A um mês da formatura, estudante morta seria a primeira da família com diploma

A um mês de realizar o sonho de se formar em enfermagem, a estudante Letícia Camargo, de 25 anos, seria a primeira da família a conquistar um diploma, mas teve a vida interrompida de forma brutal. Ela foi atropelada e morta por um ônibus escolar enquanto caminhava para a universidade na manhã de quarta-feira (12), em Coxim, a 253 quilômetros de Campo Grande.

“Era uma menina muito amada, muito amiga. Tava tão feliz com o TCC dela e muito ansiosa pela formatura, dia 11 de dezembro. Quero justiça, por favor”, contou, entre lágrimas, a mãe, Neliane da Silva Camargo, de 41 anos.

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Letícia nasceu e cresceu em uma fazenda na zona rural de Pedro Gomes e, desde menina, dizia que queria estudar para cuidar de pessoas. Deixou a casa da família para morar sozinha em Coxim, onde cursava enfermagem na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).

“Ela lutava pra ter educação, pra mudar de vida, pra vencer. Ia ser a primeira da família a se formar... Estou em pedaços ”, contou a mãe.

Mesmo longe de casa, Letícia mantinha o costume de voltar à fazenda em todos os feriados, para matar a saudade da mãe e dos irmãos. “Dia 20, ela viria para casa. Estava tudo combinado. Agora, nunca mais”, disse Neliane.

Dois dias antes do acidente, na segunda-feira (10), Letícia havia publicado uma foto usando o jaleco branco que esperou quatro anos para vestir, com a legenda “Em contagem regressiva”.

Na manhã da tragédia, ela seguia a pé para a universidade porque a bicicleta que usava estava com o pneu furado. “Ela me mandou mensagem dizendo que o pneu tinha estourado. Foi a pé por causa disso. E esse homem não fez questão nenhuma de parar”, desabafou a mãe.

O caso - O motorista, Cleyton Matos Campos, é servidor público da Prefeitura de Coxim e foi preso em flagrante por homicídio doloso, quando há intenção de matar. Ele estava com a CNH (Carteira Nacional de Habilitação) vencida há mais de um ano, se recusou a fazer o teste do bafômetro e tem passagens criminais por tráfico de drogas e porte ilegal de arma de fogo. Mesmo assim, era funcionário efetivo da Secretaria Municipal de Educação.

O atropelamento aconteceu por volta das 7h, na Avenida Mato Grosso do Sul, uma das principais vias da cidade. Testemunhas contaram que Cleyton dirigia o ônibus em alta velocidade, na contramão e, quando perdeu o controle, subiu na calçada e atingiu Letícia.

Uma passageira que estava dentro do ônibus contou ao Campo Grande News que o motorista reclamava do trânsito e demonstrava sono momentos antes do acidente. “Ele tava com muito sono, quase dormindo no volante. Pediu pra eu comprar bala pra ele. Depois, só senti o vidro estourando e ele gritando ‘meu Deus, eu matei ela’”, relatou.

Letícia chegou a ser socorrida com vida e levada ao Hospital Regional de Coxim, mas não resistiu aos ferimentos. O corpo foi encaminhado ao IML (Instituto Médico Legal).

Em nota, o Câmpus de Coxim da UFMS lamentou profundamente a perda da estudante e destacou que ela estava prestes a realizar o sonho da formatura.

“Letícia será sempre lembrada pela empatia, dedicação e compromisso com o cuidado ao próximo”, diz o texto.

A Prefeitura de Coxim confirmou que Cleyton é funcionário efetivo da Secretaria Municipal de Educação e informou que a pasta e a Procuradoria-Geral acompanham o caso. “A administração municipal se solidariza com os familiares e amigos da jovem Letícia, colocando-se à disposição para qualquer necessidade”, diz a nota.

No meio da dor e da saudade, Neliane repete a frase que resume o que sente e o que quer: "Ela lutou tanto pra chegar até aqui. Tava prestes a realizar o sonho dela... e tiraram tudo. Eu só quero justiça.”

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