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Capital

Empresários de reciclagem reclamam de burocracia e queda no faturamento

Eles alegam de multas pesadas e abordagem preconceituosa, o que estaria comprometendo a atividade

Por Viviane Oliveira e Murilo Medeiros | 12/05/2025 12:20
Empresários de reciclagem reclamam de burocracia e queda no faturamento
Sidney afirma que procura seguir critérios rigorosos para evitar multa (Foto: Marcos Maluf)

Empresários e trabalhadores do setor de reciclagem em Campo Grande reclamam que estão sendo penalizados de forma injusta durante fiscalizações da Prefeitura, por parte da GCM (Guarda Civil Metropolitana). Eles alegam excesso de burocracia, multas pesadas e abordagem preconceituosa, o que estaria comprometendo a atividade e causando queda no faturamento.

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Empresários do setor de reciclagem em Campo Grande denunciam prejuízos causados por fiscalizações rigorosas da Guarda Civil Metropolitana. Comerciantes relatam multas de até R$ 20 mil, excesso de burocracia e queda de até 70% no faturamento, principalmente após restrições na compra de cobre. A GCM justifica as ações como medida para coibir furtos, enquanto empresários criticam a exigência de registros em livros físicos, considerando o método ultrapassado. O preço do cobre, que aumentou 500% nos últimos anos, passou de R$ 10 para até R$ 50 o quilo, tornando-se alvo frequente de criminosos.

O comerciante Sidney Schmitt, de 51 anos, proprietário de um ferro-velho no Bairro Santo Amaro, afirma que procura seguir critérios rigorosos na compra de materiais, mas foi multado em R$ 10 mil no mês passado. “Observo o tipo de cliente. Se é um grupo de jovens de moto, sem documento, já acho suspeito e não compro. Mas tem gente que traz material dizendo que é eletricista ou que trocou a fiação da casa. Por isso que a gente trabalha com esse tipo de sucata”, explica.

Empresários de reciclagem reclamam de burocracia e queda no faturamento
Uma das empresas de reciclagem visitada pela reportagem nesta manhã (Foto: Marcos Maluf)

Ele conta que mantinha cadastro digital no computador, mas foi informado que o sistema não era aceito pela GCM. Em seguida, passou a utilizar livro de registro físico e, depois, foi exigida uma ata formalizada. “Agora uso ata. Registro peso, valor, origem e dados da pessoa. Mas depois da multa parei de comprar cobre e minha renda caiu 70%. A lei precisa enxergar os dois lados. Eu pago meus impostos, gero empregos. Não sou ladrão”.

O comerciante também critica a ausência de medidas preventivas. “As empresas de telefonia precisam remover os fios desativados. É isso que furtam. A polícia só age depois do furto, e aí o cobre já virou sucata”, lamentou. O cobre, por ser um metal nobre e excelente condutor de energia elétrica, se tornou alvo recorrente de criminosos. Após os furtos, os cabos são queimados para facilitar a extração do material e a venda para ferros-velhos.

Empresários de reciclagem reclamam de burocracia e queda no faturamento
Segundo Carlos Cesar, a empresa onde trabalha foi multada duas vezes em menos de 30 dias (Foto: Marcos Maluf)

Funcionário de uma recicladora no Jardim Aeroporto, Carlos César de Melo, de 52 anos, relatou que a empresa onde trabalha foi multada duas vezes em menos de 30 dias. “Não tínhamos o livro ata. Ao invés de avisarem, já chegaram multando em R$ 10 mil. Depois voltaram e aplicaram outra multa. Já foram R$ 20 mil. Paramos de comprar cobre em fio, agora só de encanamento. O lucro despencou”, lamenta.

Ele afirma que a Guarda Civil trata todos os materiais suspeitos como roubados. “A PM e a Civil também fiscalizam, mas não com essa abordagem. Já mostramos câmeras, nome do fornecedor, mas não adianta. Parece que somos sempre culpados. Está muito difícil trabalhar”, destaca.

Empresários de reciclagem reclamam de burocracia e queda no faturamento
Renê atua há 25 anos no setor e decidiu, há 15 anos, parar de negociar cobre (Foto: Marcos Maluf)

O proprietário de uma recicladora no Jardim Imá, Renê Andrade Lodi, de 43 anos, atua há 25 anos no setor e decidiu, há 15 anos, parar de negociar cobre. “Sabia que ia dar problema. Tenho amigos honestos que foram acusados de receptação. Às vezes o ilícito está no meio de um carregamento e não tem como saber”, disse. Ele afirma que nesse período o lucro caiu, enquanto o preço do cobre teve alta de mais de 500% nos últimos anos. "Na época que eu parei [há 15 anos] era R$10 o quilo, hoje em dia já está de R$ 45 a R$ 50".

Renê também critica o uso de livros físicos como exigência da fiscalização.“Não estamos no tempo das cavernas. Uso um sistema digital que só permite pagamento a pessoas cadastradas e gera boleto com todas as informações. O cara sério tem que se adaptar. O problema não é só o cobre, quando o preço da sucata sobe, aparecem tampa de bueiro, grade de parquinho… Isso é visivelmente roubado. Quem compra, sabe o que está pegando”, afirma.

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Livro ata de Sidney que mostra procedência de produtos comprados em sua empresa (Foto: Marcos Maluf)

Questionada, a Guarda Civil Metropolitana informou que, diante do aumento de furtos, as leis municipais vêm sendo ampliadas com o objetivo de coibir esses crimes. A fiscalização é realizada pela corporação por meio da Patrulha Ambiental, em cooperação com a Semades (Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Gestão Urbana e Desenvolvimento Econômico, Turístico e Sustentável).

Ainda segundo a Guarda, o conjunto de normas administrativas é definido pela Semades, enquanto o que configura crime é determinado pelo Código Penal e por lei municipal sancionada pela prefeita. À corporação cabe apenas executar a fiscalização e, em caso de descumprimento da legislação vigente, aplicar sanções administrativas, como multas.

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