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Política

Tereza quer que Bolsonaro diga que não é candidato, indicando nome e estratégia

Senadora diz que Simone acirraria disputa em MS, quer evitar racha na direita e não descarta vice presidência

Por Vasconcelo Quadros, de Brasília | 21/10/2025 11:53
Tereza quer que Bolsonaro diga que não é candidato, indicando nome e estratégia
Senadora Tereza Cristina durante visita ao Campo Grande News (Foto: Arquivo)

Em 40 minutos de entrevista ao Campo Grande News, em seu gabinete em Brasília, a senadora Tereza Cristina (PP), líder da federação UBP em Mato Grosso do Sul e peça chave no tabuleiro eleitoral fez uma avaliação realista do ainda incerto cenário para 2026 e apontou o calcanhar de Aquiles da direita: “O que realmente precisa acontecer é o presidente Bolsonaro dizer que não será candidato. Assim, ele poderá orientar a estratégia e definir qual nome terá apoio, dando força e unidade à direita, com respaldo e direção claros dentro do grupo”.

RESUMO

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A senadora Tereza Cristina (PP) defende que o ex-presidente Jair Bolsonaro declare não ser candidato em 2026, permitindo assim orientar a estratégia e definir um nome que unifique a direita. Em entrevista ao Campo Grande News, a parlamentar não descarta a possibilidade de compor como vice em uma chapa presidencial. Para o cenário estadual em Mato Grosso do Sul, Tereza Cristina demonstra preocupação com uma possível divisão na direita e reconhece que a disputa pode se acirrar caso a ministra Simone Tebet (MDB) entre na corrida pelo Senado. A senadora destaca que o PT mantém cerca de 20% de apoio no estado, lembrando que Lula obteve 40% dos votos em 2022.

Ela frisa que o nome deve ser eleitoralmente viável, admite que falta maturidade na direita para definir quem tem condições de vencer e, embora acrescente que nada está colocado, não descarta sair como vice de um candidato à presidência da República no ano que vem. “Tudo é possível”.

No cenário de Mato Grosso do Sul, Tereza Cristina reconhece que a disputa deve se acirrar caso a ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB) entre mesmo na corrida pelo Senado e está preocupada com uma eventual divisão na direita. Ela lembra que o PT, que deve apoiar à ministra, mantém cerca de 20% de apoio no Estado e que Lula chegou a 40% dos votos em 2022 — números suficientes para antever um provável cenário eleitoral disputadíssimo, puxado pela cobiça das duas vagas ao Senado.

A senadora também detalha o desafio de montar chapas competitivas, costurando coligações e equilibrando apoios entre partidos, especialmente diante da possibilidade de racha na direita se o ex-deputado e ex-candidato ao governo, Capitão Contar, ficar sem espaço no grupo na disputa ao Senado.

A senadora fala sobre as investigações da CPMI do INSS, que miram José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão do presidente Lula, o aumento dos processos de recuperação judicial que afetam o agro, regularização das terras na faixa de fronteira, rota bioceânica e a possibilidade de retomada das obras de conclusão da fábrica de fertilizantes de Três Lagoas.

Veja a entrevista:

“A oposição precisa ter maturidade para escolher um nome viável até dezembro”

Como a senhora avalia o cenário para uma candidatura nacional da oposição? Há nomes como Tarcísio, Ratinho, Michelle Bolsonaro...
A oposição não vai deixar o presidente Lula disputar sozinho. Temos bons nomes. O que falta agora é ver quem tem viabilidade, porque não adianta ter só intenção — tem que ter chance real de vencer. O adversário está posto, é o presidente Lula. Falta definir quem, no campo do centro-direita, vai enfrentá-lo. As conversas estão andando e espero que tenhamos maturidade para resolver isso.

Na sua avaliação, qual é o nome mais fortes? 

Tarcísio é um bom nome. Ratinho é bom nome. Caiado também. Temos vários, e isso é até um privilégio da direita: há nomes preparados, que conhecem o Brasil e têm projeto. O país precisa de alguém viável, mas também de alguém que traga um plano de governo claro — o que vai fazer, quais reformas pretende tocar. Não adianta ter nome sem projeto.

O Eduardo Bolsonaro está prejudicando a direita com suas movimentações políticas no exterior?

