ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram Campo Grande News no TikTok Campo Grande News no Youtube
JUNHO, SEXTA  06    CAMPO GRANDE 27º

Meio Ambiente

Único de MS em edital, bairro pode ser modelo contra mudanças climáticas

Novo Samambaia é um entre os 41 chamados “macroáreas prioritárias” pelo Ministério das Cidades

Por Jéssica Fernandes | 05/06/2025 06:10
Único de MS em edital, bairro pode ser modelo contra mudanças climáticas
Bicicleta infantil parada contrasta com as crianças brincando no Bairro Novo Samambaia. (Foto: Juliano Almeida)

Em Campo Grande, o Novo Samambaia está no foco de um novo edital do Ministério das Cidades. O bairro é o único de Mato Grosso do Sul cotado para o Programa Cidades Verdes Resilientes, que garante investimento milionário voltado para adaptação da área as mudanças climáticas.

RESUMO

Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!

O Bairro Novo Samambaia, em Campo Grande, está entre as 41 macroáreas prioritárias do Programa Cidades Verdes Resilientes, do Ministério das Cidades. O projeto prevê investimentos de R$ 25 milhões para adaptação inclusiva e melhorias ambientais em áreas periféricas selecionadas. O bairro, que já recebeu melhorias recentes como água, esgoto e energia elétrica, ainda enfrenta desafios como falta de asfalto, escolas superlotadas e ausência de creches. A região também será beneficiada pelo programa Pró-Moradia, que destinará R$ 30,5 milhões para reforma de 463 unidades habitacionais.

Lançado nesta semana, o chamamento público vai selecionar, por meio de um termo de fomento, projetos com iniciativas propostas por OSCs (Organizações da Sociedade Civil). O projeto de estruturação deverá envolver as chamadas SBN (Soluções Baseadas na Natureza), para melhoria da qualidade ambiental do local.

O bairro de Campo Grande é um entre os 41 chamados de “macroáreas prioritárias” pelo Ministério das Cidades. Esses territórios foram contemplados anteriormente pelo Programa Periferia Viva, que também faz parte do programa governamental, e agora integram essa nova lista.

Único de MS em edital, bairro pode ser modelo contra mudanças climáticas
Fumaça denunciava queimada em área urbana em rua próxima a Rua Maranta  (Foto: Juliano Almeida)

Segundo o novo edital, a Secretaria Nacional de Periferia vai escolher apenas seis propostas, ou seja, seis microáreas, considerando a disponibilidade orçamentária de R$ 15 milhões. Uma segunda pasta do governo, a do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, também participa do edital Periferias Verdes Resilientes. Por ele, serão selecionadas outras quatro propostas, com R$ 10 milhões de recursos. Somando as duas, são R$ 25 milhões voltados para a implantação de projetos nos territórios prioritários.

Novo Samambaia – Na área que um dia correspondeu ao Clube de Campo Samambaia, os moradores do Novo Samambaia ainda comemoram avanços recentes, como esgoto, energia elétrica e acesso à água sem precisar de um poço artesiano.

Jéssica Marques da Costa, de 37 anos, chegou ao loteamento há nove anos, antes de a rua ser batizada como “Maranta”. Ela estava entre os primeiros que invadiram a área, cerca de 500 famílias, segundo a estimativa dela. Acadêmica de pedagogia, Jéssica começou a vida nesse lugar morando em duas peças que correspondiam à sua casa. Ela recorda como era a construção de alvenaria na época. “Tinha uma cozinha americana e um quarto que dividíamos em seis pessoas. Eu, meu esposo e meus filhos”, fala.

Único de MS em edital, bairro pode ser modelo contra mudanças climáticas
Jéssica Marques, em frente à casa que construiu, no loteamento onde chegou há 9 anos. (Foto: Juliano Almeida)

Hoje, a casa expandiu, não sendo formada exclusivamente por essas duas peças. A fachada, ainda no reboco, sem nenhuma pintura, chama a atenção pela grande porta no tom preto. O avanço na construção, a casa em si, são bens pelos quais Jéssica agradece. “Aqui é meu cantinho, minha conquista, demorei muito para ter meu pedacinho de chão”, destaca.

Apesar de gostar do lugar, a estudante não nega que ainda são necessárias algumas melhorias. “Todos aqui pedem o asfalto e, se não vier de imediato, que viesse um cascalhamento. Aqui está uma burocracia, quando chove, o lixeiro não entra. A escola, são duas, superlotadas, e creche não tem nas proximidades”, relata.

Ao detalhar essas questões, a moradora relembra como era a situação das ruas do loteamento. “Aqui você não andava, deslizava”, diz. Na rua, a maioria das casas são de alvenaria, mas um dos detalhes que as diferenciam é o fato de algumas já terem muros erguidos, impedindo uma visualização direta para a porta.

Único de MS em edital, bairro pode ser modelo contra mudanças climáticas
Estudante caminha em uma das ruas, ao fundo casa com a luz acesa. (Foto: Juliano Almeida)

Por outro lado, algumas ainda dão “de cara” para a rua, sendo possível, mesmo que de longe, vislumbrar alguns detalhes no interior da casa, como televisões ligadas, luzes e um móvel ou outro.

