Representante de 6,5 milhões de brasileiros cegos cobra mais humanidade
Referência em acessibilidade, Beto Pereira cobra mudanças de atitude e mais consciência social
RESUMO
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O presidente da Organização Nacional de Cegos do Brasil (ONCB), Beto Pereira, destacou a importância da inclusão e acessibilidade durante participação no podcast Na Íntegra, em Campo Grande. A entidade representa mais de 6,5 milhões de brasileiros com deficiência visual, incluindo 528 mil pessoas cegas. Durante a entrevista, Pereira abordou temas como empregabilidade, tecnologia e políticas públicas. Ele criticou o PL 1.584/2024, que propõe unificar legislações sobre pessoas com deficiência, alertando sobre possíveis retrocessos. O Brasil sediará, pela primeira vez, o Encontro Mundial da Deficiência Visual, em setembro, em São Paulo.
O jornalista e sociólogo Beto Pereira, presidente da Organização Nacional de Cegos do Brasil (ONCB), participou do podcast Na Íntegra, do Campo Grande News, durante visita a Campo Grande para uma série de agendas voltadas à inclusão e à acessibilidade. Reconhecido como uma das principais lideranças do país na defesa dos direitos das pessoas com deficiência visual, ele abordou temas como diversidade, capacitismo, políticas públicas e experiências pessoais.
Beto perdeu totalmente a visão aos 12 anos e desde então construiu trajetória marcada pelo ativismo e pelo diálogo com diferentes esferas da sociedade. “Sou um nômade da inclusão”, afirmou ao justificar a rotina intensa de viagens por todo o Brasil.
A ONCB representa mais de 6,5 milhões de brasileiros com deficiência visual, sendo cerca de 528 mil pessoas cegas e outras 6 milhões com baixa visão. “Esse público está entre o limbo de quem enxerga e quem não enxerga, e muitas vezes fica invisível”, explicou.
Descrição e empatia - Beto destacou a importância da autodescrição como ferramenta de empatia. “O ato de se descrever é um gesto de respeito. Quem não vê precisa de informações que os outros têm naturalmente”, explicou, ao comentar o esforço do apresentador Lucas Mamédio em se apresentar com detalhes físicos e visuais.
Ele também falou sobre os estigmas que envolvem pessoas com deficiência, como o discurso da superação ou do coitadismo. “A deficiência não define ninguém. Antes disso, existem dezenas de outras características que compõem uma pessoa”, afirmou.
Apesar de ser uma figura pública com acesso a autoridades e líderes nacionais — incluindo os últimos quatro presidentes da República —, Beto relatou episódios de discriminação em espaços de alto padrão, como uma sala VIP na Espanha, onde teve o atendimento negado por ser cego. “O preconceito está em todos os lugares, não é uma questão de classe”, destacou.
Durante a conversa, também lembrou episódios de bullying na infância e da dificuldade de lidar com brincadeiras de mau gosto ou com o desrespeito à autonomia de pessoas com deficiência. “Já me abati, já briguei, e tudo bem. Não somos super-heróis. Somos humanos”, disse.
Trabalho e tecnologia - Outro ponto de destaque foi a empregabilidade. Beto apresentou o Programa Ágora, executado pela ONCB em parceria com entidades como o Smac (Instituto Sul-Mato-Grossense para Cegos), em Campo Grande. A iniciativa conecta empresas e pessoas com deficiência visual por meio de uma plataforma online e oferece cursos de qualificação, como edição de vídeo e áudio com softwares acessíveis.
“Hoje eu edito meus próprios vídeos. Há muita tecnologia disponível gratuitamente. Só falta mudar o pensamento das pessoas”, comentou.
Ele também anunciou que o Brasil sediará, pela primeira vez, o Encontro Mundial da Deficiência Visual, entre 1º e 5 de setembro, no Anhembi, em São Paulo. O evento reunirá mais de 1,5 mil participantes de 150 países.
Beto criticou o Projeto de Lei 1.584/2024, que propõe unificar todas as normas sobre pessoas com deficiência em uma só legislação. Segundo ele, a proposta pode resultar em perdas de direitos já consolidados. “A intenção pode até ser boa, mas o risco de retrocesso é enorme”, alertou. Por outro lado, elogiou outro projeto do mesmo autor, que cria o Fundo Nacional da Pessoa com Deficiência.
Sobre Campo Grande, destacou pontos positivos da acessibilidade, especialmente na região central, mas cobrou aplicação correta das normas. “Piso tátil é essencial, mas precisa ser feito direito. Uma calçada acessível é para todo mundo: para a mãe com carrinho de bebê, para o idoso, para quem está com a perna quebrada”, exemplificou.
Ao encerrar, Beto resumiu sua atuação com uma frase: “A inclusão não é sobre deficiência, é sobre humanidade”.