Perto da maior barragem, o apelo por água na piracema: "acabando com o rio"
Problema é relatado no entorno da Usina Porto Primavera, na divisa com São Paulo
RESUMO
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Pescadores profissionais da região da Usina Hidrelétrica Sérgio Motta (Porto Primavera) pedem a abertura das comportas para aumentar o nível do Rio Paraná durante a piracema, alegando que o rio está com baixo nível, repleto de algas e com pouca oxigenação, prejudicando a vida aquática e a pesca. A situação é agravada por um projeto de lei que proíbe a comercialização de diversas espécies de peixes, o que, segundo os pescadores, irá afetar ainda mais sua subsistência. A usina ainda não se manifestou sobre o pedido de abertura das comportas.
No entorno da Usina Sérgio Motta (Porto Primavera), a maior hidrelétrica do País em extensão de barragem, pescadores profissionais fazem apelo por abertura de comportas para aumentar o nível do Rio Paraná durante a piracema, que vai até 28 de fevereiro. A pesca é proibida no período de defeso.
“As comportas continuam fechadas, não é falta de chuva. Nossos rios estão morrendo. Alguém precisa lutar com a gente para que a Usina Hidrelétrica Sergio Motta faça um plano de manejo. Pelo menos na piracema”, afirma Maria Antônia Poliano, presidente da colônia de pescador profissional Z10, de Fátima do Sul.
O pescador Wilson Tomas de Lima enviou vídeo em que lamenta o avanço das algas e o projeto do deputado estadual Neno Razuk (PL), que proíbe totalmente o transporte, armazenamento e a comercialização de 29 espécies de peixes oriundos das bacias do Estado por um período de cinco anos.
“Mais uma vez a gente está aqui para mostrar a situação do nosso rio. É o que gente sempre fala, o nosso rio está morto. Mais uma vez não tem água. Olha essas manchas pretas, é tudo alga. Estão acabando com o nosso rio e ainda aparece um deputado que quer proibir a pesca de 29 de peixes. Põe a mão na consciência deputado. Faça alguma coisa para que o nosso rio venha voltar a ter vida. Essa é a realidade do nosso rio Paranazão”.
A pescadora Telma Aparecida Roberto dos Santos afirma que a água tem muito lodo e odor podre. “As condições de sobrevivência dos peixes e de nós, pescadores profissionais, estão difíceis. O rio está tomado de algas e lodo”.
Ela reclama que a usina libera água de forma pontual, deixando o rio num sobe e desce todos os dias. “O rio fica sempre no sobe e desce. Mais desce do que sobe. Os embarramentos estão destruindo a natureza. Estamos pedindo socorro”.
Popularmente chamada de alga, a planta aquática se trata de elódea. Segundo o biólogo e professor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) em Três Lagoas, Fernando Carvalho, a grande quantidade de elódea (Egeria densa), uma macrófita aquática exótica, prejudica sobremaneira a qualidade da água do rio.
“Quando elas morrem, as bactérias e decompositores consomem o oxigênio dissolvido na água, diminuindo para os peixes e outros organismos aquáticos. Os peixes mais sensíveis morrem”.
Inaugurada há 25 anos, a hidrelétrica fica na divisa com Batayporã e São Paulo, com 80% do lago em território de Mato Grosso do Sul.
A reportagem questionou a usina sobre a abertura das comportas e monitoramento de estoque pesqueiro. A Cesp (Companhia Energética de São Paulo), responsável pela operação, informa que a unidade de Porto Primavera opera somente em sistema de fio d’água, ou seja, seu reservatório não exerce a função de acumulação do rio e a operação ocorre conforme o volume de água (vazões afluentes) que chegam até o reservatório", mas garante que está dentro da normalidade, de acordo com padrão estabelecido pelo ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico).
Segundo a companhia, apesar disso, o problema enfrentado pelos pescadores ocorrem por outros fatores, "como a vazão proveniente do Rio Paranapanema e dos demais rios que deságuam no Rio Paraná, além da influência do próprio relevo.
A empresa assegura que tem feito tudo que pode para manter o estoque pesqueiro, com "ações para restauração ambiental no entorno do reservatório e a jusante da barragem, visando a manutenção dos berçários naturais, e uma escada para peixes, estrutura monitorada pela companhia e que visa garantir o processo de migração reprodutiva dos peixes no período de piracema".
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