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Política

Tabela dedicada a ‘operador’ de propina do MS em delação tem 17 páginas

Pecuarista, segundo delatores, Ivanildo da Cunha Miranda gerenciou ‘por fora’ da JBS para políticos de MS entre 2007 e 2014

Anahi Zurutuza e Aline dos Santos | 25/05/2017 08:30
Foto de Ivanildo publicada em coluna social (Foto: Reprodução)
Foto de Ivanildo publicada em coluna social (Foto: Reprodução)
Wesley Batista durante depoimento à PGR (Foto: Reprodução)
Wesley Batista durante depoimento à PGR (Foto: Reprodução)

Pecuarista, empresário e, segundo delatores da JBS, o contato da maior fabricante de carnes do Brasil em Mato Grosso do Sul para o pagamento de propina a políticos e financiamento de campanhas eleitorais. O nome Ivanildo da Cunha Miranda mereceu destaque na delação e 17 páginas de documentos anexados no registro das denúncias feitas à PGR (Procuradoria Geral da República) na Operação Lava Jato.

Dentre as planilhas que mostrariam a movimentação feita pela JBS com base nas coordenadas dadas pelos “operadores” do dinheiro no Estado, as que foram anexadas logo a baixo do nome de Miranda –diga-se de passagem, escrito à mão e sem o sobrenome– são as mais “recheadas”.

Delatores afirmam que Ivanildo trabalhou como “gerenciador” do esquema por sete anos – entre 2007 e 2014 –, período em que teria movimentado aos menos R$ 105 milhões.

Planilhas – Os documentos ainda estão sendo analisados pelos procuradores federais que conduziram a delação, segundo a assessoria de imprensa da PGR. Por isso, ainda não há explicações detalhadas sobre o conteúdo do que os delatores apresentaram como provas do que disseram em depoimento.

Nas planilhas, a JBS lista datas, seguidas dos nomes de empresas ou pessoas físicas, uma coluna chamada de débito, uma de crédito e a outra de saldo. Aparecem também menções a “valor recuperado”, mas não há explicações ainda sobre para o que exatamente cada termo indica.

Especificamente na tabela dedicada a Ivanildo estão elencados débitos para não menos que 329 empresas e o nome do próprio pecuarista ou de duas empresas dele – a Força Nova Distribuidora de Bebidas Ltda. e a Berrantes Transportes Ltda. – aparecem não menos que 199 vezes.

A planilha com 17 páginas mostra débitos e saldos para várias empresas de nutrição animal e produtos agrícolas, de locação de maquinário, inúmeros postos de combustíveis, supermercados, buffets e até um hotel de luxo no Guarujá (SP).

Três governos, três ‘operadores’ – Contudo, no “termo de pré-acordo de colaboração premiada”, disponibilizado pela PGR após a quebra do sigilo das investigações na semana passada, os procuradores detalham que o esquema para o pagamento de propinas em Mato Grosso do Sul teria passado por três governos.

Tudo teria começado em 2003, quando instituído o suposto esquema para calcular a propina em 20% dos valores economizados pela JBS em incentivos fiscais. Sobre o período de 2003 a 2007, os delatores admitem não ter prova documental.

João Baird era considerado o “operador” até 2007, que foi sucedido por Ivanildo de 2007 a 2013, e depois em 2014, substituído por André Luiz Cance, ex-secretário-adjunto de Estado de Fazenda.

“A JBS pagou propina de não menos que R$ 150 milhões do início até a presente data. [...] João Baertz [que seria Baird, mas redigido de forma errada], Ivanildo Miranda e André Luiz Cance funcionam como executores dos ajustes para recebimento de propina: negociavam formas, prazos e coordenavam pagamentos”, consta no termo.

No depoimento, Wesley Batista, um dos donos da JBS afirma que André Puccinelli (PMDB) e Ivanildo se desentenderam no fim da gestão do ex-governador. “Foi o Ivanildo por sete anos. No finalzinho do governo eu acho que eles se desentenderam, eu acho... ele [Puccinelli] tirou o Ivanildo do contato e pôs esse André Luiz Cance de contato com a pessoa nossa”, contou. Assista o vídeo:

Ivanildo teria continuado atuando, mas saiu de cena novamente em 2015, ainda conforme os delatores. 

Outro depoimento – Apesar de a relação de propina entre o JBS e os governos de Mato Grosso do Sul ter sido detalhada por Wesley, Ivanildo também aparece na delação de outro irmão Batista: Joesley.

Ao falar, na delação premiada sobre a planilha mantida em relação ao doleiro Lúcio Funaro, ligado ao ex-deputado Eduardo Cunha, Joesley conta que Funaro antecipou R$ 1 milhão para Ivanildo, operador do então governador André Puccinelli. Veja no vídeo:

Perfil – Bem relacionado, o “operador de propinas”, segundo a delação da JBS, o nome e fotos de Ivanildo aparecem com frequência nas colunas sociais. O pecuarista é frequentador de eventos beneficentes, leilões e festas.

Lama Asfáltica – Citado também na Operação Lama Asfáltica, Ivanildo Miranda foi alvo da 4ª fase da força-tarefa, que foi deflagrada neste mês, assim como a delação da JBS. Justamente por causa da ligação dele com Puccinelli, o empresário teve a casa dele e um escritório revistados pela Polícia Federal.

Outro lado – Puccinelli não se manifestou sobre o assunto ainda. A reportagem tenta contato com Ivanildo desde a semana passada, mas o telefone dele só dá sinal de desligado.

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