Coração sai de MS em avião da Força Aérea para salvar vida no DF
No Brasil, 12 pessoas receberam órgãos depois que presidente decretou que Aeronáutica fizesse o transporte
Se os dias na Santa Casa de Campo Grande já são normalmente agitados, na quinta e sexta-feira passadas, dias 23 e 24, uma situação incomum contribuiu para a movimentação nos corredores. Depois de ser constatada a morte cerebral de uma paciente de 47 anos e a família dela autorizar a doação de órgãos, equipe do Hospital de Base de Brasília (DF) veio ao estabelecimento de saúde para fazer a captação do coração dela que salvou a vida de um homem na capital federal.
O transporte da equipe até Campo Grande e de volta a Brasília foi feito por equipe da Força Aérea Brasileira, conforme divulgado nesta sexta-feira (1) pela corporação. Esta foi a primeira vez que órgãos foram levados de Mato Grosso do Sul pela FAB depois que o presidente em exercício, Michel Temer (PMDB), determinou que a Aeronáutica sempre mantenha aeronaves à disposição para qualquer chamado de transporte de órgãos ou de pacientes aguardando transplantes pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
O decreto nº 8.783 entrou em vigor no dia 7 de junho. Desde então, o esforço conjunto das centrais de transplantes com a FAB para garantir a logística de transporte de órgãos já salvou 12 vidas, segundo a assessoria de imprensa do Ministério da Saúde.
De acordo com a coordenadora da Cidot (Comissão Intra-hospitalar de Doação de Órgão e Tecidos) da Santa Casa, Ana Paula Silva das Neves, a determinação do governo federal facilitou a tarefa de viabilizar um transplante. “A gente já perdeu muita doação por não ter como transportar a tempo”.
Ela explica que já havia um termo de cooperação entre a Aeronáutica e a Central Nacional de Transplantes, mas nem sempre as missões eram autorizadas pela FAB.
Corrida contra o tempo - Depois que retirado do corpo do doador, um coração tem de ser transplantado em no máximo quatro horas. Mas, todo o processo de captação do órgão leva cerca de 18 horas, segundo Ana Paula. “A gente faz vários exames para diagnosticar a morte cerebral, aí temos de fazer o contato com a família e avisar a central de transplantes que procura o receptor compatível e organiza o transporte”.
A coordenadora detalha ainda que com a certeza de que a FAB sempre vai estar a postos, mais transplantes de fígado e coração poderão ser realizados. Na Santa Casa, apenas a cirurgia de rim é feita e córneas são captadas de pacientes. Contudo, o hospital tem estrutura para receber equipes de fora do Estado para a retirada de órgãos e tecidos de doadores internados.
“Geralmente, a FAB faz o transporte de fígado e coração, que são órgãos que precisam ser transplantados mais rápido. O rim dura até 30 horas fora do corpo, a gente consegue despachar pelas companhias aéreas”, esclarece Ana Paula.
Apelo – A coordenadora ressalta a importância das pessoas deixarem claro para parentes que são doadores de órgãos. “É muito importante porque quando acontece de um familiar morrer e ele sempre deixou claro que é um doador, fica mais fácil emocionalmente e espiritualmente para a família autorizar a doação. Os familiares tem a certeza que alguém em algum lugar vai ser beneficiado”.
A Cidot faz diariamente a busca ativa de pacientes que possam doar órgãos, segundo Ana Paula. “A gente monitora pacientes graves neuorologicamente, que estejam evoluindo para morte cerebral e assim que é constatado óbito, fazemos o contato com a família”.
Na segunda-feira (27), a FAB fez o segundo transporte de órgãos doados em Campo Grande neste ano. Dois rins e um fígado foram levados para São Paulo e para o Espírito Santo.