Não, ele é um player como os outros. Seu nome está posto e tem peso na articulação. O que realmente precisa acontecer é o presidente Bolsonaro dizer que não será candidato. Assim, ele poderá orientar a estratégia e definir qual nome terá apoio, dando força e unidade à direita. As pessoas respeitam sua liderança, então, quando ele define isso, o grupo ganha direção. Não vejo Eduardo como um problema; ele apenas faz parte do jogo.

A direita deve se unir em torno de um único candidato já no primeiro turno?

Isso é uma estratégia que ainda precisa ser construída. Primeiro, é preciso saber quem são os “players”. Pode ser um só, podem ser três. O ideal seria uma frente ampla, com todos à mesa, desprendidos, pensando no Brasil. Nosso país não pode continuar sendo o “país do futuro” que nunca chega lá. Precisamos de um projeto comum, mesmo que depois se definam dois ou três nomes dentro da estratégia eleitoral.

O ex-presidente Bolsonaro deve ter papel central nessa articulação?

Com certeza. Ele é um líder da direita, e as pessoas o respeitam. Foi ele quem fez a direita renascer no Brasil. Essa decisão vai passar por ele, seja indicando um nome, seja ajudando a definir a estratégia. O nome apoiado por ele certamente sairá com mais força.

Seu nome é citada como um possível "candidata" a vice-presidente?

Eu nunca serei “candidata a vice”, porque não existe eleição para vice. O vice é escolhido pelo candidato à Presidência. É claro que fico honrada quando lembram do meu nome, mas essa é a última decisão, e depende do perfil do presidente. Se ele quiser uma mulher, alguém de centro, alguém de outro partido — isso vem depois.
 Agora, se me perguntam se eu descartaria, não. Tudo é possível. O que quero é ver o Brasil avançar. Como dizia Roberto Campos, somos um país que adora perder oportunidades. Se eu puder contribuir, estarei pronta. Mas ainda tem muita água pra correr debaixo dessa ponte.

No Estado, a senhora está com o governador Eduardo Riedel. Como deve ser montada a chapa para 2026?

Eu seria incoerente se não o apoiasse. Fomos parceiros na eleição passada, quando ele se elegeu governador e eu senadora. Hoje ele está no PP, então é natural que caminhemos juntos. O PL vem conosco, e agora estamos vendo se Republicanos e PSD também se somam. O tabuleiro está se movendo.

O ex-governador Reinaldo Azambuja deve sair pelo Senado. Como fica a disputa pela segunda vaga na direita?

A eleição para o Senado é de dois votos. Então, se quisermos eleger dois nomes do centro-direita, precisamos de transferência de votos entre eles. Pode haver candidato do PP, mas isso depende da construção. O grande desafio é evitar o racha — e isso só se faz conversando, com paciência, diálogo, pesquisa, articulação local. Política é conversa.

O nome do Capitão Contar vem sendo citado como possível candidato.

O Contar é um bom nome. Está bem avaliado hoje e tem diálogo com vários partidos. Já conversamos, inclusive. Mas eleição é todo dia, e ainda falta muito. A política começou a se movimentar muito cedo — já tem um ano que só se fala nisso em Mato Grosso do Sul. É desgastante. A coisa de fato começa a partir de abril, com as desincompatibilizações. Depois vêm as convenções e aí, sim, o jogo se define.

Há chance de composição entre Reinaldo Azambuja e Contar?

 Sim, eles estão no mesmo campo. É uma questão de conversa e de construção.

Simone Tebet pode entrar na disputa pelo Mato Grosso do Sul. Isso muda o cenário?

A Simone é uma mulher preparada, já foi senadora, ministra, conhece o Estado. Mas ela tem um teto — uma rejeição que é real —, e o nosso Estado é muito conservador. O PT tem um tamanho lá.

Se ela sair candidata ao Senado ou ao governo o cenário não mudaria? 

Se ela for candidata ao Senado, com certeza vai haver um acirramento maior entre a direita e a esquerda. Ao governo, não. Pelo que tenho lido, ela fala em disputar o Senado. Se sair ao Senado será uma disputa dura”.

Qual o peso do PT no Estado?

