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Saúde e Bem-Estar

Metanol: os riscos invisíveis de uma substância que pode matar em pequenas doses

A ingestão de 25 a 90 mililitros, o que equivale a um copo de shot, pode ser fatal

Por Ângela Kempfer e Gabi Cenciarelli | 03/10/2025 13:35
Metanol: os riscos invisíveis de uma substância que pode matar em pequenas doses
Vendedora prepara bebida durante Carnaval 2025, em Campo Grande. (Foto: Arquivo / Juliano Almeida)

Mato Grosso do Sul investiga a primeira morte suspeita por metanol de um jovem de 21 anos, atendido na UPA. No Brasil, o Ministério da Saúde registra 43 casos suspeitos, 39 em São Paulo (dez confirmados e 29 em investigação) e quatro em Pernambuco. Há ainda uma morte confirmada e sete óbitos suspeitos.

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O Ministério da Saúde investiga 43 casos suspeitos de intoxicação por metanol no Brasil, com uma morte confirmada e sete óbitos em investigação. A substância, amplamente utilizada na indústria química como matéria-prima de solventes e combustíveis, é extremamente tóxica e pode ser fatal mesmo em pequenas doses. Quando ingerido, o metanol é metabolizado pelo fígado em compostos altamente tóxicos, causando danos aos olhos, sistema nervoso central e outros órgãos vitais. Os sintomas incluem náusea, distúrbios visuais e podem evoluir para cegueira e coma. O principal antídoto, fomepizol, não está disponível no Brasil, tornando crucial evitar o consumo de bebidas de origem duvidosa.

O caso reacende o alerta para um veneno silencioso: o metanol. Diferente do álcool comum presente nas bebidas (etanol), essa substância industrial é extremamente perigosa e pode matar em pequenas doses.

O que é o metanol e onde ele costuma ser encontrado?

De acordo com a gastroenterologista Luciane França Ramos, do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (Humap-UFMS/Ebserh), o metanol é um álcool amplamente utilizado na indústria química. “É matéria-prima de solventes, combustíveis, tintas, adesivos, compensados, pesticidas e vários outros produtos do dia a dia, mas não tem qualquer uso seguro para consumo humano”, afirma.

Qual a diferença para o etanol?

O etanol é produzido pela fermentação de açúcares como cana, milho e uva, sendo usado na fabricação de bebidas alcoólicas, medicamentos, cosméticos e também como combustível. O metanol, por sua vez, é obtido a partir de carvão, gás natural e biomassa. “É extremamente tóxico e, apesar de muito utilizado na indústria química, não pode ser ingerido ou inalado”, alerta Luciane.

Metanol: os riscos invisíveis de uma substância que pode matar em pequenas doses

Como o organismo reage à ingestão? 

Quando ingerido, o metanol é rapidamente absorvido e metabolizado pelo fígado em formaldeído e ácido fórmico, compostos altamente tóxicos. “Essas substâncias danificam os olhos, o sistema nervoso central, o coração, os rins, os pulmões e o próprio fígado”, explica a especialista.

Quais os primeiros sintomas de intoxicação?

Os sinais aparecem conforme os órgãos vão sendo afetados. Entre eles estão náusea, vômito, dor abdominal, distúrbios visuais e tontura. “Podem evoluir para cegueira, agitação, torpor, coma, insuficiências renal e circulatória até o óbito”, detalha a médica.

Segundo a Nota Técnica Conjunta nº 360/2025, disponibilizada pelo Ministério da Saúde, há um período de latência de 12 a 24 horas até o início dos sintomas graves — tempo que pode ser maior se o metanol for ingerido junto com etanol.

Existe dose segura?

Não. “Não existe dose segura de ingestão de metanol”, enfatiza Luciane. Pequenas quantidades já são suficientes para causar lesões graves ou morte.

O que acontece com os órgãos vitais?

“O organismo vai sendo impregnado pelos subprodutos do metanol, causando injúria tecidual e perda da função. No nervo óptico, isso pode levar à cegueira; no cérebro, a confusão mental, torpor e até coma”, explica a gastroenterologista.

Metanol: os riscos invisíveis de uma substância que pode matar em pequenas doses

Qual é o tratamento e existe antídoto?

O antídoto específico é o fomepizol, que bloqueia a ação tóxica do metanol. No entanto, não está disponível para compra no Brasil. “A Anvisa vem agilizando a importação diante do aumento de casos, mas até lá o essencial é levar a vítima ao pronto-atendimento para receber medidas clínicas de suporte”, reforça Luciane.

Já a Nota Técnica nº 360/2025 do Ministério da Saúde orienta os serviços de saúde a utilizarem etanol como antídoto disponível, além de adotarem medidas como a administração de ácido folínico e bicarbonato de sódio para corrigir a acidose metabólica. O documento ainda prevê o controle de convulsões com medicamentos adequados e a hemodiálise em casos graves, quando há níveis séricos muito altos de metanol, alterações neurológicas ou insuficiência renal.

Por que tragédias ainda acontecem?

Para Luciane, a principal causa está ligada às bebidas destiladas adulteradas. “A falsificação de bebidas gera lucro, mas aumenta o risco de intoxicação. A falta de fiscalização adequada e a desinformação colaboram para que isso aconteça”, afirma.

De acordo com o Ministério da Saúde, a intoxicação por metanol é considerada ESP (Evento de Saúde Pública). Todo caso suspeito ou confirmado deve ser notificado imediatamente às autoridades pelos canais oficiais, como o Disque-Notifica (0800-644-6645) e o e-mail notifica@saude.gov.br.

Que cuidados a população deve ter?

A médica reforça que já não existe dose considerada segura nem mesmo para o etanol. “Evitar o consumo é a medida mais segura. Mas em caso de ingestão, é fundamental avaliar a procedência da bebida. Se houver suspeita de intoxicação, a recomendação é buscar atendimento médico imediato e, se possível, guardar amostra do líquido ingerido para análise”, orienta.

O Ministério da Saúde também recomenda que consumidores não comprem bebidas sem rótulo ou lacre, nem de preço muito baixo. Produtos vendidos em embalagens improvisadas devem ser considerados de risco.

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