Gestão sustentável e conscientização são maiores desafios no uso da água em MS
Pesquisadora Synara Broch aponta que o manejo da água deve ser pensado de forma conjunta
Mato Grosso do Sul é um estado brasileiro privilegiado quando se trata de disponibilidade de água doce. Isso ocorre porque é cercado por duas importantes bacias hidrográficas, a do Rio Paraguai e a do Rio Paraná. A primeira está localizada no Pantanal sul-mato-grossense, enquanto a segunda na porção centro-oriental.
De acordo com a ANA (Agência Nacional das Águas), Mato Grosso do Sul está inserido na Região Hidrográfica do Paraná em 47,5% do seu território e na Região Hidrográfica do Paraguai em 52,5% da sua área total.
O Estado também possui três grandes sistemas aquíferos sobrepostos, o Guarani, o Serra Geral e o Bauru-Caiuá. Segundo a ANA, aproximadamente 79% das sedes municipais de Mato Grosso do Sul são abastecidas exclusivamente por poços. Os 21% restantes também são abastecidos por sistemas isolados, com captações em mananciais superficiais, ou de forma mista, aponta levantamento da ANA.
Com essa abundância de recursos hídricos, o Mato Grosso do Sul tem condições favoráveis para o desenvolvimento econômico e social, desde que haja uma gestão adequada e sustentável dos seus recursos naturais.
Ou seja, o risco da água acabar não existe. O que deve ser questionado e repensado é o problema da escassez da água potável, que cada vez mais está ameaçada em diversas localidades do País, conforme explica a doutora em Desenvolvimento Sustentável, docente da UFMS e ex-presidente da ABRHidro, Synara Broch.
“Quando fala que a água vai acabar, não significa que vai acabar de fato. Ela faz parte de um ciclo hidrológico fechado. Ela pode não estar em um determinado lugar, em um determinado tempo. O que pode acabar é o acesso à água potável, que é quando a água disponível está inadequada para o uso", esclarece Synara.
A pesquisadora explica que Mato Grosso do Sul tem enfrentado desafios como o carregamento de sedimentos e problemas de drenagem, mas destaca que esses problemas podem ser remediados com o manejo correto do solo e com a implementação de boas tecnologias no setor privado.
"A questão é que essas coisas [problemas ambientais] estão acontecendo e o governo, assim como o setor privado e a sociedade, estão notando que é preciso fazer a sua parte para preservar nossas águas. O problema é que os problemas estão acontecendo mais rápido do que esse processo de conscientização e implementação de gestão".
O uso da água - A partir do monitoramento da ANA, é possível notar que durante o ano de 2022, o setor da pecuária (32,4%) foi o que mais utilizou água no Mato Grosso do Sul, seguido pelo setor industrial (31,7%) e o setor de irrigação (17,5%). A mineração teve um uso de 1,3%.
O uso humano da água também é monitorado pela ANA. De acordo com a agência, o uso humano urbano apresenta um percentual de 16,1%, enquanto o uso humano rural fica em 1,0%.
Synara aponta que o manejo da água deve ser considerado de forma conjunta, uma vez que não existe um “vilão” que seja responsável pelos problemas hídricos. “Não acho que demonizar apenas um setor resolva o problema. É preciso ter ações conjuntas”, destaca.
Avanços na sustentabilidade - De acordo com Synara, as tecnologias de reuso de água estão avançando no Estado. "Hoje o setor que mais avança nas tecnologias de reuso da água é o setor da Indústria. Só que setor da Irrigação e da Agropecuária estão se alertando para isso. Então as tecnologias estão aí. Estão em investimentos iniciais, mas terão retornos perenes e sustentáveis".
Atualmente, Mato Grosso do Sul possui uma Política Estadual de Recursos Hídricos, que é regulamentada pela Lei Estadual nº 2.406, de 29 de Janeiro de 2002. Como reforça Synara, o Estado também conta com órgãos gestores, conselhos e colegiados, além de universidades que formam profissionais qualificados para atuar no sistema de recursos hídricos.
Entretanto, ela aponta que é preciso fortalecer esses órgãos e aumentar a conscientização da população em relação ao cuidado da água. “Na minha opinião, o que dá para melhorar é o processo de informação e comunicação, que deve alcançar todos os setores: a sociedade, o poder público, os setores privados. Todos precisam entender que é preciso ter um cuidado com a água”, comenta Synara.
A pesquisadora também aponta que o cuidado com a água é um processo que está em andamento no Mato Grosso do Sul, mas que ainda há muito a ser feito para garantir a disponibilidade desse recurso tão valioso para as gerações presentes e futuras. "Os maiores desafios no Mato Grosso do Sul eu creio que seja o fortalecimento dos órgãos gestores de recursos hídricos, um aumento da conscientização da população em relação ao cuidado da água e uma implementação de boas tecnologias no setor privado".
Dia Mundial da Água - Em 22 de março de 1992, a ONU (Organização das Nações Unidas) criou o Dia Mundial da Água em solo brasileiro. A data foi lançada durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, também conhecida como Eco-92, no Rio de Janeiro, como um esforço da comunidade internacional para colocar em pauta as questões essenciais que envolvem os recursos hídricos no planeta.
Todos os anos a ONU propõe um tema para discussão, sendo que em 2023 a temática em pauta é “Seja a Mudança que Você Quer Ver no Mundo”, que foi baseada na fábula da beija-flor que tenta fazer sua parte para tentar apagar um incêndio em sua floresta.