“Acho que 20% ou vinte e poucos por cento. Na eleição passada, o Lula teve 40%”

O governador Riedel fará reforma no secretariado até o final do ano?

Não acredito em uma reforma ampla. Ele deve apenas trocar secretários que vão sair para disputar a eleição. Não sei se será em dezembro ou janeiro, mas é um movimento natural.

“O governo está blindando quem não quer que preste esclarecimentos”

Que avaliação a senhora faz da CPMI do INSS?

O governo está blindando quem não quer que preste esclarecimentos. A maioria das pessoas convocadas chega com habeas corpus, com medo de ser presa. É um assunto gravíssimo. O que se apura é um esquema de corrupção de bilhões de reais. O brasileiro precisa acompanhar de perto, porque, no fim das contas, quem paga essa conta é o contribuinte. O governo não fabrica dinheiro — vive do que arrecada de quem trabalha e produz.

As investigações apontam ligação do irmão do presidente Lula, o Frei Chico,  com as irregularidades?

É difícil afirmar com certeza, mas ele é vice-presidente do instituto envolvido, então teoricamente tinha que saber o que estava acontecendo. Se usufruiu ou não, as investigações vão mostrar. O que se descobriu é que valores altíssimos — em alguns casos, centenas de milhões — circularam nas contas dessas entidades. E é impossível alguém não perceber R$ 300 milhões passando pela própria conta. Isso mostra o tamanho da gravidade. São R$ 6 bilhões apurados até agora. E se esse dinheiro não for recuperado, quem vai pagar somos nós, novamente.

A CPMI já encontrou evidências que possam abalar o governo?

Sim. Há gráficos e documentos mostrando que, a partir de 2023, o volume de recursos desviados explodiu. Dobrou em relação a 2022 e voltou a dobrar em 2024. Isso indica que o esquema foi aperfeiçoado ao longo do tempo e ganhou escala nos últimos anos. Por isso a blindagem: é muito ruim para o governo do PT ter esse escândalo no colo, principalmente porque envolve sindicatos, que foram a base da criação desse sistema.

A CPMI ainda pode tentar novamente convocar o Frei Chico?

Pode, sim. Mas, se vier com habeas corpus e não falar, de pouco adianta. O relator tem repetido que o foco é seguir o dinheiro — é isso que vai levar aos culpados. Quebrar sigilos bancários e fiscais é essencial. Há requerimentos ainda não apreciados pedindo a quebra de sigilo bancário e fiscal do senhor José Ferreira da Silva.

O governo tem tentado impedir as investigações?

Tem, e de forma explícita. Na última sessão, o governo trocou vários membros de partidos que votariam contra suas orientações, justamente para barrar requerimentos de convocação. Isso atrasa os trabalhos e gera insegurança, mas não impede a CPI de seguir. Nosso papel é investigar até o fim.

Crise no agro e risco de fraudes nas recuperações judiciais

Nos últimos meses cresceram os pedidos de recuperação judicial no agronegócio. O que está acontecendo?

Há uma combinação de fatores. Muitos produtores perderam safras — no Rio Grande do Sul, por exemplo, houve quatro perdas seguidas por seca ou excesso de chuva. Outros foram afetados pelos juros altos. Quem pegou crédito a 7% e precisou renegociar, agora paga 15% ou 18%. Isso cria um buraco enorme. Há também casos de recuperações judiciais fraudulentas, o que preocupa muito. Quando fui ministra da Agricultura, sempre defendi que o grande e o médio produtor buscassem mais financiamento no mercado privado, deixando o crédito oficial para os pequenos e médios que não têm garantias reais. Mas, se as RJs (Recuperações Judiciais) forem usadas de forma indevida, o setor pode perder credibilidade. Ainda assim, há produtores que realmente enfrentam dificuldades — perderam safra, investiram mal ou sofreram com o clima. É um problema sério, e estrutural, que o país precisa enfrentar.

Há estimativa do valor total dessas dívidas?

Ainda não. Solicitamos ao Banco Central dados mais detalhados. A inadimplência cresceu muito, no Banco do Brasil, no Bradesco, no Santander, no Rabobank e em fundos que operam com CRAs (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) e CPRs (Cédula de Produto Rural). Estamos tentando separar as informações, com apoio do Ministério da Fazenda, para saber o tamanho real do endividamento.

