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A sociedade doente que celebra o mal e esquece dos heróis

Por Lia Rodrigues Alcaraz (*) | 17/11/2025 07:16

Vivemos em uma sociedade marcada por uma estranha inversão de valores: quanto mais cruel e sádico é o crime, maior parece ser o fascínio coletivo por ele. As produções audiovisuais e as redes sociais se tornaram vitrines do horror, transformando criminosos em protagonistas e o sofrimento humano em entretenimento. Séries como Tremembé, que retratam assassinos e seus feitos macabros, alcançam recordes de audiência e são amplamente comentadas, enquanto histórias de verdadeira coragem, como a da professora Heley de Abreu Silva Batista, que morreu tentando salvar crianças durante um incêndio em uma creche, são rapidamente esquecidas. Essa disparidade revela um sintoma preocupante: a sociedade está, de fato, doente.

A espetacularização do crime não é um fenômeno novo, mas a forma como ele é consumido hoje ultrapassa limites éticos e morais. O “true crime”, gênero que mistura jornalismo e entretenimento, tem se popularizado com o pretexto de “compreender a mente criminosa”. No entanto, o que se observa é uma romantização do mal, os criminosos ganham status de celebridades, têm seus rostos estampados em capas de revistas e suas histórias transformadas em produtos lucrativos. Enquanto isso, as vítimas e os verdadeiros heróis raramente recebem o mesmo destaque ou respeito.

A ausência de reconhecimento a figuras como Heley Batista, que, sem hesitar, arriscou a própria vida para proteger crianças inocentes em um incêndio, é apenas um dos exemplos que evidencia a distorção moral de uma sociedade que prefere a violência ao exemplo virtuoso. Heróis reais, que agem por amor, empatia e coragem, são silenciados porque sua bondade não gera o mesmo “engajamento” que o mal, o entretenimento moderno parece ter se tornado uma janela para o voyeurismo coletivo, em que o sofrimento alheio desperta mais curiosidade do que admiração pelas notícias boas.

Pensar que é de carácter urgente refletir sobre o que estamos alimentando com nossa atenção. O que consumimos diz muito sobre quem somos enquanto sociedade, glorificar o mal e ignorar o bem, estamos apenas contribuindo para uma cultura que naturaliza a crueldade e banaliza a vida humana. Precisamos resgatar o valor do heroísmo real aquele que se manifesta em gestos de compaixão, justiça e coragem.


 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.