Longevidade: a nova religião e grande símbolo de status
Há quatro anos, escrevi neste espaço, bem como conversei com alguns empresários, todos de fora do Mato Grosso do Sul, indicando os investimentos em ouro como os mais seguros e de maior potencial lucrativo. Confesso que não esperava que o ouro permanecesse no apogeu por tanto tempo. Não se trata de bola de cristal. Apenas boas leituras de “papers” especializados europeus. Tenho uma nova assertiva: a longevidade será a nova religião em, no máximo, dois anos. Será o maior símbolo de status, o melhor investimento que um empresário possa aplicar parte de sua fortuna. Aliás, já é para alguns europeus e norte-americanos.
As três faces de um novo deus.
Os seguidores dessa nova religião tem uma nova palavra divina: longevidade ou “longevity” - o temo em inglês coloniza o marketing digital. Uma métrica aspiracional: 120 a 150 anos que, segundo vários estudos, o ultimo publicado na revista científica “Nature”, marcam os limites da vida humana. Uma doutrina: a filosofia “Don’t Die" (Não morra), fundada pelo biohacker Bryan Johnson com a ambição de ser “a ideologia mais influente do mundo”. Um inimigo: a morte, “única capaz de de unir a toda a humanidade”, palavras do “Papa” Johnson. Três messias: o próprio Johnson, mas também o geneticista da Universidade de Harvard David Sinclair ou, inclusive, o tecnocapitalista Peter Thiel. Qualquer deles seguido por seus apóstolos, uma elite disposta ao sacrifício e a ser cobaia dos novos procedimentos.
À procura de uma Bíblia.
Muitos sabem que a Bíblia foi escrita em vários momentos por um punhado de homens que estudavam muito a história. Agora, será necessária uma nova bíblia ou um corpo teórico. Em 2024 publicaram quase 6.000 “papers” sobre longevidade só na PubMed, cinco vezes mais que nos anos anteriores. Por último, se requer de um deus, nesse caso uma tecnologia que determine as métricas de quase tudo sem que ninguém questione sua veracidade. Os devotos da longevidade se submeterão temerosos a ele como os primeiros cristãos ficavam de joelhos ante a cruz. A diferença é que a nova fé é cara. Muito cara.
Uma corrida de privilegiados.
Você que vive contando seus poucos recursos para sobreviver ao mês, não pertencerá ao corpo dos devotos da nova fé. É uma corrida de privilegiados que permite adiantar diagnósticos, deter processos biológicos e reverter danos. E tudo isso é cobrado a peso de ouro. Dólar e euro são moedas semelhantes ao peso argentino: não valem nada nos templos da nova religião.
Luxo e longevidade a nova sintonia.
Um “paper” das consultoras “The Future Laboratory “ e “Together Group” analisou como o luxo e a longevidade se sintonizaram. Os especialistas acreditam que o primeiro passo foi criar o desejo. Para isso, conseguiram fazer a longevidade se tornar um conceito pop. Nessa fase, foram cruciais dois documentários da Netflix: “Não morra: o homem que quis viver para sempre”, que popularizou Brian Johnson, e “Viver 100 anos: os segredos das zonas azuis”, que mostrava as cinco zonas do mundo onde existem mais pessoas centenárias.
Londres e N.York à frente.
Conta o jornal “Financial Times” que nos centros financeiros de Londres e de N.York que conversar sobre a falta de tempo por excesso de trabalho ou sobre as milhas acumuladas em várias empresas de aviação se tornou “brega”. A nova onda é conversar sobre as oito horas de sono registradas pelo anel “Oura” ou dos minutos gastos em sessões de crioterapia. Também conta que os grandes investidores passaram a pensar que além de ser o melhor investimento futuro, cuidar de si mesmo, é o novo símbolo de status. O corpo acima de tudo!
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