Fronteira, fertilizantes e rota bioceânica: os projetos estratégicos de MS

A Comissão de Relações Exteriores aprovou seu relatório que regulariza terras na faixa de fronteira. Qual a importância e a urgência dessa proposta?

Esse projeto é necessário e urgente. Temos um prazo até 20 de novembro: quem tem propriedade na faixa de fronteira e ainda não fez o georreferenciamento ficará ilegal. Estamos falando de terras ocupadas há décadas, em muitos casos há mais de 100 anos. O projeto não beneficia grileiros, ele apenas ratifica títulos que já existem. O Estado está pedindo que o proprietário comprove sua posse legítima e registre novamente o título.

O problema é que os cartórios têm dificuldade de fazer a cadeia dominial completa. Por isso, a proposta permite que se vá até onde os registros alcançam, e a partir daí o título é ratificado. O INCRA continua com poder de fiscalização: terá cinco anos para verificar qualquer irregularidade. Ou seja, o governo não perde o controle, mas o produtor ganha segurança jurídica para investir e ter acesso a crédito.

Qual é a dimensão das terras que podem ser regularizadas em Mato Grosso do Sul?

No total 35.923 propriedades em 45 municípios precisam fazer a ratificação, conforme dados do IBGE e do SICAR (Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural). A faixa de fronteira tem 150 quilômetros a partir da linha internacional. Em Ponta Porã, por exemplo, há o assentamento Itamaraty, enorme, que ficaria irregular se o prazo cair.

Precisamos aprovar o projeto rapidamente. Ele já passou pela Comissão de Relações Exteriores e agora vai para a Comissão de Agricultura. Depois disso, segue para o plenário do Senado e, em seguida, volta à Câmara para a redação final antes da sanção presidencial. A proposta apenas amplia em cinco anos o prazo para a regularização.

Na região de fronteira também há conflitos com indígenas e sem-terra, por causa da sobreposição de fazendas em terras reivindicadas. Como lidar com esses casos?

Esses casos não são afetados pelo projeto. O texto deixa claro que o INCRA e a Funai continuam com cinco anos para verificar se há irregularidades ou conflitos. A regularização só alcança quem já está legal. Quando houver disputa ou sobreposição, o governo continuará com o mesmo poder de decisão.

A senhora acredita que a fábrica de fertilizantes de Três Lagoas será, enfim, concluída?

Ela está com mais de 80% das obras prontas e já consumiu quase R$ 2 bilhões em investimentos. É um projeto estratégico. O Brasil importa 90% dos fertilizantes nitrogenados que usa, e isso é um risco de segurança nacional. Dependemos de países como Rússia e Irã, e os preços dispararam. Precisamos de uma reserva estratégica. Essa fábrica é fundamental para reduzir a dependência externa.

O que falta é decisão política. O governo anterior queria privatizar; o atual quer retomar sob controle estatal. Tomara que agora realmente saia do papel, porque seria um ganho enorme para Mato Grosso do Sul e para o país.

A rota bioceânica está, de fato, saindo do papel?

Está, sim. A ponte sobre o rio Paraguai está em construção, e as alças de acesso também. As exigências ambientais do lado brasileiro encareceram muito — só elas somam mais de R$ 240 milhões e atrasaram um pouco a obra. Do lado paraguaio, as regras foram mais simples e o avanço é maior.

A previsão é que a ponte fique pronta no próximo ano. No início, deve atender mais ao turismo e a cargas de maior valor agregado, porque ainda há gargalos logísticos no Chile, como os portos e as estradas nos Andes, que são estreitas. Mesmo assim, será um avanço importante. Com a ponte, Mato Grosso do Sul terá uma integração muito maior com o Paraguai, a Argentina e o Chile.

Os produtos de peso no agro também chegarão mercado asiático?

Ainda vai demorar um pouco. A logística para grandes navios e contêineres é complexa, mas os portos chilenos têm calado profundo e podem receber embarcações maiores. A rota está projetada há muitos anos, e agora começa a se concretizar, especialmente com o apoio de Itaipu na construção das pontes de Porto Murtinho e da Amizade. O turismo deve crescer muito com essa integração, mas é preciso garantir uma aduana moderna, menos burocrática e mais ágil.