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Em Pauta

Marcelino Pires, o homem que arrumava indígenas para Tomás Laranjeira

Por Mário Sérgio Lorenzetto | 11/10/2025 07:00
Marcelino Pires, o homem que arrumava indígenas para Tomás Laranjeira

A fronteira do Mato Grosso do Sul com o Paraguai era um lugar ermo, quase desabitado. Não era fácil encontrar mão de obra, fosse branca ou indígena. Negro? Nem pensar. Todavia, para tudo há exceções. Marcelino Pires, famoso em Dourados,  conseguiu arrumar algumas dezenas de indígenas para dar inicio à mega empresa Matte Laranjeira, que originou P.Porã e as demais cidades dessa fronteira.


Marcelino Pires, o homem que arrumava indígenas para Tomás Laranjeira

De caixa de loja à mega-empresário.

Em 1.872, na Porto Alegre, dois homens trabalhavam nos caixas da loja de um português. Tomás Laranjeira e seu inseparável amigo Ernesto Paiva, como muitos outros gaúchos, recebiam cartas procedentes do Mato Grosso do Sul sobre a existência de infindáveis campos nativos de erva-mate, bem como de cristalinos cursos de água. Lugar apropriado para levantar boas moradas, com muita facilidade, fazendas e comércio. Também tinham conhecimento de que havia sido nomeada a Comissão de Limites Brasil-Paraguai, para a demarcação da fronteira.


Marcelino Pires, o homem que arrumava indígenas para Tomás Laranjeira

Três carretas.

Ao contrário do que pensam, a dupla não foi a fornecedora direta de viveres para essa comissão. Eram empregados do fornecedor contratado. Terminados os trabalhos, o patrão não tinha dinheiro para pagá-los, acertou as contas entregando três carretas com boi e uma casa em P.Alegre. Tomás ficou com o meio de transporte. Voltaria para o Mato Grosso do Sul para trabalhar com a erva-mate. Mas havia um problema impossível de ser resolvido: onde encontraria trabalhadores para a cultura da erva?


Marcelino Pires, o homem que arrumava indígenas para Tomás Laranjeira

Marcelino Pires, o mascate.

Marcelino Pires nasceu em Jataizinho, no Paraná. Casou-se no Mato Grosso do Sul, deixando uma imensa prole. Ao chegar nesta região, tomou posse de uma área que denominou Fazenda Alvorada. Inquieto, não lhe bastavam os trabalhos de plantação de café, virou mascate. E foi mascateando que passou a conhecer a região como nenhum outro morador.


Marcelino Pires, o homem que arrumava indígenas para Tomás Laranjeira

Os indígenas trabalham na empresa.

Os documentos da época tratam os indígenas pelo nome de “bugres”. Mas o preconceito era muito maior. Entendiam que eles além de lentos, comiam excessivamente, era difícil alimentá-los. Tomás Laranjeira não tinha outra alternativa. Tinha de encontrar “bugres” para o cultivo da erva-mate. Lembrou-se do paranaense Marcelino Pires que sabia onde os indígenas andavam. Eram, em sua imensa maioria, errantes. Acertaram tudo, como se fossem velhos amigos. Irmãos de aventura. Marcelino Pires era tido como homem absolutamente correto. No espaço de quarenta dias, fez uma seleção rigorosa entre os indígenas. Não foi difícil para eles assimilarem os ensinamentos dos ervateiros. Com relativa facilidade aprenderam tudo, inclusive o “ataqueio” e o “costureado”. Procuravam executar as ordens com perfeição , apenas vagarosos.

 

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