Ampliação de cemitério que tem três meses de vida útil revolta moradores
Eles temem por desvalorização de imóveis na região
A ampliação do cemitério Santo Amaro, que vai avançar sobre 9,1 hectares da Área do Papa, provocou protesto dos moradores do Residencial Flamingos, na Vila Sobrinho. A contrariedade dos moradores dos 706 apartamentos chegou hoje à Câmara Municipal.
Por meio de ofício, eles relatam que o documento é “em caráter de desespero”. Também na Câmara, o vereador Derly dos Reis de Oliveira (PP), o Cazuza, aliado ao prefeito Alcides Bernal (PP), declarou que o cemitério só tem mais três meses de vida útil. O local tem 37.141 sepulturas.
O pedido de ajuda dos moradores foi lido em plenário pelo vereador Edil Albuquerque (PMDB). Para o parlamentar, a ampliação precisa de um estudo técnico. “O cemitério não está dentro das normas técnicas nem ambientais. O investimento em desapropriação pode ser feito dentro do cemitério”, avalia Edil.
Morador no residencial Flamingos há 16 anos, o jornalista Wilson Aquino relata que o temor é a desvalorização dos imóveis e risco de contaminação do lençol freático. “A água vem de poço artesiano, gastamos mais de R$ 600 mil no poço. Como fica?”, questiona. Segundo ele, o ideal é que a Prefeitura faça o cemitério em outra área, nos arredores da cidade.
A desvalorização da área é algo que também preocupa os moradores. "Acho que seria melhor se construíssem um prédio comercial ou um condomínio residencial, valorizaria mais aqui", sugere a auxiliar de contabilidade Marinês Lubas, 52 anos, que tem um escretório bem em frente à área onde será construída a extensão do cemitério.
Vizinha do escritório, a dona de casa Beatriz Fialho, 72 anos, também discorda da medida."Moro aqui há 25 anos, e antes era só mato, mas agora mudou, estamos praticamente no centro da cidade, não cabe mais um cemitério aqui, tinham é que retirar tudo daqui ao invés de aumentar", reclama.
Já o vereador Paulo Siufi (PMDB) reclama que a notícia da ampliação deixou a comunidade católica perplexa. “Porque aquele terreno estava predestinado para construção de um auditório ou um memorial”, afirma. Em 1991, o papa João Paulo II realizou missa campal no terreno. “É um local onde o papa esteve. Tem que respeitar”, declarou.
Siufi cobra que o prefeito vá à Câmara para prestar explicações. O vereador sugere que outra área seja destinada ao cemitério, como, por exemplo, no bairro Aero Rancho, o mais populoso da Capital. Conforme Cazuza, o terreno ao lado do Santo Amaro pertencia à uma empresa particular, que pretendia abrir um cemitério privado.
Histórico – O decreto de utilidade pública para ampliar o cemitério foi publicado na última terça-feira pelo prefeito. A área, de 55 hectares, leva este nome em homenagem a João Paulo II.
Em 2005, uma ação na Justiça questionou a transação entre a Prefeitura de Campo Grande e a Construtora Financial, que recebeu 33 hectares do poder público como pagamento por obras executadas na região do Carandá Bosque e Parque dos Poderes. No entanto, ao judiciário não viu irregularidade no procedimento.
Outros 19 hectares, deixados para ampliar o cemitério Santo Amaro, foram desafetados pela Prefeitura e repassados à Financial. Com o decreto, parte da área retorna para posse do município.