vento transporta partículas de ferro e manganês. Esse pó fino se acumula nas casas, nas plantações e nas vias, sendo inalado diariamente pelos moradores.

Comunidade denuncia Vale por assorear rios, envenenar água e espalhar pó tóxico
Córrego Piraputanda, na região de Maria Coelho, contaminado pelos dejetos (Foto: Reprodução)

Omissão dos órgãos públicos

Além da mineradora, o autor responsabiliza o Município de Corumbá e o IBAMA pela situação. Ele afirma que ambos são coniventes com a destruição ambiental, já que, segundo ele, sabem das práticas de contaminação da água e do uso de resíduos tóxicos em vias públicas, não fiscalizam a Vale adequadamente e ignoram denúncias feitas por moradores e produtores locais.

A ação pede que a Justiça reconheça a responsabilidade da Vale, da prefeitura e do IBAMA pelos danos ambientais causados; determine a recuperação da área degradada; garanta o fornecimento imediato de água potável à comunidade e condene os réus ao pagamento de indenização por danos morais e materiais.

Todos os envolvidos foram procurados e o Campo Grande News aguarda respostas sobre as denúncias.