“Tortura e desespero”, narra vítima de agressor, com o rosto coberto de mordidas
Mulher relata que começou a ser agredida uma semana após casamento e noite de ontem foi o pior episódio
“Foram quatro meses de tortura e desespero”, conta vítima de violência doméstica que ficou com o rosto todo cortado após ser agredida com socos e mordidas, na noite desta quarta-feira (6). Bruna, de 30 anos, será identificada apenas pelo primeiro nome para a preservação de sua identidade.
A designer de sobrancelhas conta que o histórico de agressões começou uma semana após se casar com seu atual marido, Weslley Murakami de Souza, 24 anos, há quatro meses.
Bruna relata que todas as agressões eram centradas em seu rosto e depois, a mulher era forçada a ter relações sexuais com o agressor.
As discussões eram em grande parte iniciadas por crises de ciúmes por parte do homem, o que aconteceu na noite de ontem. “A gente estava no aniversário da minha irmã e uns 10 minutos depois que chegamos, ele começou a me perguntar por que eu estava olhando para o cantor do bar, achou que estávamos flertando. Eu mudei de lugar com ele, mas ele começou a achar que eu estava olhando para outro homem”.
Para evitar o “climão” na celebração, Bruna chamou o marido para ir embora antes do parabéns. Durante o trajeto para a sua casa, dentro do carro, junto a sua filha de 5 anos, o homem iniciou uma discussão e começou a xingá-la. Em certo momento, a vítima disse querer terminar o relacionamento.
“Eu disse para ele: ‘eu não te aguento mais’, ‘você não me respeita’, ‘vai embora’ e ele respondeu: ‘não vai ter isso’ e depois, já começou a me dar socos enquanto estava dirigindo”, relembra.
A designer relata que o agressor estacionou o carro próximo à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Bairro Universitário, e puxando o seu cabelo, começou a morder o seu rosto. Em certo momento, conforme o relato, o homem tentou tocar na mulher por dentro de suas roupas.
Mas foi após gritar por ajuda e um desconhecido ir em direção ao carro, que o homem a deixou e fugiu. Em todos os instantes das agressões, a filha de Bruna estava no banco de trás do veículo.
Com a ajuda do desconhecido, Bruna conseguiu ir ao encontro da irmã e em seguida foi para a Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher). A vítima passou a noite no local para realizar o registro da ocorrência.
Na delegacia, a mulher descobriu que o marido havia agredido uma outra namorada tempo atrás. “O pai dele e os irmão diziam assim pra mim: ‘não fica com ele’, ‘ele não presta’, ‘ele não te merece’, mas nunca me diziam o porquê e eu achava que era porque ele era galinha”.
Bruna descreve o tempo de relacionamento como “de tortura, desespero e agressão”. A mulher ainda finaliza dizendo: “não sei como eu aguentei”.
Depois das agressões, a vítima não voltou para casa. O homem a deixou sem seu aparelho celular e cartões.
Enquanto dava entrevista ao Campo Grande News, Bruna conseguiu entrar em suas redes sociais por um celular emprestado e Weslley começou a enviar mensagens para ela, dizendo: “manda o seu endereço que eu vou mandar o celular”.
Na mensagem seguinte ele se declarava: “te amo”, mas em seguida a ameaçava com as palavras: “você vai ver o que eu vou fazer, vai ver a notícia”.
O ciclo da violência - Bruna diz que não denunciou a situação antes por medo. “Todas as vezes que ele me agrediu, eu pedia para terminar e eu não queria denunciar porque eu só queria que ele saísse da minha vida”.
Bruna relembra que chegou a ter uma gestação com Weslley, mas a gravidez foi interrompida quando ela estava com 8 semanas. O aborto ocorreu após o marido chegar em casa estressado e iniciar uma discussão que evoluiu para uma agressão no banheiro, mesmo ele sabendo da gestação.
Enquanto era agredida, a vítima teve um sangramento e teve que ser levada a um hospital, onde descobriu que estava sofrendo um descolamento de placenta e por isso, havia perdido dois bebês. Foi ainda neste dia que Bruna descobriu que estava esperando gêmeos.
Em meio a tantas agressões, Bruna se perde na cronologia ao conversar com a reportagem. Sem saber se o fato se passou antes ou depois de ter a gravidez interrompida, a vítima relata que já chegou a ser ameaçada com uma faca.
Teve um dia que eu estava tentando me separar dele, ele me bateu e até um rapaz que estava na rua saiu correndo quando ele começou a me bater. Aí ele pegou a faca, e a minha prima morreu recentemente assim. O marido dela matou ela na facada. Aí eu peguei e falei ‘você vai fazer a mesma coisa que fizeram com a minha prima?’ Aí que ele parou. Aquele dia eu achei que ele ia me matar”, conta Bruna.
O Campo Grande News tentou entrar em contato com Weslley através de ligações e mensagens, mas até o momento não recebeu retorno. O espaço segue aberto para declarações futuras.
Feminicídio - A vítima é prima de Natali Gabrieli da Silva Souza, 18 anos, morta por Cleber Corrêa Gomez, 30 anos, com 14 facadas, em julho deste ano. O crime aconteceu numa madrugada de sábado, na Rua Leopoldina Queiroz Maia, no Bairro Parque do Lageado, em Campo Grande.
O casal bebia na casa de um irmão do autor, quando começaram a discutir. Ainda conforme testemunhas, Natali levou o primeiro golpe dentro da residência. Na sequência, a vítima correu para a rua com a filha do casal, de 1 ano e 4 meses nos braços, mas foi alcançada e esfaqueada novamente, até ser morta. Ela foi atingida no pescoço, costas, rosto e nos braços, indicando que tentou se defender. A roupa da criança ficou toda ensaguentada e foi socorrida pelos vizinhos.
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