Para que servem as manifestações políticas e os distúrbios?
Quebrar vitrines, queimar pneus, saquear lojas e mercados, enfrentar as forças policiais. Os distúrbios tem uma longa história e protagonizaram mudanças de mecanismos da civilização, desde a Revolução Francesa até o Maio de 68. Recentemente, no Brasil, tornaram-se imunes à violência. Vão a eles, como se fossem à praia. Um cocktail de insurgência com diversão ou oração, nesse caso, há similaridade entre divertir e orar. Só tem sentido se descobrirmos a história que lhes dá forma e conteúdo.
No início, estavam relacionados à economia.
Os distúrbios surgiam tão somente pela alta dos preços dos alimentos, dos impostos e devido ao cercamento das terras que passaram de comunais à propriedade privada, uma das mais importantes mudanças no mundo que ninguém estuda no Brasil. Eram protestos, via der regra, de trabalhadores rurais. Nos séculos XV e XVI, quando os europeus estavam aportando no Brasil, esses trabalhadores eram qualificados como “chusmas”, “turbas” e “populacho”. Essas são palavras, surgidas naquela época, que permaneceram. Mas havia, também, as manifestações contra algum pretendente à coroa ou por ingerência estrangeira.
Ingerência estrangeira e a polícia.
Deviam aprender com a história. Uma potência estrangeira desejar ditar os rumos de um pais, sempre foi mal vista e combatida. Foram essas ingerências que criaram os protestos com barricadas. Também mudaram um comportamento das forças que combatiam os manifestantes. Antes, era missão do exército, que via de regra matava quem se manifestasse. A pena era de morte. Com a assunção das manifestações contra a ingerência estrangeira, a tarefa passou a ser da polícia, que deveria prendê-los e não mais levá-los ao túmulo. Tiraram a liberdade e não a vida. Forma menos violenta de reprimir os conflitos urbanos.
As greves retiram as manifestações das ruas.
Com a Revolução Industrial e organizado o movimento trabalhista, as reivindicações tomam a forma de greve. O povo tem dificuldade de ir para as ruas. Mas veio o declive do movimento trabalhista, condição real e obrigatória do século XXI. As crises tendem a se tornar cada vez mais prolongadas. A resposta já não é mais exclusiva das esquerdas. Parcelas importantes dos trabalhadores, muito precarizados, tendem a radicalizar. Radicalização continua e não pontuais. Não em fábricas, mas nas ruas, praças e cortando estradas. Isto é o que veremos nos próximos cinco, quinze ou quarenta anos.
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