Na Rua Estrela Azul, um grupo de crianças faz suas brincadeiras no chão de terra batida, enquanto um grupo de mulheres conversa em frente à residência de uma delas. Isabelle Fernanda Duarte, de 30 anos, aceita conversar com a reportagem, mas pede para não ser fotografada.

Manicure, ela chegou ao lugar há cinco anos, quando o cenário era bem precário. “Aqui não tinha ainda água, esgoto, mas agora já tem. O esgoto não tem nem um ano, foi no ano passado. A água tem uns dois anos”, conta. Ao falar sobre os avanços, a moradora expõe o que ainda é um problema para a maioria. “Ainda faz muita enxurrada quando chove”, afirma.

Único de MS em edital, bairro pode ser modelo contra mudanças climáticas
Crianças brincam na Rua Estrela Azul, no fim de tarde de terça-feira.  (Foto: Juliano Almeida)

O fato de o bairro ser o único do Estado elegível como prioritário no edital do governo federal é novidade para ela e as amigas. Isabelle e as outras moradoras sabem de outro investimento, o relacionado à reforma das casas.

As melhorias nas unidades habitacionais fazem parte do programa de Atendimento Habitacional Pró-Moradia, na modalidade Periferia Viva – Urbanização de Favelas, do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que foi anunciado em 2024 com investimento de R$ 30,5 milhões. A Agehab (Agência Popular de Habitação de Mato Grosso do Sul), do governo estadual, vai atender 463 unidades habitacionais.

Isabelle explica que, no caso dela, a residência não passará por melhorias, já que são seguidos alguns critérios. “Eles vão reformar o que está rachado, se não tem o reboco, vão rebocar. São coisas que mais precisam mesmo, nem tudo. Aqui precisa de aterro, mas não vão aterrar”, pontua.

Sobre outras melhorias que o bairro precisa, a manicure cita o acesso às escolas e creches. “Ceinf não tem, nós passamos dificuldades com isso”. A mais próxima dela e das outras moradoras fica no Bairro Dom Antônio.

Único de MS em edital, bairro pode ser modelo contra mudanças climáticas
Terra batida é uma das reclamações dos moradores, que pedem por asfalto. (Foto: Juliano Almeida)

Esses problemas mencionados pela moradora são alguns dos que fazem o Bairro Novo Samambaia ser elegível como território periférico, uma macroárea. Nas macroáreas, é preciso que parte significativa de seus moradores não tenha acesso a direitos fundamentais por conta de diversas situações.

Algumas delas incluem: baixa renda familiar, carência de infraestrutura adequada, exclusão digital, falta de espaços verdes, lazer, condições ruins de moradia e até insegurança da posse de suas moradias.

José Gomes Martins, de 71 anos, é do interior do Estado e chegou ao loteamento quando o mesmo estava sendo regularizado pelo município. Apesar de morar ali há dois anos, ele tem uma lembrança mais antiga do loteamento. “Isso aqui eu conheci quando ainda era barraco. Eu conheci aqui quando era mato, passava aqui e só era mato”, frisa.

Único de MS em edital, bairro pode ser modelo contra mudanças climáticas
José Gomes lembra que, antes, o lugar onde mora se resumia em mato. (Foto: Juliano Almeida)

A casa dele também é de alvenaria, com muro e portões bem estruturados. Só que, como a maioria dos vizinhos, no fim de tarde, o pedreiro gosta de manter a porta aberta e ficar para fora, vendo o movimento da rua. No geral, a vizinhança parece ser tranquila.

Essa impressão é confirmada pelo morador. “Nunca vi problema aqui, aqui ninguém ataca ninguém”, comenta. Para ele, o que falta para melhorar é o asfalto. “Se passasse o asfalto aqui não ia ser bom só pra mim, ia ser bom para todos, porque todas as saídas do bairro são aqui”, explica.

Soluções Baseadas na Natureza – Enquanto os moradores falam de qualidade de vida, o Ministério das Cidades, com o edital lançado esta semana, foca na qualidade ambiental urbana como forma de reduzir desigualdades e os riscos de desastres de origem climática.

O Programa Cidades Verdes Resilientes contempla as seguintes temáticas no contexto urbano: uso e ocupação sustentável do solo; áreas verdes e arborização urbana; soluções baseadas na natureza; tecnologias de baixo carbono; mobilidade urbana sustentável e gestão de resíduos urbanos.

Já as Soluções Baseadas na Natureza são tecnologias mimetizantes que contribuem para adaptação das periferias às mudanças do clima. Exemplos de SBN incluem a agricultura sustentável, criação de parques urbanos, criação de tetos verdes, sistemas de biorretenção e outros.

As Organizações da Sociedade Civil interessadas em participar do edital têm até o dia 17 de julho para enviar a proposta para a pasta. Uma mesma proponente pode apresentar mais de uma proposta, desde que ela não contemple a mesma macroárea.

Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.

Nos siga no Google Notícias