Promotor e advogado quase “saem no soco” e juiz chama polícia para separar briga
Jurados foram retirados do plenário durante julgamento que teve de ser suspenso por alguns minutos
Jurados tiveram de ser tirados do plenário e o juiz Aluízio Pereira dos Santos, da 2ª Vara do Tribunal do Júri, chamou a Polícia Militar, depois que o promotor Douglas Oldegardo Cavalheiro dos Santos e o advogado Alex Viana de Melo tiveram discussão acalorada nos momentos finais do julgamento de Bruno Cézar de Carvalho de Oliveira, de 25 anos, motoentregador acusado de matar Emerson Salles Silva, de 33 anos. A confusão teve direito a dedo na cara e os dois quase “saíram na porrada”.
Alex Viana fazia a considerações finais. Dizia que o Bruno Cézar é homem trabalhador, que tinha dois empregos para juntar dinheiro e comprar uma casa para mãe. “Desde que eu peguei seu caso, eu fico comovido, porque poderia ser eu sentado no banco dos réus”.
A defesa alega que Bruno matou para se defender de agressões verbais e físicas sofridas por Emerson durante uma briga. “Emerson acabou com a vida do Bruno. A única coisa que esse menino fazia era trabalhar 14 horas por dia para juntar R$ 30 mil e dar entrada em uma casa”.
O advogado sustentou ainda que briga entre os colegas de trabalho se estendeu até o limite e que Bruno “perdeu a cabeça”, quando Emerson passou a ofender a figura mais sagrada no mundo para o cliente: sua mãe. “Depois de passar três dias batendo, batendo, batendo, ele xingou o sagrado, a mãe. Então, esse menino pega a arma e dá dois disparos”. “São circunstâncias, coisas que acontecem na nossa vida que nos obrigam a reagir”, reforçou o Alex Viana, na tentativa de comover os jurados.
Bate-boca - Em determinado momento do discurso, para sustentar a tese de que o cliente é um sobrevivente e que as circunstâncias da vida o levaram a ter uma arma para se defender, o advogado passou a tocar no nome do promotor e também do juiz. “Dr. Douglas, nem todo mundo tem a vida que você tem, o salário que você tem, que o Dr. Aluízio tem. Ele mora na Moreninha. Onde você mora?”, questionou.
Foi quando o promotor pediu o direito à palavra e por ter sido citado, o magistrado concedeu. Douglas passou a dizer que foi músico de boteco antes de se tornar advogado e promotor. “Tocava 8 horas por noite para ganhar 25 reais. Saía de carona com garçom e nunca na minha vida passou pela minha cabeça comprar uma arma ilegal para me defender. Não me meça pela régua do assassino que você está defendendo”.
O advogado retrucou: “não chame meu cliente de assassino” e o promotor continuou: “assassino, assassino, assassino”. Foi quando o debate tomou proporção descontrolada. Os dois saíram de suas posições, passaram a se encarar, “deram de dedo” um na cara do outro.
Douglas chegou a dizer que Alex Viana era “advogado do PCC” e a chamá-lo de “canalha”. “Eu sei da sua moral”, afirmou o promotor encarando o responsável pela defesa do réu.
O juiz Aluízio Pereira dos Santos pediu reforços, mas também se irritou. Quando os jurados foram tirados do plenário disse: “agora, se quiserem ir lá para fora, vocês podem trocar soco”. E completou: “não fiz magistratura para separar briga de homem. No máximo, eu chamo a polícia, talvez”.
O magistrado disse ainda que vai comunicar o ocorrido ao MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) e a OAB-MS (Ordem dos Advogados do Brasil de Mato Grosso do Sul). “Vocês vão ter que dar explicação à chefia de vocês, eles que vão avaliar se isso é correto ou não. Muito desagradável, muito chato”.
Em breve conversa com a reportagem após o ocorrido, Douglas Oldegardo disse que essa é a segunda fez em 800 júris que já fez na carreira que se levanta para interferir em fala de advogado. A primeira vez foi em 2001.
Após alguns minutos de suspensão, o julgamento foi retomado. A plateia é composta por integrantes da família e amigos do réu, cerca de 20 pessoas. Durante a pausa, os parentes e amigos do réu deram as mãos e rezaram pela absolvição de Bruno.
A morte - O crime aconteceu na noite do dia 13 de agosto do ano passado, em frente à lanchonete onde os dois motoentregadores trabalhavam, na Avenida Mato Grosso, região central de Campo Grande.
Além de dividirem o delivery de lanches, réu e vítima também estavam empregados juntos em farmácia, onde faziam entregas durante o dia. Conforme a denúncia, no dia anterior ao crime, Bruno não foi trabalhar na lanchonete e deixou Emerson irritando por ter ficado sobrecarregado. Os dois discutiram por mensagens de WhatsApp.
No dia 13, Bruno perguntou para outro colega se a vítima já estava na lanchonete. Quando recebeu “não” como resposta, avisou: “É bom que ele não apareça aqui hoje”. Logo que Emerson chegou para trabalhar, os dois começaram a discutir novamente.
Ainda conforme a acusação, Bruno sacou a arma para intimidar o colega, mas guardou na mochila. Os dois passaram a trocar socos, mas foram separados por outros funcionários. Foi então que o réu pegou novamente a arma e atirou três vezes em direção a Emerson. A vítima foi atingida no quadril, caiu no chão e depois, na cabeça. Ele morreu minutos após dar entrada na Santa Casa.
Em seguida, Bruno fugiu em uma moto CG Titan azul. Com a prisão preventiva decretada no dia 18 de agosto, após depoimento, o acusado se entregou à polícia no dia 19. No dia 9 de agosto deste ano, o juiz Aluízio Pereira dos Santos, da 2ª Vara do Tribunal do Júri, decidiu mantê-lo preso até a nova revisão da preventiva, em 11 de novembro, isso se ele não sair livre do julgamento.