Batizado de Samba, julgamento de major Carvalho tem mesmo aparato de terroristas
Processo começou na segunda com 32 réus apontados como membros de um dos maiores esquemas de tráfico da Europa
RESUMO
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O Tribunal de Primeira Instância da Bélgica iniciou o julgamento do caso "Samba", que tem como principal réu o brasileiro Sérgio Roberto de Carvalho, conhecido como "Pablo Escobar brasileiro". O processo investiga a importação de 16 toneladas de cocaína para a Europa, com movimentação estimada em meio bilhão de euros. Ex-major da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, Carvalho é julgado ao lado de Flor Bresser, o "cortador de dedos", e outros 32 acusados. O esquema envolvia empresas de fachada e especialistas em finanças para lavagem de dinheiro, utilizando portos brasileiros como Natal e Paranaguá para o transporte da droga até a Bélgica.
A Justiça da Bélgica batizou de “Samba” o megaprocesso que coloca no banco dos réus desde a última segunda-feira o sul-mato-grossense Sérgio Roberto de Carvalho, conhecido como “Pablo Escobar brasileiro”. O nome foi escolhido em alusão ao ritmo nacional, numa ironia que reforça a ligação do caso com o Brasil, país de origem da cocaína enviada para a Europa.
O julgamento ocorre no Justitia de Haren, prédio que já abrigou as audiências dos terroristas responsáveis pelos atentados de Bruxelas em 2016. O espaço, antes sede da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), é hoje o endereço dos maiores processos criminais da Europa, sob esquema máximo de segurança, com revistas, checagens de identidade e barreiras policiais reforçadas, segundo relatos da imprensa belga.
O comparsa de Carvalho também é julgado. Formado em criminologia, Flor Bressers seria o braço direito do ex-PM de Mato Grosso do Sul. Ele ganhou o apelido de “cortador de dedos” após ser acusado de agressão em 2010. Investigadores afirmam que Bressers construiu um império do narcotráfico com o uso de mensagens criptografadas em plataformas como EncroChat e Sky ECC, coordenando operações milionárias a partir de um iate de luxo nas Seychelles.
Para ter ideia da fortuna movimentada pelo grupo de Carvalho, Bressers era do tipo que ostentava uma vida de riqueza, com mansão em ilha privada, apartamento em Zurique e até um berço cravejado de diamantes para o filho e teria acumulado 230 milhões de euros em apenas dez carregamentos de drogas antes de ser preso em 2022, na Suíça.
A primeira audiência foi suspensa na terça-feira, justamente por causa de Bresser, após a defesa de Bresser contestar o uso de CD-ROM (Compact Disc Read-Only Memory) com mensagens criptografadas e será retomada amanhã (18).
O processo investiga a importação de 16 toneladas de cocaína para a Bélgica, atribuída a uma rede internacional comandada por Carvalho. Mas relatórios da Europol indicam que a dupla pode ter conseguido movimentar bem mais, pelo menos 45 toneladas em apenas seis meses, alcançando cifras próximas de meio bilhão de euros.
As investigações apontam que Carvalho explorava falhas em portos brasileiros, como os de Natal (RN) e Paranaguá (PR), para garantir a logística do transporte da droga até a Europa. O esquema envolvia empresas de fachada, advogados e até especialistas em finanças internacionais para garantir a lavagem do dinheiro.

Repercussão pelo mundo - A trajetória de Sérgio Carvalho tem chamado a atenção da imprensa internacional.
Ex-major da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, ele foi expulso da corporação em 2018. Já havia sido condenado em Mato Grosso do Sul a 15 anos de prisão por tráfico de drogas em 1998 e mais tarde por usar “laranjas” em movimentações milionárias.
Solto, se mudou para a Europa, onde continuou atuando. Para escapar de uma condenação na Espanha, chegou a forjar a própria morte por COVID-19 em 2020, apresentando um atestado de óbito assinado por um esteticista, o que levantou suspeitas da polícia.
Sua prisão ocorreu em junho de 2022, na Hungria, quando usava um passaporte mexicano falso. Em junho de 2023, foi extraditado para a Bélgica sob forte esquema de segurança. Além do processo europeu, ele também enfrenta pedidos de extradição feitos pelo Brasil, pelos Estados Unidos e pela Espanha.
O processo apelidado de “Samba” reúne ainda outros 32 acusados, entre eles advogados e banqueiros. Todos são apontados como peças-chave para a importação de cocaína e a lavagem dos lucros. O porto de Antuérpia é citado como principal ponto de entrada da droga no continente.
Para a Justiça belga, trata-se de um julgamento histórico não apenas pelo volume de drogas e de dinheiro envolvidos, mas também pela revelação de como o narcotráfico se espalha por diferentes camadas da sociedade. O caso mostra que a rede criminosa vai do trabalhador comum até profissionais respeitados, como advogados e financistas, escancarando a dimensão global e sofisticada do crime organizado.