ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
NOVEMBRO, SÁBADO  23    CAMPO GRANDE 31º

Interior

Paranhos e Coronel Sapucaia seguem como as mais violentas da fronteira

Estudo mostra que Paranhos é a mais violenta entre as 32 cidades-gêmeas existentes na fronteira Brasil-Paraguai

Helio de Freitas, de Dourados | 14/08/2018 12:31
Linha Internacional que separa Coronel Sapucaia (lado esquerdo) e Capitán Bado (Foto: Helio de Freitas)
Linha Internacional que separa Coronel Sapucaia (lado esquerdo) e Capitán Bado (Foto: Helio de Freitas)

Coronel Sapucaia e Paranhos, duas das mais pobres cidades de Mato Grosso do Sul, continuam na lista das mais violentas da fronteira do Brasil com o Paraguai, segundo relatório preliminar do Idesf (Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras), divulgado hoje (14).

Assim como ocorre com outras cidades fronteiriças, Coronel Sapucaia, a 400 km de Campo Grande, e Paranhos, distante 469 km da Capital, estão entre aqueles municípios que apresentam a pior estrutura educacional e de saúde e menos oportunidades de emprego formais.

“Há uma correlação direta entre a crescente violência nas localidades e o abandono escolar, a falta de qualificação profissional e oportunidades para os jovens”, disse à Agência Brasil o presidente do instituto, Luciano Stremel Barros.

Segundo ele, os índices de homicídios relativos a 2016 são “alarmantes” na fronteira entre Foz do Iguaçu (PR) e Porto Murtinho (MS). Em 2016, Foz do Iguaçu teve 99 assassinatos – taxa de mortalidade por violência de 37,5 vítimas por grupo de 100 mil habitantes.

Mas a liderança entre as 32 “cidades-gêmeas” avaliadas – que ficam lado a lado na fronteira de países diferentes, como Ponta Porã, por exemplo – pertence a Paranhos.

A cidade de 12,5 mil habitantes aparece como a mais violenta. Com 15 homicídios registrados em 2016, o município sul-mato-grossense tem a taxa de letalidade mais alta, com 109,7 assassinatos por 100 mil habitantes.

A vice-campeã no ranking da violência é Coronel Sapucaia, de 14 mil habitantes e vizinha de Capitán Bado, uma dos principais bases do crime organizado radicado em território paraguaio.

A cidade tem taxa de 67 homicídios por grupo, embora a situação tenha melhorado nos últimos anos. Foram 14 assassinatos em 2013 (ou 95,84 homicídios por 100 mil habitantes) e 10 ocorrências em 2016.

Relatório preliminar obtido pela Agência Brasil mostra que o número de homicídios nas cidades fronteiriças é inferior ao registrado em Queimados (RJ).

Município mais violento do país, Queimados aparece no mais recente Atlas da Violência, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada com taxa de 134,9 homicídios e mortes violentas por 100 mil habitantes.

De acordo com a publicação do Ipea, em 2016, Paranhos chegou a uma taxa de 109,7 homicídios para cada grupo de 100 mil moradores. Em Coronel Sapucaia ocorreram 73,7 homicídios por cada grupo de 100 mil habitantes. No caso de Foz do Iguaçu, os números dos dois institutos coincidem.

“A realidade das fronteiras é esta. Sofremos com isso, e tanto as autoridades estaduais quanto as federais já estão cientes. É um grande desafio para todos”, disse o secretário municipal de Paranhos, Aldinar Ramos Dias. Segundo ele, em geral as vítimas não moram na cidade. “Assassinato de moradores é algo muito raro”. Reconhece, no entanto, que muitos homicídios não são esclarecidos.

O diagnóstico final do Idesf sobre a situação nas cidades fronteiriças deve ser divulgado na próxima semana. Além de um retrato sobre segurança pública, o documento trará conclusões sobre os eixos que o instituto considera fundamentais para o desenvolvimento socioeconômico da faixa de fronteira: educação, saúde, emprego/ renda e finanças.

“Voltamos a alertar que, se não houver uma estratégia política integrada para a fronteira, o problema tende a se agravar, com reflexos para todo o país”, afirmou Luciano Barros.

Ele chama a atenção para o crescente poder das organizações "transfronteiriças", como o contrabando que cruza as fronteiras, "alimentando a violência e ajudando a armar as facções criminosas".

Guerra de facções – À Agência Brasil, a assessoria do governo do Mato Grosso do Sul informou que a violência em Paranhos, Coronel Sapucaia e Ponta Porã é resultado da disputa entre as facções criminosas brasileira que se instalaram em municípios paraguaios próximos. O estado vem reforçando a presença das forças de segurança pública, suprindo o que classifica como “ausência das forças federais” na região.

Segundo o governo, o primeiro resultado é a maior apreensão de drogas, que, em 2017, cresceu 42% em comparação ao ano anterior, saltando de 300 toneladas para 427,5 toneladas.

Ao mesmo tempo, o governo sul-mato-grossense garante estar implantado programas sociais para atender a população com acesso aos serviços de educação, saúde e geração de emprego e renda.

Sisfron – Já o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann disse que o governo federal está deslocando cerca de 250 agentes da Força Nacional para reforçar a vigilância das fronteiras, além de ampliar o número de policiais federais na região. Nova ação conjunta com a FAB (Força Aérea Brasileira) deve ser desencadeada nos próximos dias.

“Serão ações conjuntas que incluirão o monitoramento de pequenas aeronaves”, afirmou o ministro, defendendo a liberação de mais recursos para o desenvolvimento do Sisfron (Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras).

Em março, o Campo Grande News percorreu a Linha Internacional entre Ponta Porã e Sete Quedas e mostrou que a região está abandonada e entregue ao crime organizado.

Nos siga no Google Notícias