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Quando gentileza gera gente folgada

Por Cristiane Lang (*) | 15/11/2024 13:30

A gentileza, em essência, é um valor importante para as relações interpessoais e o bem-estar coletivo. Ela traz empatia, respeito e uma convivência mais harmoniosa. Contudo, há situações em que atos de gentileza acabam atraindo comportamentos abusivos ou oportunistas. É aqui que o “gente folgada” entra em cena: pessoas que interpretam a bondade alheia como um convite para se acomodar ou abusar.

Quando a Linha Entre Bondade e Submissão é Ultrapassada

Ser gentil não significa ser submisso ou permitir que outros ultrapassem nossos limites. Muitos de nós somos educados para acreditar que é necessário ajudar, ceder e estar sempre disponíveis para o outro. No entanto, quando isso ocorre sem critérios, pode gerar uma relação de dependência ou de exploração. Um exemplo comum é o amigo ou colega de trabalho que constantemente pede favores e exige ajuda sem retribuir. Essa postura é sinal de um desequilíbrio na relação, pois o outro se aproveita da nossa disponibilidade.

Por Que Isso Acontece?

    1.    Perfil Psicológico: Algumas pessoas têm uma tendência natural a evitar conflitos e desejam agradar aos outros. Esse comportamento pode atrair quem tem dificuldade em lidar com limites ou quem enxerga o outro apenas como uma fonte de vantagens.

    2.    O Papel da Crença no “Ser Gentil”: Muitos acreditam que gentileza envolve sacrificar-se e estar sempre disponível para os outros, mas, na prática, gentileza não deve ser uma via de mão única. Ser gentil não é dizer “sim” para tudo, mas sim agir com empatia e respeito, sem comprometer o próprio bem-estar.

    3.    Falta de Limites Claros: Estabelecer limites e saber dizer “não” são essenciais para evitar relações exploratórias. Pessoas que têm dificuldade em definir limites podem acabar se submetendo a demandas exageradas.

Como Lidar Com Isso?

    1.    Reconheça a Situação: Identificar quando a gentileza está sendo confundida com submissão é o primeiro passo. Isso inclui refletir sobre o quanto suas ações estão lhe causando desconforto ou sobrecarregando sua rotina.

    2.    Estabeleça Limites e Seja Consistente: Aprender a dizer “não” é uma habilidade fundamental. Limitar favores frequentes e determinar quando e como ajudar podem garantir que a gentileza continue sendo genuína, sem ser explorada.

    3.    Comunique-se com Clareza: Deixe claro para o outro como você se sente e o que está disposto a fazer. Isso evita mal-entendidos e ajuda a definir expectativas.

    4.    Pratique a Reciprocidade: Gentileza genuína é uma via de mão dupla. Busque relações onde haja reciprocidade e, se perceber que a pessoa nunca retribui ou está sempre ausente quando você precisa, reavalie essa dinâmica.

Gentileza Sim, Mas Com Sabedoria

A chave está no equilíbrio. Podemos ser gentis, mas com critérios e consciência de até onde vai nossa responsabilidade. Entender que gentileza não deve nos esgotar ou sobrecarregar, e que ajudar o outro não significa fazer tudo por ele, é essencial. A verdadeira gentileza é sustentável, saudável e deve, idealmente, promover um benefício mútuo — e não uma relação de desgaste.

Ser gentil é uma qualidade valiosa e deve ser cultivada, mas com limites e autoconhecimento. Quando a gentileza é oferecida sem critério, ela pode abrir portas para o abuso e a acomodação por parte de quem vê na bondade alheia uma oportunidade de se beneficiar. Para evitar que isso aconteça, é essencial definir limites, aprender a dizer “não” e comunicar expectativas com clareza. Dessa forma, conseguimos manter relações saudáveis e equilibradas, em que a gentileza é apreciada, mas nunca explorada. Afinal, a verdadeira gentileza não nos desgasta, mas enriquece tanto a nossa vida quanto a de quem está ao nosso redor.

(*) Cristiane Lang é psicóloga clínica, especialista em Oncologia pelo Instituto de Ensino Albert Einstein de São Paulo. 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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