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Em Pauta

O Brasil venceu a guerra contra os guaranis, mas perdeu a cultural

Por Mário Sérgio Lorenzetto | 08/10/2025 07:10
O Brasil venceu a guerra contra os guaranis, mas perdeu a cultural

No supermercado, a repositora de produtos indagava a um rapaz de mesma função; “Por que os índios não gostam dos brancos no Mato Grosso do Sul?”. Interferi na conversa criando uma explicação jocosa: “Talvez devido ao gosto da carne. É possível que carne de branco fosse ruim para o paladar indígena”, inventei. A moça quedou surpresa: “Índio come branco?”. “Alguns povos indígenas comiam brancos e outros indígenas, mas, por influência e exigência dos padres, abandonaram esse costume”, contei a ela. Também ficou surpresa com minha contestação de que todas as cidades do MS nasceram de aldeias. Assim como não existiam indígenas em quantidade suficiente para ocupar as terras de nosso Estado. Sempre foram um número diminuto ocupando pequenos espaços territoriais, desde que se excetue os cadivéus de Bodoquena e Porto Murtinho.


O Brasil venceu a guerra contra os guaranis, mas perdeu a cultural

A grande vitória guarani.

Essa é a grande vitória, especialmente guarani, a de que eles eram os “donos”, ocupavam a totalidade das terras da fronteira de nosso Estado com o vizinho Paraguai. Os guaranis, sob o comando do alucinado Solano Lopez, perderam a guerra armada fratricida, mas estão ganhando a guerra cultural… há muito tempo. Razoável ocupação de terras por indígenas, hoje chamados terrenas e cadivéus, só se deu em Aquidauana, Miranda, Porto Murtinho, Bodoquena, Dois Irmãos e Sidrolândia.


O Brasil venceu a guerra contra os guaranis, mas perdeu a cultural

A história das populações por cidades.

Os dados oficiais mostram que em 1.872, Corumbá tinha 3.361 habitantes, Miranda tinha 3.852 e Paranaíba com 3.234. Era uma polução diminuta, de tão somente 12.319 habitantes. Insisto: o Mato Grosso do Sul fazia jus a seu nome, era uma terra de muito mato e pouquíssimos humanos. A única mudança que tivemos, foi a devastação das matas, transformando-se em pastos e lavouras. Oito anos depois, em 1.890, Corumbá começou a disparar. Com a enorme afluência de paraguaios, imigrantes da miséria do fim da guerra, passou a contar com 9.870 habitantes. Miranda e Paranaíba ficaram com quase as mesmas populações. A primeira, teve uma leve queda, com 3.384 habitantes e, Paranaíba, um pequeno acréscimo, com 4.947. Dez anos se passaram. Em 1.900, veio a “explosão” de Nioaque. Essa cidade, com 10.286 habitantes, contava com as terras de C.Grande e de outra cidades atuais. Houve, nesse período, novo crescimento corumbaense, chegou aos 12.529 habitantes, assim como de Paranaíba, que tinha 6.280. Miranda patinou no mesmo tamanho: 4.484. O resto, não passa de conjecturas, hipóteses eivadas por ideologia. A região da fronteira, era, sem dúvida alguma, quase totalmente despovoada.


O Brasil venceu a guerra contra os guaranis, mas perdeu a cultural

A lenda dos embates entre brasileiros e guaranis após 1.800.

Como se vê, sempre tivemos poucos habitantes para uma enormidade de terras. Os repetidos conceitos de matança desenfreada de guaranis, ou de outros povos, pelos “brancos invasores”, não passam de lendas. Foram raros à partir de 1.800. A convivência pacifica foi a regra, desde a construção do Forte Coimbra, em 1.797, marco da derrocada de Cadivéus e Paiaguás, que tinham matado pelo menos 4.000 paulistas.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.