Com Sophia morta, mãe ficou calma e padrasto dormiu na viatura da polícia
“Quando falou que a menina estava morta, Stephanie não esboçou reação nenhuma”, diz investigador
Testemunha de acusação, o policial civil Babington Roberto Vieira da Costa relata um improvável cenário diante de uma criança de dois anos morta: a mãe calma e um padrasto que até dormiu na viatura a caminho da delegacia.
Costa foi ouvido durante o julgamento da mãe e do padrasto da menina Sophia de Jesus Ocampo. O servidor era do GOI (Grupo de Operações e Investigações) e, atualmente, está lotado na DHPP (Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa). O júri popular começou nesta quarta-feira (4), em Campo Grande.
O policial, que foi até à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Coronel Antonino, onde estava o corpo da criança, contou que a médica relatou a tranquilidade de Stephanie de Jesus da Silva, de 26 anos, mãe da menina. Sophia morreu em 26 de janeiro de 2023.
Ela só demonstrou preocupação quando a profissional disse que chamaria a polícia porque a criança tinha morrido quatro horas antes de a mãe chegar ao serviço de Saúde.
“A médica nos falou que a mãe entrou pelo fundo, calma. E ela [médica] percebeu que tinha muitas marcas. Colhemos todas a informações ali. Tanto que quando falou para ela que a menina estava morta, Stephanie não esboçou reação nenhuma. Inclusive, ela só se desesperou quando a médica disse que ia chamar a polícia. Aí, ela começou a chorar”, diz o investigador.
O relato provocou a contrariedade da mãe, que balançou levemente a cabeça discordando. A afirmação ainda teve oposição do advogado Alex Viana de Melo, que representa Stephanie. “É opinião pessoal dele sobre o comportamento de uma pessoa”, declarou.
O policial reforçou que esse foi o relato da médica. A profissional achou estranho a mãe da criança não estar nervosa. Durante o tempo na UPA, ele viu o comportamento de outras mães, como a de uma mulher que chegou desesperada, invadindo a unidade porque o filho estava passando mal.
Tranquilo - A postura do padrasto Christian Campoçano Leitheim, de 27 anos, também surpreendeu pela calma. Ao ser abordado, comentou que sabia que os policiais viriam. Depois, cochilou na viatura.
“Ele estava tão tranquilo que dormiu na viatura. Antes de a gente ir para a delegacia, passamos no posto. Aí, nesse caminho, ele ficava falando com ele mesmo, que não era um pai bom, que ia se matar”, contou o policial.
Já na delegacia, Christian comentou que bateu na menina, mas três dias antes da morte de Sophia.
A advogada Janice Terezinha Andrade da Silva, assistente da acusação, questionou se é normal que as pessoas durmam a caminho da delegacia.
“Não é, normalmente eles ficam assustados, desesperados. Primeira vez que vi isso acontecer, de dormir”, disse o policial.
Na sequência, o advogado Alex Viana questionou por que não foram recolhidas imagens das áreas externa e interna da UPA. O policial disse que nem sabia que tinha gravação. Também inquiriu por que o delegado não foi ao local. O policial afirmou não saber.
Viana começou a descredibilizar o depoimento do policial, por ele não ter pedido para ver o prontuário nem solicitado imagem da chegada de Stephanie. O advogado ainda questionou se Christian teve tratamento privilegiado, pois o pai é policial. "Ele foi trazido no banco de trás, não no 'corró'".
Advogado de Christian, Renato Cavalcante também quis saber por que o investigador não recolheu imagens da UPA. “Porque o crime não aconteceu ali, a gente vê câmeras onde o fato aconteceu”, respondeu o policial.
O atestado de óbito apontou que a garotinha morreu por sofrer trauma raquimedular na coluna cervical (nuca) e hemotórax bilateral (hemorragia e acúmulo de sangue entre os pulmões e a parede torácica). Exame necroscópico também mostrou que a criança sofria agressões há algum tempo e tinha ruptura cicatrizada do hímen, sinal de que sofreu violência sexual.
Para a investigação policial e o Ministério Público, Sophia foi espancada até a morte pelo padrasto, depois de uma vida recebendo “castigos” físicos.
O padrasto é julgado por homicídio qualificado por motivo fútil, meio cruel e praticado contra menor de 14 anos. Ainda responderá por estupro de vulnerável. Já a mãe é julgada por homicídio doloso por omissão.
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