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Capital

PF relembra suspeita de ligação com o tráfico para pedir prisão de conselheiro

Osmar Jeronymo fez negócios com homem que foi apontado como "braço-direito" de Fernandinho Beria-Mar

Por Gabriela Couto | 09/11/2024 10:18
Conselheiro do TCE, Osmar Jeronymo, em frente ao plenário Celina Jallad (Foto: Arquivo/Henrique Kawaminami)
Conselheiro do TCE, Osmar Jeronymo, em frente ao plenário Celina Jallad (Foto: Arquivo/Henrique Kawaminami)

Afastado do cargo desde o dia 24 de outubro, o conselheiro do TCE-MS (Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul), Osmar Domingues Jeronymo, é investigado pela PF (Polícia Federal) por enriquecimento ilícito, com dinheiro proveniente do tráfico de drogas.

A PF pretendia prender o conselheiro, que é monitorado agora com tornozeleira eletrônica para garantir o cumprimento de medidas restritivas impostas pelo ministro Francisco Falcão, o responsável por dar as ordens de busca para a deflagração da Operação Ultima Ratio. No pedido de prisão feito ao STJ (Superior Tribunal de Justiça), a Polícia Federal relembrou suspeita de que Jeronymo fez negócios com Carlos Alberto da Silva Duro, conhecido como “Carlinhos Duro”, homem que chegou a ser apontado como braço-direito de Fernandinho Beira-Mar.

Na página 140 da petição com 850, enviada ao STJ, a PF cita "as comunicações relacionadas a Osmar Jeronymo relativas principalmente a recebimentos de dinheiro aparentemente proveniente de tráfico de drogas". Neste ponto, a investigação se refere ao levantamento da Delecor (Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros) que veio à tona com a Operação Mineração de Ouro, em 2021.

Na época, em sua defesa, Jeronymo alegou que as transações questionadas eram legais e correspondem a vendas de imóveis e negociações de gado. Carlinhos Duro, que chegou a ser condenado por tráfico, conseguiu derrubar a sentença na segunda instância.

Também há três anos, Carlos Alberto da Silva Duro chamou de “completamente infundada” a suspeita levantada pela Polícia Federal de transação imobiliária irregular com o conselheiro Osmar Jeronymo.

Carlinhos Duro foi à Justiça pedindo a retirada do ar de matérias que detalhavam a investigação da Polícia Federal. Na primeira instância, juíza Mariel Cavalin dos Santos rejeitou pedido da defesa por considerar que se tratava de censura, mas depois, por determinação judicial, duas reportagens foram excluídas do histórico do Campo Grande News.

Em 2021, apesar das evidências apresentadas e de ter sido alvo da operação, o conselheiro, nomeado para o cargo em 2014, não sofreu consequências mais graves e continuou atuando no TCE-MS.

Entenda - No bojo da Operação Ultima Ratio, a PF trouxe novamente detalhes sobre transações imobiliárias que indicam possível lavagem de dinheiro.

Uma delas é a venda de imóvel em 2019, quando Jeronymo informou à Receita Federal ter vendido uma casa em Campo Grande por R$ 2,3 milhões, embora, segundo a PF, não haja registro do pagamento dessa quantia nas contas do conselheiro, nem contrato registrado em cartório. Segundo o relatório, Osmar teria recebido adiantamento de R$ 1,7 milhão, mas não há movimentação bancária que comprove o pagamento.

Além disso, a PF destaca um lucro inexplicável de 81% na negociação de imóveis. Em 2019, Jeronymo comprou uma casa em Ponta Porã por R$ 500 mil e, quatro meses depois, trocou o imóvel por uma residência no valor de R$ 905 mil, pertencente a Carlinhos Duro, o que levantou suspeitas de lavagem de dinheiro.

A transação não foi registrada em nenhum sistema financeiro oficial e os envolvidos não mantiveram qualquer relação financeira com Jeronymo.

Movimentações atípicas - As investigações também revelaram movimentações financeiras consideradas atípicas. Em 2019, Jeronymo recebeu R$ 1.892.182,70 de Luciano Verbena em um curto período de nove dias e R$ 41.278,00 da Hexxa Shows Gestão Artística Eireli. Esses valores não foram registrados pelo conselheiro em sua declaração de Imposto de Renda e não se relacionam com as transações imobiliárias que ele informou.

A PF ainda localizou R$ 2,99 milhões em transações financeiras que levantaram mais suspeitas sobre a origem dos recursos. Parte desse dinheiro foi transferido por empresas de fachada, algumas das quais fecharam logo após realizar os pagamentos.

Além disso, entre os beneficiários de alguns desses pagamentos, estavam pessoas de baixo poder aquisitivo e que, posteriormente, receberam benefícios como o Bolsa Família ou auxílio emergencial, o que reforça a tese de que as empresas foram usadas para ocultar a origem ilícita dos valores.

Laços com traficantes - O relatório da PF também destaca que, apesar de Jeronymo alegar desconhecimento sobre a identidade dos traficantes envolvidos nas transações, seria fácil para ele descobrir que estava lidando com criminosos conhecidos.

Carlinhos Duro, por exemplo, está vinculado a múltiplos registros da PF e da PMMS (Polícia Militar de Mato Grosso do Sul) e já foi preso em investigações relacionadas ao tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.

A PF destaca que, além de ser uma figura amplamente conhecida, Duro foi associado ao tráfico internacional de entorpecentes e era apontado como braço-direito de Fernandinho Beira-Mar.

Ultima Ratio - A operação Ultima Ratio, deflagrada em outubro de 2024, também revelou que Jeronymo estaria envolvido na compra de decisões judiciais para se apropriar de partes de duas fazendas no interior de Mato Grosso do Sul, localizadas em Bela Vista e Maracaju.

As propriedades estariam registradas em nome de dois sobrinhos do conselheiro, mas a PF suspeita que esses familiares sejam laranjas usados para ocultar os verdadeiros donos dos imóveis. Em um dos casos, chegou-se a falsificar assinaturas em cartório e a intimidar fisicamente um dos interessados na compra da fazenda.

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