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Contratações em mineração seguem em compasso de espera

Por Patrícia Molino (*) | 05/09/2012 16:51

Patrícia Molino

A desaceleração do mercado chinês, a queda do preço do minério de ferro e a crise europeia são os principais indicadores que regem o humor do setor de Mineração e que trazem reflexos diretos para a indústria no Brasil. São fatores que provocam apreensão aos investidores das principais companhias que atuam no segmento. Só para ter um panorama da situação, no dia 24 desse mês, a principal consumidor da commodity da China, o minério foi cotado abaixo de US$ 100 por tonelada no mercado asiático pela primeira vez, desde dezembro de 2009.

As produtoras de materiais básicos foram afetadas diretamente pela queda do preço do minério de ferro, e agora apresentam as piores expectativas de resultados. O fator crítico é que um crescimento fraco leva a uma piora no mercado de trabalho para o setor de Mineração que vem se desacelerando nos últimos meses em função das incertezas sobre a atividade. Além disso, o tema ambiental também tem represado os investimentos no setor pela demora e complexidade envolvida na obtenção das licenças. Como a indústria está vivendo uma retração, o ritmo das novas contratações segue o da implantação de novos projetos, e como alguns estão estagnados, a procura por novos profissionais deu lugar a um momento de espera.

Apesar desse cenário, a boa notícia é que as companhias do setor devem manter os planos para ampliar o número de funcionários nos próximos anos já que temos em curso no País grandes projetos como a realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas que vão exigir investimentos em infraestrutura que é considerada uma das impulsionadoras da produção mineral. As expectativas positivas para o segundo semestre devem surtir algum efeito positivo.

Mesmo assim, no setor de Mineração, há uma carência de profissionais e muita dificuldade para contratar em todos os níveis, mas os problemas são maiores para achar pessoal de formação superior, entre eles, engenheiros e geólogos. Problemas esses que afetam não só as mineradoras, mas também as empreiteiras contratadas por elas para tocar as obras, o que resulta em aumento de custo dos projetos. Para se ter uma ideia, em épocas de mercado aquecido, a escassez de trabalhadores qualificados inflaciona os salários e as empresas chegam a pagar até 20% acima da média nacional. Após a contratação, elas ainda têm um segundo desafio que é reter esse profissional.

O setor de Mineração tem uma característica peculiar às empresas que trabalham com recursos naturais que costuma passar por períodos de altos e baixos e tratando-se de commodities, é natural que existam esses ciclos. Como a natureza do setor é flutuante, a mão de obra de profissionais dessa área também sobe e desce de preço. Em época de grande procura, o salário médio de um geólogo júnior era de cerca de 7 mil reais e do pleno chega a 12 mil reais. A previsão é que o Brasil não terá engenheiros suficientes para atender a todos os projetos previstos para os próximos anos, inclusive, para os voltados para a área de óleo e gás, e com alternativa tem importado técnicos da América Latina e de países que têm tradição em mineração como o Canadá e Austrália. É correto afirmar que o Brasil não se preparou e não formou profissionais para essa área.

Quando o susto passar, os investimentos que estão sendo anunciados deverão superar os que vinham sendo feitos antes da crise. E isso terá um forte impacto no mercado de trabalho. Com mais recursos sendo investidos e profissionais em número insuficiente para suprir às necessidades das empresas, a tendência é os salários continuarem em alta. Será o momento de fortalecimento da indústria no Brasil e consolidação da atividade para garantir um lugar de destaque no cenário mundial. Por isso, as mineradoras precisam estar preparadas para enfrentar esses e outros desafios que ainda virão e ficar atentas para não perder os benefícios que o desenvolvimento trará a rebote.

Patrícia Molino é sócia de área de Gestão de Recursos Humanos da KPMG no Brasil

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