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Interior

Em Chapadão do Sul, até ligação de emergência é prejudicada por furtos de fios

Problema que inclui também fios arrancados existe há pelo menos dois anos na cidade de quase 31 mil habitantes

Por Cassia Modena | 17/10/2023 12:28
Funcionários trabalham na manutenção de cabos em Chapadão do Sul (Foto: Divulgação/Prefeitura)
Funcionários trabalham na manutenção de cabos em Chapadão do Sul (Foto: Divulgação/Prefeitura)

Pode ser que hoje, de repente, fique impossível fazer uma ligação ou mandar uma mensagem até para pedir socorro em Chapadão do Sul. Sinal de telefonia e de internet é recurso incerto no município de quase 31 mil habitantes.

Localizado a nordeste de Mato Grosso do Sul e distante a 320 quilômetros da Capital, Chapadão enfrenta problema crônico nas telecomunicações há pelo menos dois anos. São apontadas como causas principais o furto de fios de cobre e o intenso trânsito de caminhões de carga, que acabam arrancando o cabeamento ao transitarem pelas ruas.

O capitão do Corpo de Bombeiros da cidade, Rafael Xavier, confirma ser frequente alguém precisar de atendimento de emergência e não conseguir contato – nem discando para o número do telefone fixo do quartel, nem discando para o número mais conhecido pela população, o 193.

Bombeiros estão à disposição, o difícil é acioná-los por ligação (Foto: Divulgação/Assessoria)
Bombeiros estão à disposição, o difícil é acioná-los por ligação (Foto: Divulgação/Assessoria)

"Oscila muito. Ontem (16) mesmo, os dois números ficaram inoperantes a maior parte do dia. Abrimos vários chamados para as operadoras resolverem o problema e restabelecerem a comunicação", conta Xavier. Ele trabalha há um ano e meio na corporação.

Uma das alternativas é ligar para a Polícia Militar, que atende a ocorrência quando é possível ou aciona o Corpo de Bombeiros de outra forma. O sinal da força de segurança não costuma oscilar.

"Depende da operadora. Se uma está com problema, por exemplo, não consegue ligar para o número da outra que está funcionando", explica ainda o capitão.

Outra opção nos dias em que os números de telefone estão inoperantes, mas a internet tem sinal, é avisar que precisa de ajuda nos grupos de WhatsApp formados por moradores, imprensa e membros da força de salvamento e segurança.

Um profissional de saúde de Chapadão do Sul, que preferiu não se identificar, afirma que já soube de moradores fazendo transporte de uma criança vítima de acidente de trânsito por conta própria até o hospital porque não conseguiram contato com nenhum número de emergência. Foi uma decisão arriscada, já que protocolos de segurança recomendam não tocar ou movimentar pessoas acidentadas. O melhor é aguardar a chegada do socorro.

Mutirão - Vereador que presidiu a Câmara Municipal no ano passado, André Anjos cita que o problema era até mais crítico naquele período. Tanto é que os parlamentares se reuniram com representantes da prefeitura para discutir soluções.

Segundo o vereador, as empresas de telefonia Vivo e Oi, além da concessionária de energia Energisa, foram acionadas em 2022 para tratar da manutenção dos fios arrancados, que causam um segundo problema: acidentes de trânsito.

"Motos e carros acabam enroscando nos fios. É perigoso e ainda acontece muito aqui nas ruas de Chapadão do Sul", relata André. Isso também "é culpa do desleixo" das empresas, que demoram para recolher e substituir os fios soltos, ele denuncia.

Outro fator citado pelo parlamentar é a agropecuária ser o motor econômico do município e, assim, os veículos de carga da produção rural acabarem transitando intensamente pelas ruas, danificando os cabos ao passarem.

A própria prefeitura chegou a fazer um mutirão para recolher os fios soltos no ano passado, ainda de acordo com o vereador. O prefeito de Chapadão do Sul, João Carlos Krug, foi questionado pela reportagem por ligação, mensagem e via assessoria de imprensa, mas não comentou essa e outras medidas tomadas em relação ao problema. O espaço segue aberto.

Lei - Em 2021, outro vereador, Vanderson Cardoso apresentou um projeto de lei propondo obrigar a empresa concessionária a alinhar e retirar cabos soltos ou desordenados dos postes de energia elétrica, além de substituir postes, quando necessário, sob pena de multa. A proposta foi sancionada em dezembro daquele ano por Krug e está valendo.

Diferente de Campo Grande e Corumbá, por exemplo, Chapadão do Sul não tem lei ou decreto para coibir o furto e a comercialização de fios de cobre. A reportagem tentou contato com o atual presidente da Câmara para saber se isso é discutido, mas ele não retornou à ligação.

O Campo Grande News também questionou as empresas Vivo, Oi e Energisa sobre as medidas tomadas para garantir a manutenção dos fios e evitar transtornos aos chapadenses. Houve resposta apenas da última, que apontou em nota a necessidade de responsabilização das demais pelo próprio cabeamento presente em postes compartilhados:

"A Energisa informa que no dia 3 de agosto deste ano foi realizada uma reunião com a ouvidoria da prefeitura de Chapadão do Sul e as operadoras de telefonia e internet para tratar das questões envolvendo ativos em desuso e fora dos padrões. A Energisa esclarece que os postes são compartilhados entre a concessionária, companhias telefônicas e de internet e explica, ainda, que cada empresa detentora dos fios é responsável pela manutenção e remoção dos ativos que estão em desuso. A concessionária notifica as empresas de telefonia e internet nos casos em que os ativos existentes ofereçam riscos à segurança ou irregularidade no padrão técnico da instalação, para que seja realizado a adequação das instalações nos postes com compartilhamento."

Atualizada às 15h53 para acréscimo de nota da Energisa.

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