Estudo aponta prejuízo de R$ 7 bilhões com hidrelétricas no Pantanal
Os empreendimentos têm ainda reflexos diretos sobre a pesca e a vida das populações pantaneiras

Estudo inédito realizado pelo WWF-Brasil aponta que a instalação de 59 PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas) no Pantanal pode gerar prejuízo mínimo de R$ 7,04 bilhões à sociedade, além de provocar uma série de impactos econômicos e socioambientais.
RESUMO
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A instalação de 59 usinas hidrelétricas no Pantanal pode gerar prejuízo de R$ 7,04 bilhões à sociedade, segundo estudo do WWF-Brasil. Embora 90% dos empreendimentos estejam em Mato Grosso, o Mato Grosso do Sul será o mais impactado, com problemas ambientais na planície pantaneira. A pesquisa indica que investir em fontes renováveis alternativas, como energia eólica e solar, geraria retorno positivo de R$ 4,84 bilhões. O estudo também aponta graves impactos na pesca, com perdas anuais de R$ 502,6 milhões, afetando 1,4 milhão de pessoas na região, além de prejuízos ao turismo.
Especialista de Conservação do WWF-Brasil, Silvia Zanatta esclarece que atualmente 58 usinas estão em operação e outras 65 estão previstas. Porém, o estudo, com base na metodologia da ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico), considerou um recorte de 59 empreendimentos, sendo 54 localizados no Mato Grosso.
Silvia Zanatta é uma das colaboradoras da pesquisa e explica que o levantamento considerou o bioma Pantanal como um todo e não foi dividido por Estado.
MS é o mais afetado
De acordo com a especialista, embora cerca de 90% dos empreendimentos estejam localizados no Mato Grosso, o Mato Grosso do Sul torna-se a região mais impactada pelas PCHs. A especialista afirma que as represas nos rios no Pantanal Norte acabam interrompendo a chegada das águas na parte Sul, ou seja, geram problemas ambientais na planície do Pantanal.
“Esses empreendimentos degradam a qualidade da água, retêm sedimentos essenciais para a fertilização natural do bioma e reduzem a capacidade de sequestro de carbono das áreas alagáveis. São perdas incalculáveis”, conclui a especialista.
Como foi feita a pesquisa
A análise, baseada em dados da ANA e da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), utilizou a metodologia oficial de ACB (Análise de Custo-Benefício) do governo federal.
Segundo a análise, a instalação das PCHs resultaria em prejuízo líquido de R$ 2,20 bilhões. Já a alternativa de investir em um mix de fontes renováveis não hídricas, formado por 50% de energia eólica, 42% de solar, 4% de biomassa e 4% de biogás, garantiria a mesma potência firme (409,55 MW) e ainda geraria retorno positivo de R$ 4,84 bilhões.
A comparação entre os cenários mostra que seria possível dobrar a capacidade de geração limpa e, ao mesmo tempo, economizar R$ 531,88 milhões, de acordo com o estudo, evitando prejuízo total estimado em R$ 7 bilhões.
Clima agrava prejuízo
O estudo também levou em conta os efeitos das mudanças climáticas. Dados da ANA indicam que a vazão dos rios da BAP deve cair 16% até 2055. Como as PCHs dependem diretamente do fluxo hídrico e não possuem reservatórios de acumulação, a tendência é de redução significativa na geração.
“Investir em PCHs no Pantanal não é apenas ambientalmente arriscado, é uma decisão economicamente ineficiente. Além de gerar perdas bilionárias, destrói cadeias produtivas consolidadas, como a pesca e o turismo”, afirma Alexandre Gross, líder de Infraestrutura e Transição Energética do WWF-Brasil.
Impacto direto na vida das pessoas
A pesca é a atividade mais afetada pelos projetos. Estima-se uma perda anual de R$ 502,6 milhões apenas na pesca difusa, impactando diretamente 1,4 milhão de pessoas na região. Para pescadores profissionais e suas famílias, os prejuízos podem superar R$ 838 milhões ao longo de 30 anos.
A pesca na BAP não só representa uma atividade econômica, como também faz parte do aspecto sociocultural e alimentar.
O turismo de pesca, atividade tradicional no Pantanal, também sofre: as perdas chegam a R$ 54,5 milhões por ano em gastos diretos, além de outros R$ 12,2 milhões em efeitos na cadeia produtiva. O estudo ainda aponta redução no consumo de pescado, estimada em R$ 29 milhões anuais, afetando a qualidade nutricional da população.

Subsídios e distorções
Outro ponto destacado é que os projetos se apoiam em subsídios públicos. Entre eles estão isenção da compensação financeira pelo uso da água, descontos nas tarifas de transmissão e a contratação compulsória em leilões de energia. Esses benefícios somam R$ 364 milhões, valor superior aos próprios custos operacionais.
Recomendações
O WWF-Brasil defende a exclusão imediata das PCHs previstas para a Bacia do Alto Paraguai dos planos de expansão energética e o redirecionamento dos subsídios para fontes renováveis realmente sustentáveis, como solar e eólica.
A organização também recomenda o fortalecimento da Análise de Custo-Benefício como instrumento obrigatório nas decisões sobre infraestrutura energética.