Seus sentimentos são sempre válidos, seu comportamento não
A diferença crucial entre sentir e agir
Os sentimentos são uma parte intrínseca da experiência humana. Eles surgem de maneira espontânea, muitas vezes como resposta a situações, pensamentos, ou memórias, e são fundamentais para a nossa percepção do mundo e de nós mesmos. No entanto, embora todos os sentimentos sejam válidos, isso não significa que todas as ações decorrentes desses sentimentos sejam justificadas. Entender a diferença entre a validade dos sentimentos e a responsabilidade sobre o comportamento é essencial para uma vida emocionalmente saudável e para relações interpessoais equilibradas.
A validade dos sentimentos
Sentimentos, sejam eles positivos ou negativos, são reflexos naturais de nossas experiências internas e externas. Sentir raiva, tristeza, medo, alegria ou frustração é algo que todos nós experimentamos. Esses sentimentos nos fornecem informações valiosas sobre o que está acontecendo em nosso interior e no ambiente ao nosso redor. Por exemplo, a raiva pode indicar que algo importante para você foi violado, enquanto a tristeza pode sinalizar uma perda significativa.
É importante reconhecer que, independentemente de como pareçam, os sentimentos são sempre válidos. Eles existem por uma razão, mesmo que essa razão não seja imediatamente clara. Tentar suprimir ou ignorar sentimentos pode levar a consequências negativas, como estresse acumulado, ansiedade e depressão. Portanto, a validação emocional é crucial, tanto para o autocuidado quanto para o entendimento de si mesmo.
Comportamento: a responsabilidade da ação
Embora os sentimentos sejam sempre válidos, o mesmo não pode ser dito sobre o comportamento que esses sentimentos podem desencadear. Comportamentos são escolhas — são as maneiras como decidimos agir com base no que estamos sentindo. E, ao contrário dos sentimentos, nem todas as ações são aceitáveis ou justificáveis.
Por exemplo, sentir raiva é natural e válido, mas agir de forma agressiva ou violenta por causa dessa raiva não é. Da mesma forma, sentir inveja é um sentimento comum, mas sabotar alguém por causa dessa inveja é um comportamento prejudicial e inadequado. Nossas ações têm consequências, tanto para nós quanto para os outros, e somos responsáveis por essas consequências.
A importância do autocontrole
A capacidade de regular o próprio comportamento, mesmo diante de sentimentos intensos, é uma habilidade crucial. Isso não significa suprimir ou negar o que se sente, mas sim escolher respostas que sejam construtivas e respeitem os limites próprios e dos outros. Praticar o autocontrole não é apenas uma questão de ética, mas também uma forma de proteger relacionamentos e a própria integridade emocional.
O autocontrole também envolve a habilidade de pausar antes de agir, refletir sobre o que está sentindo e considerar as possíveis consequências de uma ação. Em situações de conflito, por exemplo, pode ser útil parar e perguntar: "Essa ação que estou prestes a tomar realmente resolve o problema? Ela respeita os sentimentos e limites dos outros? Ela alinha-se com os meus valores?"
A responsabilidade emocional
Parte de amadurecer emocionalmente é aceitar a responsabilidade por como se age, independentemente do que se sente. Isso significa que, embora possa haver compreensão e empatia pelos sentimentos que motivam um comportamento, ainda é essencial reconhecer quando uma ação foi inadequada e tomar medidas para corrigir isso. Pedir desculpas, reparar danos e aprender com a experiência são partes importantes desse processo.
Além disso, a responsabilidade emocional implica em não usar sentimentos como justificativa para comportamentos tóxicos ou prejudiciais. Expressar os sentimentos de forma honesta e construtiva, em vez de usá-los como arma, é uma prática que fortalece a confiança e a comunicação nas relações.
Sentir e agir com consciência
Os sentimentos são bússolas internas que nos orientam em nossa jornada pela vida. Eles são sempre válidos e merecem ser reconhecidos e compreendidos. No entanto, a forma como escolhemos agir com base nesses sentimentos é onde reside nossa responsabilidade. Nem todo comportamento é justificável, e o autocontrole e a responsabilidade emocional são essenciais para viver de maneira harmoniosa consigo mesmo e com os outros.
Portanto, ao se deparar com sentimentos intensos, lembre-se: é válido sentir o que você sente, mas é sua responsabilidade escolher como agir em resposta a esses sentimentos. Ao fazer isso com consciência e empatia, você não apenas valida sua própria experiência, mas também respeita as dos outros.
(*) Cristiane Lang, psicóloga clínica especializada em oncologia
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