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Capital

Para Acrissul, proibição de shows encerra tradição cultural da Capital

Jorge Almoas | 26/01/2011 15:38
Fim de shows encerra tradição cultural do campo-grandense, argumenta presidente da Acrissul (Foto: Arquivo)
Fim de shows encerra tradição cultural do campo-grandense, argumenta presidente da Acrissul (Foto: Arquivo)

A decisão da justiça em proibir a realização de shows musicais, eventos culturais e rodeios no Parque de Exposições Laucídio Coelho vai colocar um ponto final em uma tradição cultural de Campo Grande. A avaliação foi feita pelo presidente da Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul), Francisco Maia, em entrevista ao Campo Grande News.

“Eu quero acreditar que o promotor sabe de outro lugar em Campo Grande que comporte um grande show e não provoque impacto ambiental. Vamos continuar com a feira agropecuária, mas proibir os shows é acabar com algo antigo, cultural e que a população espera”, disse Chico Maia.

A proibição dos eventos no espaço administrado pela Acrissul foi decidida pelo TJ/MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), depois de recurso apresentado pela Promotoria de Meio Ambiente do Ministério Público Estadual. O pedido para extinguir a realização de eventos culturais e musicais foi tomado após diversas reclamações de excesso de barulho e desrespeito à legislação ambiental.

O presidente da Acrissul avalia que a proibição vai funcionar como uma “morte” para a juventude. “É preciso entender que a Expogrande não é apenas uma oportunidade de assistir a um show. Os jovens consomem, compram roupa nova, movimentam a economia. Acabando o show, não tem mais comércio, inclusive para os informais, que ficam no entorno do Parque vendendo cerveja, refrigerante, alimento”, pontua.

Chico argumenta que Campo Grande não dispõe de outro espaço para realização de shows como o Parque de Exposições. Em defesa do local, o pecuarista esclarece que a área de shows conta com 10 hectares, muro de três metros de altura, banheiros e infraestrutura para receber até 350 mil, público estimado para todos os dias da Expogrande deste ano.

“Na Praça do Rádio ou no Parque das Nações Indígenas não deve perturbar a vizinhança ou provocar impacto ambiental”, ironizou Chico, que adianta.

“Vamos realizar a Expogrande, com seus 52 leilões confirmados e todas as atividades que não envolvam show. Mas sem os músicos, sem os ídolos da população, o que antes era uma festa popular vai se tornar somente uma feira do agronegócio”, declarou.

A Acrissul espera a publicação da decisão no Diário da Justiça para se pronunciar juridicamente sobre o assunto. A apresentação do recurso será feita nos próximos dias, adiantou o assessor jurídico Márcio Torres.

Histórico – O presidente da Acrissul disse ao Campo Grande News que um TAC (Termo de Ajuste de Conduta) foi assinado há cerca de dois anos entre a entidade do setor produtivo e o Ministério Público. Pelo documento, a Acrissul se comprometia a permitir somente dois shows por mês, exceto na época da Expogrande.

“Desativamos dois bares que funcionavam dentro do parque e diminuímos as permissões para eventos. Agora o Ministério Público quer que a Acrissul cumpra a Norma de Ajustes Ambientais, que vai custar milhões, dinheiro que não dispomos”, explicou Maia.

Por fim, Chico afirma. “As leis são feitas em cima de costumes e manifestações culturais. A Expogrande tem 73 anos e os shows são frequentes há mais de uma década. A justiça vai ser sensata e reverter essa decisão, e devolver o salão de festas de Campo Grande.

Falta de documento – O promotor Alexandre Raslan, que ingressou com Ação Civil Pública, requerendo a proibição dos shows e eventos culturais no Parque de Exposições Laucídio Coelho, disse ao Campo Grande News que o desrespeito às leis ambientais é histórico e que as medidas seriam tomadas.

“Recebemos diversas denúncias de excessos de barulho na região. Sabemos que o parque era em uma área afastada e que o crescimento populacional foi muito grande em um determinado período. Mas a legislação está aí para ser respeitada”, disse Raslan.

O promotor disse ainda que o parque não tem lienciamento ambiental e que questões de água e esgoto precisam ser revistas.

No ano passado, a maioria dos shows musicais realizados no Parque de Exposições gerou quase o dobro de barulho permitido para a região da cidade. Pela legislação, o máximo de barulho é 45 decibéis (dB).

O maior barulho registrado em 2010 aconteceu em outubro, no show do DJ Tiesto, quando foi medido 80 decibéis, ou 43% acima do permitido. O segundo lugar fica com o show do grupo de rock Skank, com 79 dB.

À época da Expogrande, no ano passado, a média de barulho foi de 75 decibéis. A decisão de proibir shows altera agendas, como a Festa do Laço Comprido, entre os dias 5 e 7 de fevereiro, e shows de duplas como Fernando e Sorocaba (19 de março) e Maria Cecília e Rodolfo (26 de março).

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