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Arquitetura

Do barro à fundação: museu guarda “pedaço” da história da olaria em MS

A história contada no “boca a boca” garante que a prática é antiga, e teve início em 1920 no Estado

Por Idaicy Solano | 17/11/2024 07:30
Museu do Agachi, em Miranda, no interior de Mato Grosso do Sul (Foto: Barbara Campiteli)
Museu do Agachi, em Miranda, no interior de Mato Grosso do Sul (Foto: Barbara Campiteli)

Você já passou em frente, ou até mesmo já visitou uma fábrica de Olaria? Espalhadas pelos municípios de Mato Grosso do Sul, elas são responsáveis por parte da produção de cerâmica no Estado, e são facilmente reconhecidas pela arquitetura inconfundível das enormes chaminés, que lembram torres de castelos.

A produção de cerâmica é uma cultura forte no Estado, principalmente por conta do solo, que é rico em argila de qualidade. Um desses lugares, é a região do Agachi, no município de Miranda, distante 203 quilômetros de Campo Grande.

Por lá, há registros oficiais da chegada das olarias à cidade nos anos 1950, mas a história contada no “boca a boca” garante que a prática é antiga, e teve início em 1920.

Um dos lugares responsáveis por “guardar” um pedaço dessa história, é o Museu do Agachi, localizado em uma propriedade que costumava ser uma fábrica de olaria, e que hoje funciona como destino turístico na borda do pantanal sul-mato-grossense.

O museu fica dentro de um dos fornos desativados da antiga fábrica, e se você pensa que só as chaminés já dão um charme a arquitetura do local, a cúpula dos fornos é perfeitamente simétrica, feita de tijolos enfileirados em círculo do chão até o teto.

Outro detalhe interessante, é que como a temperatura dentro da cúpula costumava ser muito alta, o calor, ao reagir com o material dos tijolos, fez com que várias partes ficassem cobertas por vidro.

Apesar de ser, literalmente, um forno, agora que está desativado dentro do espaço é sempre fresco, independente da temperatura que esteja fazendo do lado de fora.

Imagens da época de funcionamento da olaria, nos anos 1950 (Foto: Barbara Campiteli)
Imagens da época de funcionamento da olaria, nos anos 1950 (Foto: Barbara Campiteli)
Algumas das ferramentas recuperadas da antiga olaria (Foto: Barbara Campiteli)
Algumas das ferramentas recuperadas da antiga olaria (Foto: Barbara Campiteli)

Isso acontece porque a estrutura do piso dos fornos é feita de tijolos vazados, permitindo a passagem de um túnel por baixo, que suga o ar quente para as torres de chaminés da antiga fábrica.

Como dentro da cúpula é fresco, o museu também se tornou morada de morcegos frutíferos, que ficam na parte mais alta do teto, sem incomodar e se importar com os visitantes.

A história da antiga fábrica é um quebra-cabeça contada por várias pessoas. O local pertencia à família de imigrantes japoneses Ishii, que produziam “as melhores telhas da região”, conforme o guia local Edson dos Santos Rocha. “Eles conseguiram produzir uma telha muito boa, no sentido de que essa telha tinha tudo que era necessário para você ter um telhado com um isolamento térmico”, completa.

As primeiras telhas produzidas pela família Ishii possuíam um design que imitava muito os traços das telhas utilizadas na arquitetura japonesa (ver na imagem abaixo), e foram utilizadas, inclusive, para cobrir todo o teto do galpão da antiga fábrica.

Telha lembra construções tradicionais do Japão (Foto: Barbara Campiteli)
Telha lembra construções tradicionais do Japão (Foto: Barbara Campiteli)

No museu, contam registros oficiais da fábrica, assim como inúmeras fotografias da família, dos funcionários e da olaria em pleno funcionamento.

“Algumas coisas já estavam aqui quando nós compramos e a gente foi selecionando e guardando para montar o museu. Daí quando os antigos proprietários e as pessoas que começaram essa cerâmica, que são aqui da região, souberam que a gente estava fazendo um museu, eles contribuíram com algumas peças que eles tinham guardado em casa”, revela a sócia-proprietária da fazenda, Carmen Omizolo.

Algumas telhas produzidas na época, assim como uma parte do maquinário, também estão expostas para visitação. Algumas são de quando a fábrica não era “modernizada”, e tudo era feito de forma bastante artesanal, amassando e moldando a argila com as mãos, em instrumentos de prensa.

O museu está localizado na fazenda Pantanal Experiência, que fica a 20 quilômetros de Miranda e a 195 quilômetros de Campo Grande.

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