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Luto em relacionamentos... não falar é pior

Por Lia Rodrigues Alcaraz (*) | 05/10/2023 16:22

Nos últimos dias esse assunto tem se tornado tema de muitos debates, podemos dizer que a repercussão do fim do casamento de Sandy e Lucas Lima, foi um dos fatores principais para que esse tema tenha sido tão discutido.

Ao falar sobre a separação e um casal que estava junto há mais de 20 anos, também estamos falando de sonhos, desejos, esperanças depositadas e mesmo que nada disso ainda se mantenham na relação, o inconsciente guarda e registra tudo que já foi pleiteado em sonho ou na fantasia. Então quando falamos na ruptura desses fatores, tudo parece que não tem mais vitalidade, se desmorona e o castelo da fantasia se torna uma grande mansão mal-assombrada.

O luto amoroso refere-se ao processo de lidar com a perda de um relacionamento significativo, seja por meio de um rompimento, divórcio ou a morte do parceiro. O luto amoroso é uma experiência emocional intensa e pode ser muito desafiador. O processo de psicoterapia é um dos principais caminhos para se compreender e olhar para essa perda. Muitos autores psicanalíticos falam sobre o luto.

Sigmund Freud por exemplo, o fundador da psicanálise escreveu sobre o luto em seu famoso ensaio "Luto e Melancolia" (1917). Neste trabalho, Freud explora as complexidades do luto e como ele se relaciona com a perda de um objeto de amor. Ele descreve como o luto envolve um processo de trabalhar através da dor da perda e de se desligar emocionalmente do objeto amado perdido.

Muito já se falava dos impactos que um luto poderia causar na vida de uma pessoa, esse texto de Freud por exemplo é de 1917, porém com passar do tempo, vários debates e teorias foram surgindo sobre o tema e como lidar com isso, colocando o luto em fases, em pontos numéricos a serem seguidos e pré-estipulados, como se a vida fosse um jogo de vídeo game: “se passo de uma fase, ela automaticamente sai da minha vida” e com passar dos tempos essas concepções também foram se perdendo.

O luto então, tem momentos, fases, porém que se regulam por toda vida da pessoa enlutada, ora entendendo e seguindo em frente, ora em estados mais deprimidos e angustiantes. E essa métrica se dará através do quanto de amor foi investido na relação. Alguns autores mais atuais se referem ao amor como algo “líquido”, caracterizado pela fluidez e instabilidade dos laços sociais.

O autor Zygmunt Bauman, escreve em seu livro "Amor Líquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos" de 2003, critica a natureza efêmera e frágil dos relacionamentos humanos na sociedade contemporânea, destacando fatores como consumismo, individualismo e tecnologia influenciam a forma como as pessoas se relacionam, se mantêm.

Ele traz um novo olhar para as construções sólidas e significativas na contemporaneidade. Lidar com essas questões e mantê-las, como o desejo, onde quero estar, onde devo estar e o que fazer com isso, são questões que devemos tratar com ajuda profissional se esse luto não estiver bem resolvido.

Falar sobre isso, conversar com amigos, ter uma rede de apoio também é de grande valia e ajuda muito. O que não ajuda é : não pensar, não falar e não olhar para esses assuntos e sentimentos, pois dessa forma, eles podem sim adoecer qualquer um.

(*) Lia Rodrigues Alcaraz é psicóloga formada pela UCDB (2011), especialista em orientação analítica (2015) e neuropsicóloga em formação (2024). Trabalha como psicóloga clínica na Cassems e em consultório.

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