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Oubaitori: a arte de não se comparar

Por Cristiane Lang (*) | 20/06/2025 07:30

Em um mundo que nos convida constantemente à comparação — seja através das redes sociais, dos padrões de sucesso impostos ou das exigências silenciosas da vida moderna — aprender a não se comparar pode parecer um ato de rebeldia. Mas é, na verdade, um caminho de libertação. E é justamente esse caminho que a filosofia japonesa do Oubaitori nos propõe a trilhar.

O que é Oubaitori?

O termo “Oubaitori” (桜梅桃李) é composto por quatro ideogramas que representam quatro árvores que florescem na primavera japonesa: sakura (cerejeira), ume (ameixeira), momo (pessegueiro) e ri (ameixeira chinesa ou damasqueiro japonês). Cada uma delas floresce à sua maneira, no seu tempo, com sua forma e fragrância próprias.

O cerne do conceito é simples, mas profundo: assim como essas árvores florescem de formas diferentes, as pessoas também têm seu próprio ritmo, beleza e propósito. Não faz sentido comparar a flor do pessegueiro com a da cerejeira, pois ambas são belas à sua maneira. O mesmo vale para cada um de nós.

O peso da comparação

Vivemos em uma sociedade que nos ensina a medir nosso valor por parâmetros externos. Comparações surgem em todos os campos: na aparência física, na carreira, nos relacionamentos, no número de seguidores, no salário, nas conquistas acadêmicas e até na quantidade de viagens realizadas.

Porém, a comparação muitas vezes nos lança em um ciclo cruel de inadequação. Ao nos compararmos com os outros, especialmente quando não conhecemos suas batalhas internas, corremos o risco de menosprezar nossa própria jornada. Afinal, estamos julgando o palco dos outros enquanto enfrentamos os bastidores da nossa vida.

E o mais perigoso: a comparação frequentemente rouba a nossa alegria. O que antes parecia suficiente — um bom emprego, uma relação estável, um corpo saudável — de repente se torna insuficiente quando exposto ao brilho artificial do sucesso alheio.

Oubaitori como filosofia de vida

Adotar o Oubaitori como filosofia de vida significa honrar a nossa singularidade. É entender que ninguém é como você, e isso é sua força, não sua fraqueza. É reconhecer que todos têm um tempo certo para florescer — e que o florescer dos outros não ameaça o nosso.

Essa filosofia nos ensina:

● A celebrar o sucesso alheio sem que isso diminua o nosso;

● A respeitar nosso ritmo, sem pressa, sem culpa;

● A valorizar nossa autenticidade, mesmo quando ela foge dos padrões;

● A aceitar que somos obras em constante construção.

Oubaitori é um convite à paz. Um lembrete gentil de que cada um tem seu caminho, suas dores, suas alegrias e seus aprendizados. E que comparar essas jornadas é como tentar medir o perfume das flores com régua.

Libertar-se da comparação: um exercício diário

Viver o Oubaitori não é algo que se faz de um dia para o outro. É um exercício diário de reconexão consigo mesmo. É escolher, todos os dias, olhar para dentro em vez de olhar para os lados. Aqui vão alguns passos práticos para incorporar essa filosofia:

Cultive a autoconsciência:

Observe quando os pensamentos de comparação surgirem. O simples ato de perceber já é um passo para se libertar deles.

Reflita sobre o que é sucesso para você:

Sucesso não é uma definição universal. Pergunte-se: o que realmente importa para mim? Quais são meus valores?

Pratique a gratidão:

Voltar-se para aquilo que já conquistamos nos ajuda a perceber o quanto já florescemos — mesmo que em silêncio.

Desacelere o consumo de redes sociais;

A comparação muitas vezes nasce da exposição constante a vidas editadas. Reduza o tempo de tela e aumente o tempo de vida.

Cerque-se de pessoas que celebram sua essência:

Relações que reforçam a aceitação e o amor próprio são solo fértil para florescer com leveza.

O florescer silencioso

Nem todas as flores fazem barulho ao desabrochar. Muitas vezes, nosso crescimento acontece nos bastidores, longe dos holofotes. E tudo bem. Oubaitori nos ensina que há beleza na discrição, há valor no invisível e há força em ser quem somos sem pedir licença.

Cada pessoa é única — com raízes, tronco, folhas e flores próprias. E ao invés de competir, podemos simplesmente coexistir, cada um à sua maneira, compondo juntos a beleza complexa e plural da existência humana.

Em vez de se comparar, floresça

A próxima vez que se sentir tentado a se comparar, lembre-se das quatro árvores do Oubaitori. Pense que talvez você esteja no inverno da sua jornada, enquanto o outro já esteja em plena primavera. Mas sua estação vai chegar — e quando chegar, será linda. Porque será sua.

E o mais importante: ninguém floresce melhor sendo outra pessoa.

(*) Cristiane Lang, psicóloga clínica especializada em Oncologia

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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