ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
NOVEMBRO, SÁBADO  23    CAMPO GRANDE 33º

Interior

Aty Guasu diz que CPI da Funai “se arrasta como cobra sorrateira” em MS

Índios criticam agenda secreta de comissão que faz diligências desde segunda-feira em cidades de MS; trabalho é comandado pela deputada federal Tereza Cristina

Helio de Freitas, de Dourados | 09/06/2016 11:03
Conselho que representa índios sul-mato-grossenses criticam presença de membros da CPI (Foto: Divulgação/Cimi)
Conselho que representa índios sul-mato-grossenses criticam presença de membros da CPI (Foto: Divulgação/Cimi)
Tereza Cristina em sessão da CPI da Funai; ela acompanha diligências secretas em MS (Foto: Agência Câmara)
Tereza Cristina em sessão da CPI da Funai; ela acompanha diligências secretas em MS (Foto: Agência Câmara)

Em carta entregue ontem (8) ao MPF (Ministério Público Federal) em Dourados, o Conselho do Aty Guasu Guarani-Kaiowá chama de "sorrateira" a vinda a Mato Grosso do Sul de deputados da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investiga a Funai (Fundação Nacional do Índio) e o Incra.

Instalada para investigar a atuação da Funai do Incra na demarcação de terras indígenas e quilombolas, a CPI faz até esta sexta (19) uma série de diligências em Amambai, Dourados e Campo Grande. O trabalho, mantido em sigilo, foi solicitado pela sub-relatora da CPI, a deputada sul-mato-grossense Tereza Cristina (PSB), que acompanha as visitas.

Na carta, as lideranças do Aty Guasu – organização política formada pelos guarani-kaiowá de Mato Grosso do Sul – afirmam que os índios não foram informados das atividades da CPI e temem que as investigações se limitem a ouvir “um lado só”, em referência a possíveis encontros com produtores e sindicatos rurais.

Protocolo das aldeias - “Quando vamos a Brasília somos forçados por seguranças a cumprir os ritos e protocolos dos deputados para poder entrar no Congresso. Se respeitamos isso, os deputados também devem respeitar os protocolos de nossas aldeias. É o mínimo que se espera quando se tratam de ações de órgãos federais usando de dinheiro público e em respeito a qualquer possibilidade de democracia”, afirma a carta.

O conselho acusa a CPI de agir “feito cobra que se arrasta pelo mato” e de usar dinheiro público em favor do ruralismo ao se reunir apenas com representantes de sindicatos rurais.

Não gosta de índio - “É um absurdo que parlamentares públicos ajam deste jeito, criando agendas que nos deixem impossibilitados de participar, como se não fôssemos também cidadãos. Parece que a comitiva já vem com sua ‘verdade’ pronta, fazendo uma agenda de um lado só. A deputada Tereza Cristina não gosta de índio, nunca gostou, mas como deputada deve agir de maneira pública e respeitosa e não de maneira privada como as cercas das propriedades que ela defende”, diz outro trecho da carta.

Apesar da assessoria de Tereza Cristina não divulgar informações sobre as diligências, o Campo Grande News apurou que a equipe esteve em Amambai na terça-feira e ontem na região entre Dourados e Itaporã.

Na tarde de ontem, os representantes da CPI utilizaram as dependências da Câmara de Vereadores de Dourados para uma reunião fechada. A agenda foi no Plenarinho, em horário que o Legislativo não tem expediente. Servidores tiveram que ser chamados às pressas para dar suporte à reunião.

Bancada ruralista - A CPI é controlada por deputados federais da bancada ruralista. De acordo com o “Congresso em Foco”, todos os sete principais cargos do colegiado – presidente, vice-presidentes, relator e sub-relatores – são ocupados por apoiadores da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) nº 215, que inclui o Congresso Nacional na demarcação de terras indígenas e quilombolas.

De acordo com o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), que divulgou a carta do Aty Guasu em seu site, os índios e movimentos sociais do campo apontam a comissão como “instrumento de criminalização do movimento, de seus apoiadores e de desmonte dos órgãos públicos oficiais do indigenismo e da reforma agrária.

Ainda conforme o Cimi, a Funai também criticou a CPI, acusando seus parlamentares de agirem "para flexibilizar direitos e tornar os territórios indígenas e quilombolas vulneráveis aos interesses empresariais e econômicos dominantes na nossa sociedade".

Nos siga no Google Notícias