Em região conhecida pelo tráfico, empresa emprega quem decidiu largar as drogas
Empresário contesta operação policial e defende trabalho social com recicladores na região da Nhanhá

Em meio à polêmica gerada por uma operação anunciada no último dia 24 de abril, voltada à fiscalização de ferros-velhos e recicladoras no entorno da Vila Nhanha, em Campo Grande, a revolta veio à tona. Um dos empresários do ramo, Patrick Januário, de 32 anos, sócio-proprietário da empresa S&S Souza e Silva Reciclagem, afirma que ações do tipo marginalizam uma atividade que, segundo ele, é legalizada e representa até “um trabalho social” na Vila Jacy.
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Em meio a polêmicas sobre fiscalização de recicladoras na Vila Nhanha, em Campo Grande, surge uma iniciativa social na Vila Jacy. A empresa S&S Souza e Silva Reciclagem, alvo de fiscalização, defende sua legalidade e destaca seu projeto de recuperação de dependentes químicos. O local, antes ponto de uso de drogas, hoje emprega mais de 30 pessoas, muitas em recuperação, sem apoio governamental. O projeto, liderado por Gláucia Januário, oferece acolhimento, encaminhamento para reabilitação em chácara da empresa e reinserção social por meio do trabalho. Ex-dependentes químicos relatam a transformação em suas vidas, com a recuperação de vínculos familiares e o resgate da dignidade. A empresa, mesmo com recursos limitados, almeja ampliar o projeto com cursos profissionalizantes e apoio governamental.
A operação foi divulgada como uma ação conjunta da Semadur, Polícia Militar e Guarda Civil Metropolitana para coibir o funcionamento irregular de empresas do setor. A empresa de Patrick foi citada entre os estabelecimentos da área, o que gerou indignação no empresário, que garante ser o único da região com alvará de funcionamento.
Segundo Patrick, o espaço onde hoje funciona a empresa era antes um ponto de uso de drogas e acúmulo de lixo. Desde o início das atividades, em novembro do ano passado, mais de 20 fiscalizações foram realizadas no local, afirma. “Trabalhamos com responsabilidade e temos mais de 20 câmeras de segurança instaladas. Todos os dados dos vendedores são registrados”, pontua.
De acordo com ele, a empresa emprega mais de 30 pessoas, muitas delas em processo de recuperação da dependência química. Sem apoio do poder público, Patrick reforça que o trabalho tem forte cunho social. “Ficamos no oculto com nosso trabalho social. Muitos dos nossos funcionários são ex-usuários de drogas, recuperados com dignidade, com oportunidade de recomeçar.”
A responsável pela frente social do projeto é Gláucia Januário de Sousa, assistente social voluntária e irmã de Patrick. Ela relata que realiza o acolhimento dos interessados em mudar de vida, conduz entrevistas e promove o encaminhamento para uma chácara mantida pela empresa, onde os acolhidos iniciam um processo de reabilitação por meio de atividades no campo.
“O nosso trabalho é devolver dignidade. Trabalhamos o fortalecimento de vínculos, fornecemos celular para que mantenham contato com a família, e todos recebem salário”, explica Gláucia.
A empresária Marisa Ferreira da Silva, também sócia do empreendimento, reforça que o emprego é oferecido a quem demonstra vontade de mudar. “Eles começam como separadores ou balanceiros. Depois são levados para a chácara, onde trabalham na roça. Não usamos medicação; é um tratamento pelo trabalho e pela reintegração”, destaca.
A estrutura ainda é modesta. À noite, os acolhidos dormem em quartos simples, e durante o dia trabalham na separação e pesagem de recicláveis. Mesmo com recursos limitados, o grupo sonha em profissionalizar ainda mais o atendimento. “Queremos criar uma sala de computação, oferecer cursos, buscar apoio da prefeitura e parcerias. Mas, por enquanto, seguimos com o que temos”, afirma Gláucia.
Um dos casos é o de William Orasio da Silva, de 32 anos, que atua nos serviços gerais da empresa. Ex-usuário de drogas, ele compartilha com emoção sua trajetória de recomeço. “O acolhimento da empresa foi meu primeiro passo. Eu pedi ao Patrick uma oportunidade, queria sair da rua, queria mudar. Fiquei três dias aqui em observação e depois fui para a chácara. Lá, com a dona Marisa e os outros, recebi cuidado, conversa, paciência. Tive crises, claro, mas fui acolhido de verdade. Aqui a gente é tratado como gente. Eu almoço na mesma mesa que o Patrick, sou tratado com respeito. Isso muda tudo.”
Em recuperação há quatro meses, William conta que o maior presente foi reconquistar sua família. “Voltei a conversar com minha mãe, com meus irmãos. Meu aniversário foi comemorado por eles, me convidaram, me acolheram de novo. Isso eu devo a essa empresa. Nunca recebi tanto carinho, nem dos meus pais. Aqui eu tenho amor, apoio, reconhecimento”, emociona-se.
Outro relato é de Elson de Souza Pinto, 48 anos, também funcionário dos serviços gerais. “Eu tava na rua, sem perspectiva, separado da minha esposa, sem contato com minha família. Trabalhei duas semanas aqui e fui acolhido na chácara. Lá, fui bem tratado, me senti valorizado. Hoje estou de volta com minha esposa e minha família. A cada 15 ou 20 dias venho para casa e vivo com tranquilidade. Sou muito grato ao seu Patrick e à dona Marisa. Eles me estenderam a mão quando ninguém mais acreditava em mim.”
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