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Cidades

A cada 10 mulheres agredidas em MS, apenas 3 pediram medidas protetivas

Somente 26% das vítimas formalizaram denúncia, aponta relatório do Poder Judiciário

Gabriel Neris | 21/01/2020 14:39
Silvana Tertuliano foi morta pelo ex-namorado no Portal Caiobá, em Campo Grande (Foto: Arquivo pessoal)
Silvana Tertuliano foi morta pelo ex-namorado no Portal Caiobá, em Campo Grande (Foto: Arquivo pessoal)

Relatório do Poder Judiciário sobre os casos de feminicídio em Mato Grosso do Sul apontam que em 2019 de cada dez vítimas de agressores, sete não haviam denunciado crimes anteriores.

Para a juíza Jacqueline Machado, que respondeu pela Coordenadoria da Mulher do Tribunal de Justiça de 2017 a 2019, a Lei Maria da Penha é uma das mais modernas no combate a violência contra a mulher e cita que se a Justiça for acionada no tempo correto, vítimas serão protegidas evitando casos de feminicídio.

“Em Campo Grande, a 3ª Vara de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher, primeira Vara de Medidas Protetivas do Brasil, em média, defere diariamente 20 medidas protetivas, número infinitamente superior ao de feminicídios, comprovando que se quando acionado no tempo certo, o sistema de justiça é sim capaz de proteger a mulher vítima de violência”, destaca.

De acordo com a Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar, no ano passado foram registradas 96 denúncias de feminicídio no Estado, sendo 69% de tentativas.

Destas 96 denúncias, 26% das vítimas registraram pedido de medida protetiva, porém nem todas estavam em vigor na época do crime.

O relatório aponta que dentre estes casos há 72 filhos em comum entre vítimas e agressões. Em 57 dos casos, os filhos presenciaram o crime. O relatório aponta que em 42% dos casos o agressor não aceitava o fim do relacionamento.

“A violência contra a mulher, de forma geral, fundamenta-se no patriarcado, de raízes históricas e culturais que delega aos homens as funções de liderança, de controle, de domínio, de autoridade, tanto no ambiente público como no privado. Assim, ao longo da história, a mulher e os filhos foram considerados parte do patrimônio do patriarca, sendo desprezados suas vontades, resultado em uma cultura que ainda hoje fundamenta os casos de violência doméstica, inclusive os casos de feminicídio”, diz a assistente social Vanessa Vieira, coordenadora de Políticas Públicas de Prevenção da Coordenadoria Estadual da Mulher.

No dia 18, a florista Regiane Fernandes de Farias, de 39 anos, foi a 3ª vítima do ano de feminicídio. (Foto: Reprodução Facebook)
No dia 18, a florista Regiane Fernandes de Farias, de 39 anos, foi a 3ª vítima do ano de feminicídio. (Foto: Reprodução Facebook)

Tudo de novo - E mais um ano começou violento para as mulheres em Mato Grosso do Sul. No dia 2 de janeiro, em Jardim, o investigador de polícia Adalberto Duarte da Silva, de 43 anos, matou a esposa Lívia Cathiane a tiros e, em seguida, atirou contra a própria cabeça. O crime ocorreu na frente do filho de 17 anos.

Também em 2020, Keila Varanda de Souza, de 38 anos, morreu na Santa Casa de Campo Grande, após meses internada. Ela levou uma pedrada na cabeça em novembro, durante briga com o marido em Corumbá, chegou a passar por cirurgia, mas não resistiu ao ferimento e faleceu no dia 8 deste mês.

No dia 18, a florista Regiane Fernandes de Farias, de 39 anos, foi a 3ª vítima do ano de feminicídio. Ela foi baleada quando chegava à floricultura na Rua Vitório Zeola, bairro Carandá Bosque, em Campo Grande. O autor dos disparos foi Suetônio Pereira Ferreira, 57 anos, ex-namorado da vítima. Na sequência, ele tentou o suicídio.

O caso mais recente é de Nicole Amorim, morta aos 17 anos, com dois tiros, em São Gabriel do Oeste. O assassino também foi o marido, de 18 anos, preso em flagrante. Um bebê de dois meses, filho do casal, estava na casa quando a mãe foi baleada.

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