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Capital

Último tropeiro da Capital, Valdienio luta para manter seus cavalos em bairro

Bairro está na macrozona de Campo Grande com plano de crescimento mais lento, mas a modernização é inevitável

Por Kamila Alcântara | 10/11/2025 14:10
Último tropeiro da Capital, Valdienio luta para manter seus cavalos em bairro
Valdienio Cândido caminha entre seus cavalos (Foto: Paulo Francis)

Na última rua do Jardim Colorado, em um dos seis parcelamentos do bairro Lageado, mora Valdienio Cândido da Silva, de 44 anos, com a família. Nascido e criado no ambiente do tropeirismo, ele afirma que quer morrer trabalhando com os cavalos, mas a urbanização de Campo Grande está acelerando e suas tradições estão sendo sufocadas pelo crescimento urbano.

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A urbanização do bairro Lageado, em Campo Grande, ameaça a tradição do tropeirismo mantida por Valdienio Cândido da Silva, de 44 anos. Morador da última rua do Jardim Colorado, ele mantém 22 animais em sua propriedade, preservando um legado familiar que passa por gerações. O local, situado na Macrozona 3 segundo o Plano Diretor de 2018, está destinado à expansão urbana controlada. Com o possível prolongamento da Avenida Ernesto Geisel e o crescimento da vizinhança, Valdienio enfrenta desafios diários com órgãos fiscalizadores, mas mantém viva a tradição através de encontros anuais de tropeiros e da transmissão desses valores aos filhos.

De acordo com o último PDDUA (Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental), de 2018, o Grande Lageado está situado na MZ3 (Macrozona 3), onde a urbanização deve ocorrer de forma mais lenta e com restrições quanto ao uso e à ocupação do solo, devido às características físicas e ambientais da região. Para quem não conhece, a área está localizada próxima ao macroanel que dá acesso a Sidrolândia e ao trecho inexplorado do Rio Anhanduí.

Segundo o decreto, “na MZ3, as glebas, os lotes e as áreas sem utilização serão incentivados para a construção de unidades habitacionais, a prática da agricultura urbana e a diversificação de usos em bairros cuja urbanização já tenha atingido mais de 20% de seu território”.

Valdienio está ciente dessa realidade, e ainda existe a promessa de execução do prolongamento da Avenida Ernesto Geisel até o fim da cidade, justamente até onde fica sua casa. Com 22 animais, entre cavalos, porcos, burros e aves, a tradição do tropeirismo foi transmitida de pai para filho, e a fixação na propriedade ocorreu por necessidade.

Último tropeiro da Capital, Valdienio luta para manter seus cavalos em bairro
Tropeiro seca as lágrimas, que insistem em cair ao falar sobre sair do local (Foto: Paulo Francis)

“Estamos aqui, tentando levar a vida da melhor forma possível. Crescemos no tropeirismo, na compra e venda de animais, com meus tios e avós todos envolvidos nesse meio. Estamos mantendo essa tradição. Meu avô já faleceu; meus tios pararam, estão mais velhos, e sou eu quem está levando isso adiante”, afirma ele, com lágrimas nos olhos. Essa cena desmistifica as características duras que o trabalho no campo impõe.

As negociações com órgãos de fiscalização animal e ambiental têm sido diárias, pois o crescimento da vizinhança e os hábitos urbanos já não condizem com a circulação de animais pelas ruas. “Estamos no último bairro da cidade. Está fechando o cerco para a gente. Já está ficando difícil. Hoje ainda conseguimos manter os animais, mas não é o mais adequado”, ele admite, preocupado.

Nos fundos de sua propriedade, o Rio Anhanduí se apresenta de forma selvagem, com suas quedas d'água e pequenas praias, lembrando os pontos de banho e de pesca do Rio Aquidauana. No entanto, o cheiro de água imprópria e os detritos trazidos pelas enxurradas reforçam o contraste entre a área rural e a realidade da cidade. “É a coisa mais linda do mundo; pena que não foi cuidada. Poderia ser um ótimo balneário para a população aqui no fundo da minha propriedade”, lamenta Valdienio.

Último tropeiro da Capital, Valdienio luta para manter seus cavalos em bairro
Trecho pouco conhecido do Rio Anhanduí, que corta Campo Grande (Foto: Paulo Francis)

Para tentar preservar as raízes, todos os anos, no dia de Nossa Senhora Aparecida, tropeiros se reúnem para uma cavalgada e um grande churrasco, celebrando a fé católica com um almoço tradicional.

“Enquanto eu puder, essa tradição não vai acabar. Vou passá-la para os meus filhos, e onde quer que eu vá, ela vai continuar. Desde pequeno, cresci com isso. Meus avós, meus pais, meus tios... todos têm essa tradição no sangue. Meus tios, que vêm de Nova Andradina e da região, sentem muito orgulho disso. E eu também me orgulho de manter essa chama acesa”, diz Valdienio, emocionado.

Sobre o dia em que o mandado de desapropriação chegar, ele diz que precisará contar com os amigos para encontrar um novo local para viver, mas espera que a urbanização não os alcance novamente.

Último tropeiro da Capital, Valdienio luta para manter seus cavalos em bairro
Valdienio segura o buçal, instrumento de corda usado no trato dos animais (Foto: Paulo Francis)

Além do Lageado, outros bairros de Campo Grande estão classificados como MZ3. São eles: Caiobá, Chácara dos Poderes, Los Angeles, Mata do Segredo, Nova Campo Grande, Núcleo Industrial, São Conrado e Tarumã. Nessas áreas, o Poder Executivo Municipal exigirá a execução antecipada de toda a infraestrutura necessária para novos loteamentos.

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