Prefeitura não freia avanço de favelas e famílias até negociam barracos
Como a Prefeitura de Campo Grande ainda não lançou nenhuma medida para frear a proliferação de favelas e áreas invadidas, as famílias até estão negociando os barracos nas áreas ocupadas. Elas estão vendendo o "espaço" por valores que oscilam entre R$ 800 e R$ 1,5 mil. Cerca de 700 famílias estão em áreas irregulares na Capital.
O secretário municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano, João Alberto Borges, admite não haver levantamento atualizado sobre áreas públicas invadidas e que um estudo, conduzido pela pasta, deve apontar futuramente essa informação. Projetos para reassentamento, no entanto, estão a cargo da Emha (Empresa Municipal de Habitação) que dispõe de registro de 700 famílias vivendo de forma irregular.
Enquanto aguardam uma solução, muitas vezes com cadastro em programas habitacionais há mais de 15 anos, as cerca de 300 famílias da Favela Cidade de Deus, no Bairro Dom Antônio Barbosa, observam a troca de vizinhos que desistem em meio a longa fila de espera por uma casa.
“Alguns não aguentam e vão embora, deixando o barraco vazio. Eles vendem a estrutura entre R$ 800 e R$ 1,5 mil, que representam o material utilizado no barraco”, comenta o gari e síndico da comunidade Kligiomar Rodrigues, 29 anos. Ele se mudou para o local, ao lado do aterro sanitário, cerca de dois anos antes e mantém a esperança junto com a esposa e quatro filhas uma solução.
Com cadastro há mais de 10 anos na Emha, a dona de casa Rosimeire Cardoso Freitas, 32, questiona porque muitas vezes o órgão permite que uma pessoa tenha de duas a três casas. Grávida de seis meses, ela trabalhava com o marido na separação de materiais recicláveis no lixão e só admite sair do terreno quando ganhar uma casa em troca.
Aluguel como motivador - Na Favela Nova Esperança, situada na região das Moreninhas, 40 famílias ocupam área da prefeitura. Entre estruturas de madeira e concreto, a explicação pela mudança para o local é sempre associada ao valor dos aluguéis, em média de R$ 350.
“Do mesmo jeito que posso pagar aluguel prefiro mil vezes fazer por algo que é meu”, defende o auxiliar de guilhotina Laércio Ataíde de Sousa, 30, que mudou-se com a esposa para o local quando ficou desempregado cerca de um ano atrás.
Para a líder comunitária Cícera da Silva, 54, houve tentativa de despejo no primeiro semestre do ano. Contudo, ninguém da Prefeitura visitou a comunidade para propor uma solução ante a ocupação irregular.
A chuva hoje é a principal “vilã” para os moradores da comunidade. É o caso de Sônia Rodrigues, 27, que mora em um barraco com quatro filhos e o marido. O pequeno espaço fica tomado pela lama a qualquer sinal de água no solo. Com esperança nos olhos, ela ainda crê ser possível conquistar uma casa antes do próximo aniversário da filha Vitória, que chegou recém-nascida na área e completa um ano no próximo domingo (3).
Mudança de cenário – De acordo com a diretora-presidente da Emha, Marta Martinez, uma mudança de cenário quanto ao reassentamento das famílias deve ser concretizada com o lançamento da terceira etapa do Minha Casa, Minha Vida.
O mesmo programa, executado em parceria com a Caixa Econômica Federal, deve atender demanda de 350 famílias indígenas que ocupam seis áreas em Campo Grande.
“Não há prazo definido, entretanto já estamos desenvolvendo projetos de novos residenciais enquanto aguardamos a disponibilização dos recursos federais”, ressalta Martinez.
Como alternativa para agilizar o processo, a Emha reativou a venda de lotes para famílias cadastradas no sistema da agência, que hoje soma 70 mil pessoas. Neste caso, o cidadão paga prestações referentes ao valor da área adquirida, ao invés da moradia.